segunda-feira, 15 de julho de 2024

A Sinagoga Beit Sion em Santos

A fundação da Sinagoga Beit Sion, ou Synagoga Israelita de Santos, ocorreu em 28 de junho de 1934, de acordo com os seus “Estatutos e Regulamento Interno”, publicado em 1935. Como informado anteriormente neste blog, ainda na época da pandemia, em 2021, esta seria a primeira sinagoga da cidade de Santos. E tal informação pode ser considerada, ao se verificar o regulamento interno destes Estatutos: “Cada pessoa da Colônia Israelita de Santos que costuma reunir-se todos os annos, terá direito a uma cadeira reservada...” A reunião de uma comunidade, assim como a existência e permanência de uma sinagoga, anterior à construção de um edifício, ou aos seus registros oficiais, regulamentos, atas e estatutos, ocorreu em diversas comunidades judaicas, em várias cidades do Estado de São Paulo.

A Beit Sion foi formada pela comunidade judaica sefardi, imigrantes que chegaram à cidade de Santos nas primeiras décadas do século XX, provenientes do então Império Otomano, de cidades como Izmir (Esmirna), Antióquia, Ancara, Beirute e Yafo. Em Santos, além de trabalharem como mascates, atuaram no comércio e na praça cafeeira, como comissários, corretores, classificadores, assim como no Porto, muitos permanecendo na atividade ligada ao café até os dias de hoje. Pode-se citar as famílias Abuhab, Homsi, Sion, Eliezer, Curiel, Roditti, Rosa, Levy, Gammal, Carmona, Sarfati, Hazan, entre outras. 

Visitei esta sinagoga em julho de 2024, acompanhada por Adriana Abuhab Bialski, Carlos Homsi e Roberto Coelho, Carlos e Roberto são frequentadores da Beit Sion.

Carlos Homsi nos informou que o edifício foi construído em apenas trinta dias, e se mantém praticamente igual ao ano de sua construção. O jardim interno e a edificação são limitados por um muro branco (com duas faixas azuis e uma Estrela de David), que os separa da calçada. A fachada da sinagoga, nas cores branca e azul, segue estilo próprio, sendo composta por um vitrô em formato de Maguen (Estrela) David , inserido acima de uma porta azul, de duas folhas e de borda superior arredondada. Dois vitrôs verticais ladeando a porta complementam a fachada.

O acesso à sinagoga, através desta porta dupla, conduz o frequentador ao setor masculino. 

O espaço interno, composto pela Bimah/Tebah (púlpito com duas “mesas”), em um piso elevado e situado à frente do Aron Hakodesh/Hechal (armário com as Torót), não segue o modelo tradicional das sinagogas sefardim, comportando, no entanto, em suas extremidades, rimonim, objetos de enfeite das Torot. O Aron Hakodesh/Hechal em madeira escura, e com duas portas de correr, possui uma parochet (cortina) azul, bordada, em seu interior, a qual “protege” as Torot. Uma destas Torot, com capa marrom e com bordados dos nomes da família Curiel e da data de 1935, foi trazida de Izmir. Um entalhe em madeira, simbolizando as “Tábuas dos Dez Mandamentos”, situa-se acima do Aron Hakodesh, e é ladeado por colunas douradas, que aparentam dar suporte a diversos arcos, os quais circundam uma Maguen David. 

Esta Estrela possui a inscrição Beit Sion em letras hebraicas. Luminárias pendentes do teto, e janelas laterais iluminam o interior.

Neste piso, atualmente em granito, os bancos de madeira, bem conservados, foram mantidos. O mesmo ocorre no setor feminino, localizado no piso superior, em uma galeria ao redor da ala masculina, de onde é possível acompanhar as rezas.

Uma placa afixada na parede lateral esquerda do Aron Hakodesh datada de 1935 homenageia os beneméritos desta sinagoga: famílias Sion, Curiel, Hazan, Eliezer, Rosa, Roditti, Runes e Homsi.

Você faz parte das famílias que frequentavam ou que ainda frequentam a Sinagoga Beit Sion ou a Beit Jacob, em Santos? Você teria mais informações, histórias, memórias das famílias das comunidades judaicas que chegaram a Santos e ali se estabeleceram, e que gostaria de compartilhar? Conte um pouco, inclusive sobre o edifício, a construção, o espaço interno, como todos comemoravam as festas e o Shabat. Você possui fotos, documentos? Encaminhe um e-mail para myrinhars@gmail.com ou deixe um comentário neste blog. 

Aguarde novas fotos desta sinagoga


terça-feira, 9 de julho de 2024

A cidade de Santos e a Sinagoga Beit Jacob

O Estado de São Paulo recebeu imigrantes judeus de várias procedências, línguas e costumes.  A existência e a permanência da comunidade judaica deram-se, muitas vezes, a partir da fundação de sinagogas, criadas por conterrâneos da mesma aldeia ou cidade, e não por afinidade de correntes religiosas.

Na cidade de Santos há duas sinagogas, a Beit Jacob e a Beit Sion, ambas em funcionamento e frequentadas atualmente tanto por ashkenazim como sefardim.

Compartilho aqui detalhes sobre a Sinagoga Beit Jacob, alguns já publicados anteriormente, mas agora com informações recentes, e em que divulgo novas fotos, após uma visita realizada em julho de 2024.

A Sinagoga Beit Jacob, à Rua Campos Sales, na Vila Mathias, foi fundada em 1928 por judeus ashkenazim, procedentes da Europa Oriental. Essa sinagoga funcionou primeiramente na Rua Campos Mello, mudando-se para outro local, no mesmo endereço, junto à “escola ydish”. Já em 1946, a sinagoga transferiu-se para a Rua Campos Sales, endereço atual. “A casa foi comprada, reformada e depois de um ano demolida, para que fosse construída a sinagoga que existe até hoje. 

A primeira diretoria era presidida por sr. Samuel Ciocler, e tinha, como vice-presidente, sr.Jaime Cymryng, que chegou ao Brasil em 1928, trabalhando na cidade como mascate; o secretário, sr.Isaac Alperovitch; e tesoureiro, sr.Samuei Gandelman”. Estas informações constam do artigo “Histórias e Lendas de santos- Os imigrantes A colônia judaica” texto de Beth Capelache de Carvalho Equipe de A Tribuna. Mais detalhes em https://www.novomilenio.inf.br/santos/h0150.htm . 

O edifício da sinagoga, posicionado no limite da calçada, possui, em seu piso térreo, um amplo salão de festas. Na parede ao lado da entrada está afixada uma placa do Centro Cultural Israelita Brasileiro, fundado em março de 1946, escrita em idish, e em memória aos seis milhões de judeus mortos na II Guerra Mundial.

O acesso ao primeiro piso, o setor masculino, dá-se por um lance de escadas, ainda com o revestimento original em granilite verde. Neste setor, o piso em madeira, bem conservado, foi mantido, porém os bancos originais foram substituídos por cadeiras plásticas. 

Bimah (“púlpito”) ao centro, em um patamar elevado, é cercada por divisória em madeira, com desenhos formando “Estrelas de David”, e, em cada um de seus quatro cantos, há um candelabro. Aron (armário) Hakodesh situado na parede à frente da Bimah, guarda as Torót e Haftarót em seu interior. Destacam-se na parede acima desta as “Tábuas da Lei” ladeadas por leões, e os arcos em relevo. A galeria para as mulheres no piso superior é cercada por uma mureta, onde se podem ver os mazalót (signos do  zodíaco) pintados.

Boris Ber acrescentou a informação de que, através de intenso trabalho conseguiu junto a Moisés Safra um Sefer Tora novo para a Sinagoga, pois o original foi corroído pelos cupins com o passar dos anos, espero que esteja cuidado... E Fani Masch do Facebook (Fani Faingezicht) acrescentou um comentário após este post ser compartilhado: “Meu pai, tios e meu sogro foram fundadores, casei na Beit Jacob, em 1967. Meus pais Szapsa Aron Faingezicht e Sura Hopengarten Faingezicht, nascidos na Polônia, meu pai em Irena Denblim e minha mãe, Varsóvia.

Você teria detalhes das sinagogas santistas? Saberia dizer de quem são os projetos destas sinagogas, e quem pintou os mazalót da Sinagoga Beit Jacob, da Rua Campos Sales?

Escreva para myrinhars@gmail.com  , e conte sua história, relacionada à comunidade judaica santista,  e, também, de outras cidades do interior paulista.