quinta-feira, 26 de julho de 2018

Comunidade judaica, Bom Retiro e mídias sociais...

Jose Rosenblit, meu avô materno
origem: Bessarábia
clienteltchik 

Há muito tempo atrás, quando iniciei a pesquisa sobre as sinagogas da cidade de São Paulo, a participação, a colaboração e envolvimento dos antigos frequentadores destas eram, de alguma forma, reduzidos. Este fato deve-se, em grande parte, à dificuldade de divulgação do trabalho que realizava. Retomei esta pesquisa em outro momento, já nos tempos de internet e mídias sociais. E entendo que, através destas, está sendo possível a colaboração da comunidade judaica na coleta de informações e desenvolvimento deste projeto.

Sendo assim, é possível compartilhar as mensagens que estão sendo postadas sobre o Bom Retiro, seus moradores e sobre a nossa coletividade. Dêem uma olhada...

Por exemplo, no Facebook, na página do Guisheft Anuncios, em comentário relacionado ao post “Histórias compartilhadas sobre o Bom Retiro”  Fani Neustein escreveu: “Bons tempos o do Bomra”. 

Stelinha Berkiensztat contou: “Também nasci e cresci no velho Bonra. Boas lembranças do Jardim da Luz. Frequentei o Sholem Aleichem até os 9 anos, depois fui pro Renascença. Lá me formei professora, e trabalhei na pré-escola durante 35 anos. Meus filhos também estudaram lá, cresceram e se formaram. Frequentava a Sinagoga da Rua da Graça com meus pais e avós. Tenho muitas fotos, vou procurar...”

Marcio Kluger lembrou-se do Restaurante Europa e O Buraco da Sara. E enfatizou... “Bons tempos de Bonra”.

Jaqueline Kuhn também morou no Bom Retiro e Yomtov Pesso ainda mora no bairro...

Ana Leia Wajchenberg citou a Malharia Ouro, a Rua José Paulino. E completou: “Tio Max, irmão do meu avô...Toda minha família morou no Bom Retiro (parte de pai e de mãe). Meus avós maternos frequentaram a Sinagoga Talmud Torá da Rua Tocantins. Meu pai fez parte do coral da Beth-El e meu tio era o Chazan. O nome do meu avô era Dov Arie (Bernardo). A mãe da Anita Sueli Barenbein (Rozenbaum de solteira) era irmã do meu pai...Também morei na Rua General Flores...”. Ana Silvia Waichenberg comentou o que Ana Leia escreveu: “O seu tio Max era irmão do meu avô, Wolf Wajchenberg. O Chazan que você diz celebrou o casamento dos meus pais no Beth- El...”

Pessach Kauffman avisou que Rosely Grinblat, Tevy Feldman, Claudia Gm, e Eliane Korn podem ajudar com informações. E sugeriu procurar o Dr Reinaldo Klass, que poderá falar muito sobre o Bom Retiro. Anotou também Fabiane Klass.

Claudia (no Facebook, Claudia Gm) contou que o Restaurante Europa, na Rua Correia de Melo era dos sogros, originários da Polonia. O sogro sobreviveu a campo de concentração, e faleceu em 2011. Os pais de Claudia vieram do Rio Grande do Sul, os avós paternos nasceram na Polônia e os maternos da Lituânia. Claudia encaminhou diversas fotos. O sogro, sr. Laibu, o Mechale (que vendia gilete no Pletzale), o sr. Moyshe (dono do ponto do açougue da Rua Guarani com a Prates) e o sr. Gregório Hirsch (conhecido por Grisha), sr. Mayer (da Chevra Kadisha), e o garçon sr. Adhemar aparecem nestas fotos. Claudia contou a respeito de um livro azul, sobre o Renascença do Bom Retiro "na época em que este fechou", e que ganhou de Marly Ben Moshe, na ocasião em que esteve fazendo um site alusivo à escola. Lembra-se que o livro possuía muitas fotos do bairro. Alguém possui este livro?

Sr. Manu Muka (Menachem Mukasey) escreveu: “Estou morando do lado na Rua da Graça. A sinagoga Groise Shile, na Rua Newton Prado, já faz 102 anos. O shile da Rua Guarani está gravado na minha memória. Também tinha o mechale, já falecido, famoso, vendendo giletes, calendários, canetas. E a dona Ana dos beigales... Bons tempo que não voltam mais...”

Jacqueline Shargorodsky informou que o marido Braulio Shargorodsky viveu grande parte da sua vida no Bom Retiro:  “Lindas lembranças e amigos que teve!!! Meu marido e meu filho fizeram o Bar Mitzva no Grosse Shil. Muitas lembranças boas! A irmã do meu marido era psicologa do Renascença, e morou no Bom Retiro. Riva Sommerfeld! Agora mora em Israel. Bons momentos...” Jacqueline irá verificar se possui fotos!  

Sara Spuch nasceu e cresceu no Bom Retiro: “Uma vida com meus pais, construí minha família! Passeio no Jardim da Luz com meus filhos! Lindas lembranças!”

Michelle Goldenfeld afirmou: “Realmente só boas lembranças deste bairro, e do predio aonde moravamos na Rua Afonso Pena.

Sueli Farber lembrou que o avô, sr. Ioine Krasilchik, foi um dos primeiros líderes da comunidade. Fundou a primeira sinagoga (Rua da Graça).

Raquel Glicenstajn contou: “Adoro o BomRa, nasci, cresci, estudei minha adolescência toda, saudades de um tempo maravilhoso!!! Meu pai era médico e tinha consultório na Rua da Graça, era muito conhecido por todos. O Restaurante Europa era o almoço diário do meu sogro, que veio para o Brasil depois da Guerra. Estudei no Scholem Aleichem e lá fiz amigos que tenho até hoje. Saudades de um tempo que não volta mais . A família da minha mãe frequentava a Sinagoga da Rua Newton Prado”.

Rose Freifeld escreveu: “Meu tio Meyer também almoçava toda dia no Restaurante Europa!!!”

Bela Tamezgui contou: “Desde que nasci morei no Bom Retiro, Rua da Graça, Rua Newton Prado, Tocantins e General Flores, até 1981, quando mudamos de bairro. Eu, meu marido e meus filhos estudamos no Talmud Torá. Trabalhei sempre no bairro, 17 anos no escritório de Contabilidade Dawid Muller. Bom Retiro era um shteitel!” Henrique Berkiensztat foi colega de escola de Bela Tamezgui

Celso Fiszbeyn relatou: “Vivi minha infância e adolescência no Bom Retiro, na Rua Correa dos Santos, hoje rua Lubavitch. Bons tempos. Hoje quando vou ao Bom Retiro fico triste por ver que nada mais tem dos meus velhos tempos. Frequentamos o Groice Shill na Rua Newton Prado”. Vai pesquisar se encontra fotos.

No Messenger, Dri K Pekler passou o contato da mãe, Fany Klass: “Somos do Bom Retiro...”

Na página do Net Shuk, Priscila Uziel compartilhou que morou no Bom Retiro durante toda a infância: “O meu avô paterno vendia artigos religiosos, meu tio Rodolpho era médico e meu pai Isaac, professor de admissão, todos o conheciam. Não tenho fotos, eu frequentei o primeiro ano no Rena, depois fui para o Peretz, depois no ginásio fui para escola do Estado. A sinagoga que frequentávamos era a de Vila Mariana”.

Em minha página do Facebook, Yara Gurtstein registrou: “Lembro-me da Vila Anastasi (Rua da Graça). Vovó visitava uma amiga, confeiteira na época, seus quitutes de Bar-Mitzvah eram deliciosos. Também morava a Sra. Augusta, a casa ficava no final da Vila. Infelizmente não tenho fotos ou documentos. Eu era criança, e lamento desconhecer o sobrenome dessas senhoras”. E elogiou... “Continuo acompanhando seu belíssimo trabalho”. 

Yehuda Meir contribuiu com um link de um vídeo do Youtube, sobre o bairro: “Memória em Pedaços – Bairro do Bom Retiro” de Robson Camargo:  https://m.youtube.com/watch?sns=fb&v=YHsSgjlfRzM

Em Jews, Gina Harari sugeriu entrevistar o Sr. Chyia Szajnbok.  E Kadu Sampaio questionou quem conhece a papelaria do Hélio Joffe. Como disse, uma pessoa singular...

E você, o que poderia contar e compartilhar sobre o Bom Retiro, sua comunidade e sinagogas??? Registre aqui seus comentários, memórias, histórias...Compartilhe suas fotos no e-mail myrirs@hotmail.com

domingo, 22 de julho de 2018

Histórias compartilhadas sobre o Bom Retiro


Dov Ber (Berale) Rosenblit (Roizemblit)
meu bisavô - pai de meu avô materno
Sofer no Bom Retiro - 1a. metade do sec.XX
Muitas histórias sobre a comunidade judaica do Bom Retiro já foram publicadas e estão sendo compartilhadas por moradores e antigos frequentadores do bairro. No Boletim Informativo n.49, do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, o artigo “Lembranças do Bom Retiro”, de Fabio Rochwerger, apresenta sua história, na década de 1940, do momento em que morou na Rua da Graça e na Rua Prates, relata sobre sua família, seus amigos, sobre o Jardim da Luz, a Casa do Povo, Boris Cipkus, as peças de teatro...No Boletim n.30, de 2004, o artigo “Bom Retiro, cada um tem o seu”, de Estela Sahm esclarece que falar do bairro exige abordagens diferenciadas, configurando-o não apenas como território físico, mas também um lugar real e imaginário, de evocação do passado e suporte para um futuro possível na cidade, relacionando os dados e fatos com histórias e depoimentos pessoais. Interligar ou sobrepor percepções e memórias, construindo, como escreve Estela, por vezes, semelhantes e variados “Bom Retiros”, de convívio entre diferentes culturas e diversas procedências. Passeios no Jardim da Luz, bondes elétricos, jogos de várzea, mergulhos no Tietê, cadeiras na calçada e conversas entre vizinhos, marcando relações possíveis nos bairros de uma época, no século XX... Hoje em dia, o caráter do bairro se alterou, porém, como afirma a autora do texto “...a partir da análise apurada de seus recursos potenciais, que envolvem baixo grau de degradação, bom nível de mobilização comunitária e impressionante estrutura produtiva industrial”. O Bom Retiro, bairro na área central da cidade, de diversas ocupações em diferentes épocas, é parte do patrimônio de nossa história...Já no Boletim n.32, o artigo escrito por Sarah Feldman “As múltiplas faces do Bom Retiro”, apresenta a história deste bairro central e multicultural, a origem como bairro fabril, a zona de prostituição incrustada no bairro, o Bom Retiro como um centro de indústria e de comércio de roupas feitas. Nesta mesma série de Bolentins, na edição n.44, o artigo “O cotidiano do Banco Judeu do Bom Retiro”, uma entrevista realizada por Myriam Chansky e Ilda Klajman e com transcrição de M.Theodora da C.F.Barbosa, apresenta como era o cotidiano da Cooperativa de Crédito Popular, quem eram os seus funcionários e qual era a sua rotina bancária.

Quanto aos comentários realizados no Facebook, na última postagem sobre o Bom Retiro, em mensagem inbox, Daniel Gutemberg escreveu: “Incrível sua descrição: Bessarábia / Romênia / Hotin / Bom Retiro... a descrição exata da origem da minha família! Emocionante ler o seu texto, mas para mim vem seguido de uma certa melancolia. Lá se foram nem sei quantos anos da chegada dos meus avós, "só de Russia são 400 anos!" como dizia meu Pai, Z"L. Saudade do Bom Retiro, nunca mais será o mesmo. Saudade de um tempo que não volta mais. Íamos na Sinagoga da Rua da Graça. Pelo que sei hoje é um museu. A cadeira com o nome do neu avô está lá. Estudei no Sholem, no Lubavitsch e no Renascença, os três são lembranças hoje. Muito emocionante, mas de verdade me entriste. Acho que no fundo preferia que tudo tivesse ficado como era. Você entrava no Jardim da Luz, e sentia aquela sensação de ter saído de Sao Paulo. O Bom Retiro mudou. Talvez porque os judeus se mudaram. Ou porque as pessoas mudaram, o tempo passou. O nosso Schtetl mudou...”

Na página do Guisheft Anuncios, Ana Silvia Waichenberg contou que o  pai e familia moravam no Bom Retiro. O tio-avô Max Wajchenberg era dono da Malharia Ouro. A mãe era de Pinheiros. Lea Goldstein gostou do artigo: “Voltei ao passado onde tive uma linda infância”. Fany Klass contou que faz parte, até hoje, da história do Bom Retiro e Cleide Chusyd escreveu: “Você deve ter ouvido sobre a descoberta de objetos de pessoas que lá viveram, peças do início do seculo XX, em escavações, no Bom Retiro no dia 19/7”. Sobre isto falaremos no próximo post. Paula Stroh comentou: “O Bom Retiro é parte de mim, lá nasci e vivi até à idade de 10 anos...” Rose Freifeld contou: “Minhas tias Golde e Lesha também moravam no Bom Retiro e quando a gente visitava, sempre íamos na casa das tias, meu tio Manfredo ia para Sherit Hapleita, e depois pegava a gente na casa das irmãs. Eu não morava ali! A gente morava nos Estados Unidos, e isso foi quando visitávamos. Belas lembranças”. Simone Kauffman indicou a mãe, Flora Sheila Grinspan, que morou no Bom Retiro e deve ter histórias a contar. Marcio Kluger nasceu no Bom Retiro, lá viveu e trabalhou e tem “as melhores lembranças de lá !!!”, como comentou. Joel Ben Arie escreveu: “Eu  Bom Retiro”.

Em CCIB, Ciro Lakryc indicou Sarah Lakryc. E Sarah Lakryc comentou: “Morei na minha infancia no Bom Retiro. Adorei o seu comentário, vou procurar fotos e recortes de jornal sobre o Bonra, apelido carinhoso e enviarei para você...” Branca Kives Ostronoff contou: “Eu morei no Bom Retiro até casar. Estudei no Scholem Aleichem, e frequentei o Litfisher Shil, onde meu avô era o Shames. Eu nasci em 1943 e morei até 1964.

Na página de Memórias Paulistanas, Nadia Moroz escreveu: “Meus avós, com seus cinco filhos, foram dos que chegaram pelo porto de Santos em novembro de 1926, vindos da Bessarabia (Romênia). Aqui fixaram residência, criaram os filhos e escreveram sua história. Meus familiares não são do Bom Retiro. Fernando Bueno Rocha também contou: “Minha mãe, seus pais e um tio chegaram da Bessarabia em 1929, porém não eram de origem judaica, eram de origem búlgara. Meus avós não residiram no Bom Retiro...” Anderson Torres publicou: “É bom mesmo que a comunidade judáica valorize a contribuição que deu e continua a dar à nossa grande cidade. Viva o Bom Retiro e a comunidade judaica.” Waldemar M. Blanco Filho gostou do texto do post anterior.  E na minha página... Ingrid Birta elogiou o trabalho que venho realizando...”Parabéns, admiro muito seu trabalho”. Flavia Szafir Zvi indicou Sorella Yancovitz Englender e Claudia Broniscer E para completar, em Thora Judaismo e Sionismo, Hélio Lenin contou que nasceu e foi criado no Bom Retiro, e que lembra-se do Jardim da Luz, da foto publicada no post anterior...

E você, mora ou morou no Bom Retiro? Quais são as suas memórias, histórias, lembranças? Qual sinagoga frequentava ou ainda frequenta? Possui fotos e documentos? Deixe aqui seu comentário ou envie para myrirs@hotmail.com

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo preserva registros das histórias e cerimônias que ocorreram no Templo Beth-El


Cúpula restaurada do Museu Judaico de São Paulo
(Foto: Museu Judaico de São Paulo)
O Museu Judaico de São Paulo, a ser inaugurado em 2019 em local onde situava-se o Templo Beth-El, divulgou no Facebook a seguinte postagem: “O Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo está preservando os registros das histórias e cerimônias que ocorreram no Templo Beth-El. Documentos, imagens e vídeos estão à disposição do público. Você é nosso convidado a conhecer esse acervo, que está aberto de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, à Rua Estela Sezefreda, 76, Pinheiros.  Agende pelo telefone 3088.0879”. Ou também, envie um e-mail para atendimento@museujudaicosp.org.br

Nesta postagem vemos também a informação de que o Templo Beth-El realizou muitos casamentos e cerimônias de Bar-Mitzva nos últimos 70 anos. E solicita que, caso alguém tenha documentos ou imagens que possam ser doados, que entrem em contato. 

Em outra postagem, o Museu Judaico divulgou a cúpula do Museu Judaico de São Paulo, que aqui compartilho. Foi restaurada, de forma a mostrar como era originalmente o projeto do edifício do “Templo Beth-El, construído em 1932. A forma é de uma kipá, solidéu usado nas rezas na sinagoga. O prédio da sinagoga, que está sendo restaurado, e o prédio novo do complexo formarão o futuro Museu Judaico de São Paulo, lugar de encontros e conexões de histórias”. Em diversas páginas do Facebook, inclusive na de Thais Soltanovich Druker, este detalhe foi compartilhado, recebendo muitos comentários...

Então...vamos participar, encaminhando material sobre a Sinagoga Beth-El para o acervo do Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo???

terça-feira, 17 de julho de 2018

A comunidade judaica faz parte da história do Bom Retiro...

Jardim da Luz - aberto ao público em 1825 - Bom Retiro

A comunidade judaica faz parte da história do Bom Retiro... e fez parte, também, do progresso do bairro, a partir dos anos de 1910/1920, quando começaram a ocupar a região, provenientes do leste europeu, de países como Romenia (Bessarábia), Rússia, Lituânia, Polônia. Aportaram em Santos, como tantas outras comunidades que ali chegaram, e, de trem, desembarcaram em São Paulo, muitos deles na Estação da Luz. Alguns já chegaram no bairro em busca de parentes ou amigos que por ali moravam, outros sem conhecidos ou familiares. Exerceram atividades ligadas principalmente ao comércio, muitos inicialmente como Klientelchik, de comércio ambulante, com venda de objetos a prestação, realizados de porta em porta nas casas, trabalharam em confecções têxteis, abriram suas lojas. A imigração judaica intensificou-se também em decorrência da 2ª Guerra Mundial.

Jardim da Luz - nome atualfoi dado em 1916
Bom Retiro
Diversos artigos já foram escritos sobre a comunidade judaica do bairro. Um deles, já citado, publicado no “Almanaque da Folha”, em texto de Elaine Muniz Pires (do Banco de Dados, em seu Acervo on line), deixa claro que após os anos 1930, e “em uma década, a maioria dos moradores do bairro já era de origem judaica. Isto foi possível, por um lado, pela mudança de muitos italianos que preferiram morar em outros bairros...Por outro lado, para os judeus recém-chegados era conveniente morar numa região onde já estava instalada parte da comunidade, com suas escolas e sinagogas. Isto lhes conferia a segurança e auxílios como trabalho, moradia e crédito...”


Museu da Lingua Portuguesa- - Reconstrução
Estação da Luz
Paulo Valadares, no artigo “Os judeus de São Paulo”, publicado na Revista Morasha (Edição 69 - Setembro de 2010) relata que na segunda metade do século XIX, judeus vindos da França chegaram ao Brasil, mas sem a intenção de permanência. Estabeleciam-se por um tempo e, revendiam seu negócio e retornavam para a França. Sendo assim, “não criaram nenhuma instituição religiosa na cidade. Normalmente o culto era feito no seio da família”, escreve Paulo Valadares. E cita como um dos alsacianos que se celebrizaram na cidade Manfred Meyer (1841-1930), já indicado na postagem anterior. Quanto aos judeus, inicialmente vindos da Bessarábia (região da Moldávia e Romênia), muitos deles provenientes de pequenos shtetlach (povoados) rurais, chegaram ao Brasil por razões econômicas e perseguições religiosas. Inicialmente seguiram para os EUA, porém, por causa das cotas de entrada estabelecidas por este país, rumaram para Argentina e Brasil. Originários, em sua maioria do distrito de Hotin, as histórias pessoais assemelham-se: inicialmente um membro da família chegava ao país em busca de algum familiar ou conhecido da cidade de origem. Posteriormente, já estabelecido de alguma forma, ou exercendo algum trabalho, trazia, aos poucos os familiares, parentes e amigos. Buscava estabelecer-se na cidade e no bairro dos conterrâneos, no caso São Paulo... e Bom Retiro. Neste artigo podemos ler que a limitação do idioma e dificuldade de empregar-se resultaram na escolha da profissão de comércio ambulante (clienteltchik). A mercadoria, muitas vezes era fornecida em consignação. E os vendedores, ofereciam, de porta em porta, tornando-se involuntariamente o pioneiro na venda a crédito no Brasil.
Pinacoteca de São Paulo - Fundada em 1905
Está instalada no antigo edifício do Liceu de Artes e Ofícios
É o museu de arte mais antigo da cidade
Apesar de muitos terem começado na cidade de forma semelhante, o destino de cada clienteltchik foi, muitas vezes, diferente. Muitos properaram, abrindo lojas, alguns no ramo de móveis. Outros, na esperança de inserção e ascensão social, destinaram os seus ganhos para a educação dos filhos.
Quanto à comunidade em si, naquela época, os imigrantes passaram a se organizar da forma que o faziam na Europa. Reuniram-se, inicialmente a outros conterrâneos, formando um minian, em um salão ou casa para as rezas coletivas, muitas vezes, inclusive, comprando um Sefer Torah proveniente da Europa. Fundaram, em seguida, as sociedades de auxílio mútuo, organizações religiosas, sinagogas, escolas, publicaram jornais e revistas, construíram o cemitério...
O Bom Retiro, assim, cresceu e desenvolveu-se. A partir da década de 1960 o perfil do bairro passou a se alterar, pouco a pouco, com a mudança da comunidade judaica para bairros como Higienópolis e Jardins, e a chegada de sulcoreanos ao Bom Retiro. O Colégio Renascença, antes funcionando no bairro, acabou sendo transferido para Higienópolis, estando, hoje em dia, já em novo endereço.

Pode-ses citar, além do Renascença, várias instituições judaicas em funcionamento e outras que encerraram sua atividades no Bom Retiro: o Ten-Yad, o Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto, a Unibes, a Escola Talmud Thorá, a Escola Gani-Lubavitch, Yeshivót, a Escola Scholem Aleichem, o Taib, a Casa do Povo, Cooperativa de Crédito Popular, o Habonim Dror, Hashomer Hatzair, e também diversas sinagogas da cidade de São Paulo...tema desta pesquisa...

Como complemento para este post, seguem os comentários realizados no Facebook. Na página do Net Shuk, Perola Ventura contou que morou no Bom Retiro com os pais e irmãos. Escreveu: “Somos uma das famílias de fundadores da Sinagoga Ahavat Reim. Meu pai criou a primeira fábrica de casaco de couro do Brasil. Antigamente, os negociantes judeus e estrangeiros tinham as lojas, na Rua Mauá, da Luz. A mercadoria era de boa qualidade...” Elaine Howe contou, na página de Memórias Paulistanas, que sente saudades do Bom Retiro. E Magali Boguchwal Roitman comentou sobre um senhor que fazia doces na Rua dos Italianos, weifels em formato de triangulo.  No Blog, José Marcos Thalenberg escreveu: “Muito bom saber mais do meu Bom Retiro natal. Parabéns pelo trabalho!” Agradeço muito o comentário e a participação de todos...

E você...quais suas lembranças do Bom Retiro? Em que época morou no bairro? Estudou em escola judaica? Onde a família trabalhava? Qual sinagoga frequentava? E hoje, qual frequenta? Possui histórias a contar?  Compartilhe suas fotos, e documentos! Vamos preservar e resgatar as memórias das sinagogas de São Paulo!!!

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Identificação do bairro: O Bom Retiro

Mapa Digital da Cidade de São Paulo-Geosampa
http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx#

O Bom Retiro, um dos bairros do distrito do Bom Retiro, na região central da cidade de São Paulo, surgiu em meados dos anos 1820, sendo assim nomeado por ser considerado uma área nobre de sítios e chácaras.

Seu nome, provavelmente homenageia a "Chácara do Bom Retiro", uma das chácaras destinadas ao recreio e retiro de finais de semana, de famílias abastadas do século XIX, como a chácara do Marquês de Três Rios, sr. Joaquim Egídio de Souza Aranha. Nesta, situava-se o Solar do Marquês, mais tarde sede da Escola Politécnica da USP, e onde se hospedou a família imperial. Ainda hoje, o nome da Rua Três Rios permanece.

A instalação da Estrada de Ferro São Paulo Railway (antiga Santos-Jundiaí e hoje CPTM) e a inauguração da Estação da Luz, em 1867, marcaram o desenvolvimento do bairro, tornando-o passagem de imigrantes de várias origens que aportavam em Santos, principalmente italianos. Primeiros a chegarem por ali, os italianos eram atraídos pela possibilidade de emprego e por preços baixos dos terrenos, transformando o bairro em vila operária. 

A primeira Hospedaria dos Imigrantes, construída para atender a grande quantidade de imigrantes que chegava à cidade, passa a funcionar no Bom Retiro, a partir de 1882, onde hoje está situado o edifício do antigo Desinfectório Central, à Rua Tenente Pena, 100, logo após o término da Rua José Paulino. Em 1888 a Hospedaria dos Imigrantes foi transferida para o Brás. Sobre o Desinfectório Central, Douglas Nascimento, em seu site “São Paulo Antiga”, publicação de 25/11/2013, relatou ter sido inaugurado em 1893, e construído em uma época de pouco controle de pragas, doenças e de saneamento básico não adequado. O local da construção do imóvel era ocupado por um antigo sobrado, chamado de Bom Retiro. Em 1979, no local, foi inaugurado o Museu da Saúde Pública Emílio Ribas.

Mapa Digital da Cidade de São Paulo-Geosampa
http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx#

A urbanização do bairro do Bom Retiro ocorreu, principalmente, a partir da década de 1880, efetuando-se a separação, loteamento e arruamento de diversas chácaras e sítios, como as Chácaras “Bom Retiro” e “Dulley”, e o “Sítio do Carvalho”. Tais chácaras localizavam-se entre a linha férrea da São Paulo Railway e as várzeas dos rios Tietê e Tamanduateí. Nesse período, depósitos e diversas olarias surgiram na região, entre elas a maior da cidade, a do sr. Manfred Meyer, judeu alsaciano. Utilizavam-se da argila presente nas várzeas dos rios, que as inundavam constantemente. Instalada em 1859, a olaria do sr. Manfred Meyer, uma olaria à vapor, fornecia tijolos para a cidade. 

Como explica Paulo Valadares em artigo publicado na Revista Morasha (Edição 69 - Setembro de 2010), este senhor comissário-agente do Consulado francês, ao lado de suas obrigações diplomáticas, também mantinha atividades comerciais e industriais, e adquiriu, em 1860, num distante bairro rural de São Paulo, formado por chácaras para finais de semana dos mais abastados, o hoje chamado Bom Retiro, grandes lotes, onde montou a Olaria Manfredo, que forneceria material de construção para a cidade que se expandia a partir do Pátio do Colégio.”  Em 1869, esta olaria foi vendida a João Ribeiro da Silva

Da mesma forma que as olarias, grandes fábricas passaram a se estabelecer no Bom Retiro. Pode-se citar a Fábrica Anhaia (tecidos de algodão), a Cervejaria Germânia e a Ford do Brasil, de 1921, situada à rua Solon, no primeiro edifício do bairro destinado à instalação de uma linha de montagem de automóveis. Outro exemplo, como também indica Douglas Nascimento em seu site "São Paulo Antiga", é a fábrica de Licores e Xaropesde Michele Anastasi, que “entrou na empresa em 1906, quando adquiriu a parte pertencente a Giacomo Castignani. Foi aí que a Castignani & Toti passou a ser denominada Anastasi & Toti”. 

Nas últimas décadas do século 19, o processo de loteamento e urbanização do bairro se intensificou. Bairro operário no início do século 20, grande parte de suas ruas era formada por casas simples ou cortiços, e pequenos imóveis de serviços.
Como lemos na “História dos Bairros Paulistanos-Bom Retino”  do “Almanaque da Folha” em texto de Elaine Muniz Pires (do Banco de Dados, em seu Acervo on line), o comércio na antiga Rua dos Imigrantes desenvolveu-se, por ser passagem de quem vinha do centro da cidade, sendo exercido por imigrantes de diversas origens, entre eles os portugueses, turcos, sírios, libaneses. E foi na Rua José Paulino que o Sport Club Corinthians Paulista foi fundado em 1910. Também informa que o primeiro grupo escolar da região, o Marechal Deodoro, localizado à rua dos Italianos, data de 1912. A Escola Livre de Farmácia, criada em 1898, esteve situada a partir de 1905, à rua Três Rios, como parte da política sanitarista do fim do século XIX. Já como faculdade foi anexada à USP quando de sua formação em 1934. Atualmente o edifício é ocupado pela Oficina Cultural Oswald de Andrade.Trata-se de um bairro multicultural, com pessoas de diversas origens, principalmente italianas, gregas, judaicas, gregas, bolivianas... 
Para conhecer mais detalhes sobre o bairro, atualidades e histórias, leia os artigos e veja as fotos publicadas por Sérgio Beni Luftglas no site “Tudo de Bom Retiro - Fatos e Fotos do Bom Retiro”, indicado no link abaixo.
Você pode estar questionando...e quanto à comunidade judaica do Bom Retiro? Leia nas próximas postagens...
Fontes das informações:




segunda-feira, 9 de julho de 2018

Uma pesquisa..citando fontes...


Divulguem o Blog que escrevo e o Site que venho elaborando. E peço...citem a fonte, como o faço em minha pesquisa... :) 
https://artejudaicasaopaulo.blogspot.com/ e https://sinagogasemsaopaulo.wordpress.com/

Bancos da Sinagoga Mordechai Guetzenstein - Colégio I.L.Peretz


Video - Youtube - Sinagoga Mordechai Guertzenstein - Colégio I.L.Peretz


Bairro: Vila Mariana- São Paulo – SP – Brasil. Localização: Rua Madre Cabrini. Fundação em 1951. Situada no mesmo espaço do Colégio I.L. Peretz, Projeto: Mauricio Utchitel

District: Vila Mariana – São Paulo – SP – Brazil. Location: Madre Cabrini Street. Situated in the same space as the I.L.Peretz School. Founded in 1951. Project: Mauricio Utchitel

O edifício desta sinagoga possuía, em parte, a mesma configuração, formato e projeto às demais sinagogas do mesmo período em São Paulo. A entrada da sinagoga localizava-se na parede oposta ao Aron Hakodesh e à Bimah. A sinagoga situava-se no piso superior do edifício, e salas de aula, no piso inferior.  O acesso ao piso superior dava-se por 2 escadas laterais, que praticamente se uniam à entrada da sinagoga. A sinagoga era decorada por 2 candelabros sobre pedestais, um em cada lateral do Aron Hakodesh, dois leões ao lado das “Tabuas da Lei”, plaquinhas em metal nos objetos doados pelos frequentadores, piso em tacos de madeira, amplos janelões laterais. Bancos com apoios e nichos para guardar “Sidurim”e “Machzorim”. As plaquinhas de metal, fixas às cadeiras identificavam os proprietários dos lugares. Nas laterais da ala masculina, pisos um pouco mais elevados, e os mesmos bancos, no setor feminino. A sinagoga foi demolida. Os bancos de madeira foram doados para a “Sinagoga Israelita da Bahia”. O Aron Hakodesh e Parochet foram doados para a “Sinagoga Israelita de Ribeirão Preto”. Menorot, Torót e Keter provavelmente serão exibidos no Museu Judaico (em construção). Esses objetos estavam na “Escola I.L.Peretz” em agosto de 2016.

The building of this synagogue had, in part, the same configuration, format and design as the other synagogues of the same period in São Paulo. The entrance to the synagogue was located on the wall opposite Aron Hakodesh and Bimah. The synagogue was located on the upper floor and classrooms on the lower floor. The access to the upper floor was through two lateral stairs, which practically joined the entrance of the synagogue. The synagogue was decorated with two candlesticks on pedestals, one on each side of the Aron Hakodesh, two lions next to the Tablets of the “Asseret Hadibrót”, metal plaques on the objects donated by the goers, wooden floorboards, large side windows. Benches with supports and niches for “Sidurim” and “Machzorim”. The metal plaques, fixed to the chairs, identified the owners of the seats. On the sides of the male sector, slightly higher floors, and the same seats, for the female sector. Synagogue already demolished. The wooden benches were donated to the “Israelite Synagogue of Bahia”. Aron Hakodesh and Parochet donated to the “Israelite Synagogue of Ribeirão Preto”.