segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Imigrações judaicas para a cidade de Campinas

Há algum tempo questionei se alguém possuía informações sobre a imigração judaica proveniente da Alsácia-Lorena, e se havia, em São Paulo, alguma sinagoga ou comunidade judaica organizada pelos que dali vieram. 

Um artigo publicado nos Anais do V Encontro Nacional do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (São Paulo – 2014 – coordenação de Carlos Kertész), com o título “Os judeus da Alsácia-Lorena através de quatro entrevistas feitas pelo NHO - Núcleo de História Oral do AHJB, com Raymond Cahen, Henry Levy, George Worms e Yvonne Wolff Kahn”, de Anna Rosa Bigazzi, relata que Lucien Cahen, avô do sr. Raymond Cahen estabeleceu-se em São Paulo, e seu tio-avô foi para Campinas porque na época Campinas era o centro monetário da Província de São Paulo, e ao redor desta cidade existiam as fazendas de café. Porém, muitos dos que ali chegaram, pertencentes à comunidade judaica, mudaram-se para São Paulo, por causa do surto de febre amarela em campinas, em 1890. Em uma entrevista realizada em 14 de setembro de 1982 por Célia Eisembaum e Eva A. Baly, e publicada no artigo “Judeus no Brasil: os contraditórios e flexíveis caminhos da identidade” de Eva A. Blay, no Boletim Informativo n.33, do AHJB (Ano VII, de janeiro/abril 2005), sra. Guita Mindlin informou que o pai, originário da Bessarábia, chegou ao Brasil em 1890, e começou a trabalhar como mascate pelo interior do Brasil. Casou-se em Campinas, onde morou, chegando a abrir  a “Casa Kauffmann”. Mudou-se posteriormente para São Paulo. Sra. Guita nasceu na capital, porém as irmãs e “toda a família é campineira”...Mais um artigo do Boletim Informativo do AHJB , n.36 (Ano X, de novembro de 2006), “Dois vícios: judaísmo e futebol - Trajetória de um imigrante que foi para Campinas” escrito por Sueli Epstein, apresenta a trajetória de famílias que se fixaram em Campinas, incluindo uma foto da comunidade judaica da cidade, em 1940. Sueli Epstein descreve a trajetória do sr. Moisés Liberman, a partir de entrevista realizada por Paulina Firer. Sr. Moisés, nascido na Polônia, junto com a família fixou residência em Campinas em1931. Ali morou durante toda a vida. O pai trabalhou como mascate, tendo aberto, mais tarde, uma loja. A autora do artigo cita a pesquisa realizada por Elias Nascimento, sobre a comunidade judaica da cidade, inicialmente proveniente da região da Alsácia-Lorena e posteriormente da Rússia e Polônia. Afirma que os que lá chegaram, vindos da Alsácia-Lorena, não plantaram raízes suficientes em Campinas. A imigração judaica russa para esta cidade ocorreu no início do século XX, sendo composta por uma comunidade que mantinha sua identidade religiosa, e ao mesmo tempo era formada por muitos que havia completado seus estudos em universidades russas. Desta forma, conseguiram inserir-se no mercado de trabalho local. Já os imigrantes judeus que chegaram da Polônia, nos anos 1920/1930, muitos provenientes dos shtetl, trouxeram também o apego às tradições judaicas. Como sra. Sueli descreve, sr. Moisés Liberman frequentou a escola idish, e informa que a comunidade era ativa e religiosa, mas não ortodoxa, porém “houve um tempo, antes de 1930, que havia duas sociedades”. Interessante notar a observação no texto de que os judeus poloneses, quando chegaram a Campinas, entraram na cidade “com desvantagens em relação aos imigrantes russos que já estavam estabelecidos há mais de 20 anos...e já havia uma rivalidade entre as duas coletividades de imigrantes”, anteriores à chegada à cidade. Criaram, assim, a Sociedade Beth Jacob, pela coletividade russa, e a Congregação Israelita, pela comunidade polonesa. Uniram-se somente em 12 de outubro de 1927, como já divulgado no post anterior deste Blog, formando o Centro Israelita Beth Jacob. Havia ainda a Sociedade das Senhoras e a Cooperativa de Mascates. Em 1941, como pode-se ler no texto em questão, o Centro Israelita Beth Jacob recebeu o nome de Sociedade Israelita Beth Jacob de Campinas, passando a incorporar uma sinagoga e serviços religiosos. Uma foto desta sinagoga também está publicada. Sr.Moisés, depois de um período fora da cidade, ao cursar medicina, casou-se e retornou a Campinas, onde também participou da vida comunitária, como presidente e diretor da Sociedade e da B´nei B´rith, por longo período.(O AHJB é, hoje em dia, o Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo).

A pesquisa a que sra. Sueli Epstein refere-se, e da qual escrevi na postagem anterior, é “A comunidade judaica em Campinas: franceses, russos e poloneses (1870-1930)”, Dissertação de Mestrado de Ariel Elias do Nascimento  (IFCH - Unicamp, 2002, Campinas,  e artigo publicado em 28 de maio de 2020 - IHGG, Campinas). Ariel Elias do Nascimento escreve que para compor toda esta luta de preservação de cultura, foi necessário resgatar os primórdios da imigração para a cidade, de forma a percebermos as diferenças entre os judeus das diferentes origens e culturas que nela se instalaram: franceses, russos e poloneses...A vida judaica em Campinas, desde a chegada dos primeiros imigrantes, nos idos de 1850, confere particular diálogo de interação com a cidade e seus moradores, registrando-se constante convívio na área central da cidade, estabelecendo-se, porém, clara separação entre o mundo que transita as margens da porta de entrada dos ambientes e das moradas judaicas...”. Leiam o texto completo no link https://ihggcampinas.org/2020/05/28/a-comunidade-judaica-em-campinas-franceses-russos-e-poloneses-1870-1930/ : Ariel Elias do Nascimento. A comunidade judaica em Campinas: franceses, russos e poloneses (1870-1930) (Campinas: IFCH – Unicamp,Dissertação de Mestrado, 2002 e artigo publicado em 28 de maio de 2020 - IHGG Campinas).

O acervo da Biblioteca da FAUUSP, possui, em seus arquivos, alguns projetos de sinagogas. Um destes arquivos, é o “Estudo para a Sociedade Religiosa e Recreativa Beth-Jacob”, de Giancarlo Palanti, projeto de 1959  (P P172/725.3 BJ P32926), composto por 9 folhas e 2 anexos, sendo a Fl. 01, a planta do terreno, na escala de 1:200, a Fl.02 croquis, e Anexo Memorial Descritivo e bilhete. Detalhes a serem ainda verificados na biblioteca. Vejam o link: http://acervos.fau.usp.br/s/acervos/item?Search=&property%5B0%5D%5Bproperty%5D=3&property%5B0%5D%5Btype%5D=eq&property%5B0%5D%5Btext%5D=Sinagogas

Você teria alguma história a compartilhar sobre a comunidade judaica de Campinas, suas histórias, sinagoga? Possui fotos, memórias, histórias, documentos? E sobre as demais comunidades judaicas e suas respectivas sinagogas nas cidades de São Paulo? Vamos compartilhar? Deixe seu comentário, ou escreva para myrirs@hotmail.com


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

O centenário da Sinagoga Beth Jacob de Campinas, comemorado em 2014

Em um anúncio no site “Coisas Judaicas”, de 2014, lemos que a Sinagoga Beth Jacob de Campinas comemorou naquele ano seu centenário, sendo a data celebrada em ato solene, seguido de coquetel, no dia 30 de outubro, às 19:30h, à Rua Barreto Leme. Dêem uma olhada no link https://www.coisasjudaicas.com/2014/10/sinagoga-de-campinas-comemora-100-anos.html

Um vídeo sobre os 100 anos desta sinagoga, produzido e editado por Melina Mester Knoploch, com locução de Felipe Giersztajn (2014), está disponível no Youtube, e nos mostra a história da Sinagoga de Campinas, através de depoimentos, fotos e documentos. Este vídeo, “100 anos Sinagoga Beth Jacob de Campinas” de 18 de junho de 2017, esclarece que a sinagoga foi formada pela união das duas comunidades então existentes. Também relata que a 30 de outubro de 1914 foi fundado o Centro Israelita Beth Jacob e registrado em Cartório, conforme aponta a inscrição de 23 de janeiro de 1928, adquirindo a existência legal de pessoa jurídica naquele momento. A Ata, do dia 12 de outubro de 1927, apresenta a diretoria naquela ocasião, sendo o sr. Jacob Churquim o Presidente. Assistam o vídeo no link https://youtu.be/5p8sy1inaeU

O Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo (CDM) possui, em seus arquivos, a Coleção Arquivística Institucional da Sociedade Israelita Brasileira Beth Jacob – Campinas SP. Enquanto AHJB, tal arquivo recebia a nomenclatura CI0024. A ser consultada, assim que o CDM reabrir.

Diversos comentários, publicados no Facebook e compartilhados, ao longo do tempo, neste blog, apontam familiares da comunidade judaica de Campinas e de sua respectiva sinagoga.

Roger Piha contou: “Foi desta comunidade, em 1957, presidente sr. Leopoldo, depois foi Dr.Moises Liberman, grande cardiologista. Enfim, foi passado...”. E uma lembrança foi compartilhada: “Triste, acidente de ônibus lotado, voltando de Valinhos. Era 70% da comunidade, a 99% acabaram nos hospitais, muitos em casos gravíssimos. Só os mais velhos que vão se lembrar. Eu já vi que não têm ninguém daquela época...”

Rosa Ajl escreveu: “Muito Interessante esses relatos...Triste o episódio do acidente com o ónibus! Lembro-me bem do Dr. Moisés Liberman e esposa. Meu marido Marcio Ajl Z'L também Cardiologista, era Diretor juntamente com um grupo valoroso de médicos da Comunidade, cujo nome era Capítulo da Associação Médica de Israel, Mifal Haverut Hutz, cujo Presidente era o saudoso Dr. Bernardo Akerman Z'L. Esse Capítulo costumava reunir médicos para encontros científicos e sociais e intercambio com médicos de Israel. Sempre contávamos com a presença do Dr. Liberman e Sra., que vinham especialmente de Campinas para esses eventos. Boas recordações! Lembro-me de uma família, também de Campinas, que além de pacientes de meu marido, se tornaram também Amigos. René e Claudia Werner ou melhor, Rabino René Werner de uma linha mais reformista.

Sheila Bromberg contou: “Meu avô paterno foi um dos fundadores dessa Sinagoga...Moishe Leib Bromberg”

Como já divulgado, Sr. Jayme Kopelman nasceu em Marília, e os pais eram de origem polonesa. O pai chegou ao Brasil em 1932, também com uma “carta de Chamada”, indo direto para Marília, onde tinha amigos. Conseguiu comprar uma passagem de navio, “à prestação”, para a então namorada, que viria a ser a mãe do sr. Jayme, e que aqui chegou em 1933. Casaram-se em Campinas, cidade em que nasceu o irmão mais velho do sr. Jayme

Eliezer Molchansky comentou: “Boa noite MyriamParabéns pelo seu levantamento histórico de nossos irmãos em Marília e que muito me emocionouCheguei a Marília em 1967 no primeiro vestibular da FAMEMA Faculdade de Medicina de Marília. A minha procura foi maior por ocasião do feriado do Yom Kipur e acabei indo a Bauru numa pequena sinagogaMinha família é de Campinas e uma viagem de trem demandava 12 h e nem sempre podia vir

Celso Getz, como já publicado, havia escrito no Messenger do Facebook: “Boa tarde. Muito interessante o artigo sobre as comunidades do interior. Meus avós vieram da Polônia e foram para Araraquara. Desde 2013 saí de São Paulo e vim morar em Paulínia (SP) por motivo de trabalho e aqui frequentamos, desde então, o Beith Chabad Campinas. Onde moramos, em nosso condomínio tem 5 famílias judias. Também em Campinas, um de nossos amigos é sr. Júlio Pilnik que também tem avós com raízes em Araraquara

Bella Talerman Zilbovicius escreveu que a sua família Talerman era de Campinas...

Sueli Utchitel contou: “Tenho acompanhado sua busca pela história no interior, e resolvi escrever. Tenho e vivi muitas histórias, e algumas se confundem com algumas outras que meus parentes andaram escrevendo. Como são muitas variações, vou escrever um texto no word e depois anexo para você. Só para adiantar, minhas histórias têm a ver com o que Lisete Barlach escreveu há um tempo, e, também, sobre o que Josef Rewin escreveu. Nasci em Barretos, e hoje moro em Campinas. Tenho parentes em Piracicaba (que vou colocar você em contato). Também vou procurar fotos antigas.” Assim que Sueli compartilhar o texto, divulgarei neste Blog...

E Lucila Simões Saidenberg escreveu um texto sobre a comunidade judaica de Campinas, publicado no post anterior...

Mais informações sobre a comunidade judaica de Campinas também estão disponíveis em publicações. Vejam os artigos:

“Lugares de Memória: Os judeus na cidade de Campinas”, texto de Ariel Elias do Nascimento publicado na “Revista Labirinto” (Ano XVI, Vol.24, N. 2, Jan-Jun, 2016, Pág. 436-447) file:///C:/Users/myrir/Desktop/Os%20Judeus%20na%20cidade%20de%20Campinas.pdf

A comunidade judaica em Campinas: franceses, russos e poloneses (1870-1930)” (Dissertação de Mestrado de Ariel Elias do Nascimento, IFCH - Unicamp, 2002, Campinas,  e artigo publicado em 28 de maio de 2020 - IHGG, Campinas) https://ihggcampinas.org/2020/05/28/a-comunidade-judaica-em-campinas-franceses-russos-e-poloneses-1870-1930/

“Judeus em Campinas: retratos de “outros” estatísticos”, de Paulo Valadares (Unicamp- CMU- Saráo - Memória e Vida Cultural de Campinas, Vol.2, N.10 – julho 2004) https://www.yumpu.com/pt/document/read/12874331/judeus-em-campinas-unicamp 

“Presença judaica em Campinas no século XIX (1870-1890): uma primeira abordagem”, de Marcus Aurélio Albino Bastos (in. Boletim do Centro de Memória da UNICAMP, vol. 6, n. 12, 1994).

Detalhes sobre estes artigos serão divulgados em próximas postagens...

Deixe aqui seu comentário, sua história, memórias familiares, fotos documentos ou envie por e-mail para myrirs@hotmail.com

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

A comunidade judaica de Campinas - Lucila Simões Saidenberg

Lucila Simões Saidenberg, em junho de 2020, enviou-me por e-mail o texto abaixo, sobre a comunidade judaica de Campinas:

Pelo que sei, minha família, os Saidenberg, ajudaram a fundar a Sinagoga Beith Jacob de Campinas. Eu mesma frequentei a sinagoga com meus pais e meu irmão nos anos 1980, antes de fazer Aliá...voltei ao Brasil, e quero voltar a Israel...

Os Saidenberg, Abraão Zajdenberg, que era fotógrafo, a esposa Sora Chana e os filhos Elias e Salomão, fizeram o passaporte em Vilnius em 1922 e chegaram ao Rio no navio a vapor Andes em 13 de março de 1923. De lá, foram a Porto Alegre se encontrar com o irmão de Abraão, o cineasta Isaac Saidenberg, que chegou aos 13 anos em 1905. Acredito que ele veio com o projeto ICA do Barão Hirsh, mas não tenho certeza.

Quando meu avô Elias fez 18 anos, em 1932, ele pediu transferência da escola onde estudava em Porto Alegre para uma em Campinas, onde prestou os exames finais. Em seguida, se matriculou na Esalq, a Faculdade de Agricultura em Piracicaba. Formou-se engenheiro agrônomo em 1935.

Em 1934, em Porto Alegre, um grupo de imigrantes alemães fez uma reunião de apoio aos nazistas em um teatro de lá, e penso que isso foi demais para meu bisavô, que havia passado a Primeira Guerra toda na Europa. O fato é que, no ano seguinte, ele abriu um estúdio de fotografia em Campinas. A Foto Saidenberg durou apenas três anos. Ele faleceu em 1938, uma triste história, mas chegou a ficar muito conhecida e popular na cidade.

Mas antes de falecer, ele e a esposa, que no Brasil recebeu o nome de "Sonia", juntamente com outras famílias, fundaram a única Sinagoga de Campinas, a Beith Jacob. Voltando aos anos 1930, enquanto meu bisavô Abraão fotografava as famílias campinenses, meu avô Elias trabalhou como engenheiro agrônomo, e, durante a Segunda Guerra, coordenou toda a produção de seda do Estado de São Paulo. Ele visitava as cidades do interior, falava com os prefeitos e a população, distribuía mudas de amoreira e estabelecia viveiros do bicho, principalmente nas escolas. Era tarefa das crianças chegar de manhã com braçadas e mais braçadas das folhas para alimentar os bichos.

Essa seda gerava renda ao povo do interior do estado, e era depois vendida aos EUA para fazer os paraquedas dos soldados aliados. Com o fim da guerra e a libertação, alguns desses paraquedas foram transformados em vestidos de noiva e, subsequentemente, outras peças de roupa, por moças judias e gentias.

Outros nomes de famílias judaicas que me lembro são os Segal e os Zeituni. É uma comunidade pequena, mas unida e harmoniosa. A pessoa a contatar em Campinas é Andres Segal...

Gostei muito de participar.  Lucila Simões Saidenberg”

http://historiascomentadas.wordpress.com

 

Foto: Vista das oficinas de manutenção da Companhia Mogiana em Campinas. Decada de 1930.  Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (empresa estatal entre 1952 e 1971). Autor Assessoria de imprensa da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Esta obra está em domínio público no Brasil - foi encomendada pelo governo brasileiro antes de 1983 https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Companhia_Mogiana_Oficinas_de_Campinas_(D%C3%A9cada_de_1930).jpg