Há algum tempo questionei se alguém
possuía informações sobre a imigração judaica proveniente da Alsácia-Lorena, e
se havia, em São Paulo, alguma sinagoga ou comunidade judaica organizada pelos
que dali vieram.
Um artigo publicado
nos Anais do V Encontro Nacional do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (São
Paulo – 2014 – coordenação de Carlos Kertész), com o título “Os judeus da
Alsácia-Lorena através de quatro entrevistas feitas pelo NHO - Núcleo de
História Oral do AHJB, com Raymond Cahen, Henry Levy, George Worms e Yvonne
Wolff Kahn”, de Anna Rosa Bigazzi, relata que Lucien Cahen, avô do sr. Raymond
Cahen estabeleceu-se em São Paulo, e seu tio-avô foi para Campinas porque na
época Campinas era o centro monetário da Província de São Paulo, e ao redor
desta cidade existiam as fazendas de café. Porém, muitos dos que ali chegaram,
pertencentes à comunidade judaica, mudaram-se para São Paulo, por causa do
surto de febre amarela em campinas, em 1890. Em uma entrevista realizada em 14
de setembro de 1982 por Célia Eisembaum e Eva A. Baly, e publicada no artigo “Judeus
no Brasil: os contraditórios e flexíveis caminhos da identidade” de Eva A.
Blay, no Boletim Informativo n.33, do AHJB (Ano VII, de janeiro/abril 2005),
sra. Guita Mindlin informou que o pai, originário da Bessarábia, chegou ao
Brasil em 1890, e começou a trabalhar como mascate pelo interior do Brasil. Casou-se
em Campinas, onde morou, chegando a abrir a “Casa Kauffmann”. Mudou-se posteriormente
para São Paulo. Sra. Guita nasceu na capital, porém as irmãs e “toda a família
é campineira”...Mais um artigo do Boletim Informativo do AHJB , n.36 (Ano X, de
novembro de 2006), “Dois vícios: judaísmo e futebol - Trajetória de um
imigrante que foi para Campinas” escrito por Sueli Epstein, apresenta a
trajetória de famílias que se fixaram em Campinas, incluindo uma foto da
comunidade judaica da cidade, em 1940. Sueli Epstein descreve a trajetória do
sr. Moisés Liberman, a partir de entrevista realizada por Paulina Firer. Sr.
Moisés, nascido na Polônia, junto com a família fixou residência em Campinas em1931.
Ali morou durante toda a vida. O pai trabalhou como mascate, tendo aberto, mais
tarde, uma loja. A autora do artigo cita a pesquisa realizada por Elias
Nascimento, sobre a comunidade judaica da cidade, inicialmente proveniente da
região da Alsácia-Lorena e posteriormente da Rússia e Polônia. Afirma que os
que lá chegaram, vindos da Alsácia-Lorena, não plantaram raízes suficientes em Campinas.
A imigração judaica russa para esta cidade ocorreu no início do século XX,
sendo composta por uma comunidade que mantinha sua identidade religiosa, e ao
mesmo tempo era formada por muitos que havia completado seus estudos em
universidades russas. Desta forma, conseguiram inserir-se no mercado de
trabalho local. Já os imigrantes judeus que chegaram da Polônia, nos anos 1920/1930,
muitos provenientes dos shtetl, trouxeram também o apego às tradições judaicas.
Como sra. Sueli descreve, sr. Moisés Liberman frequentou a escola idish, e
informa que a comunidade era ativa e religiosa, mas não ortodoxa, porém “houve
um tempo, antes de 1930, que havia duas sociedades”. Interessante notar a
observação no texto de que os judeus poloneses, quando chegaram a Campinas,
entraram na cidade “com desvantagens em relação aos imigrantes russos que já
estavam estabelecidos há mais de 20 anos...e já havia uma rivalidade entre as
duas coletividades de imigrantes”, anteriores à chegada à cidade. Criaram,
assim, a Sociedade Beth Jacob, pela coletividade russa, e a Congregação
Israelita, pela comunidade polonesa. Uniram-se somente em 12 de outubro de 1927,
como já divulgado no post anterior deste Blog, formando o Centro Israelita Beth
Jacob. Havia ainda a Sociedade das Senhoras e a Cooperativa de Mascates. Em
1941, como pode-se ler no texto em questão, o Centro Israelita Beth Jacob recebeu
o nome de Sociedade Israelita Beth Jacob de Campinas, passando a incorporar uma
sinagoga e serviços religiosos. Uma foto desta sinagoga também está publicada.
Sr.Moisés, depois de um período fora da cidade, ao cursar medicina, casou-se e retornou
a Campinas, onde também participou da vida comunitária, como presidente e
diretor da Sociedade e da B´nei B´rith, por longo período.(O AHJB é, hoje em
dia, o Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo).
A pesquisa a que sra. Sueli Epstein refere-se,
e da qual escrevi na postagem anterior, é “A comunidade judaica em
Campinas: franceses, russos e poloneses (1870-1930)”, Dissertação de
Mestrado de Ariel Elias do Nascimento (IFCH - Unicamp, 2002, Campinas, e artigo publicado em 28 de maio de 2020 -IHGG, Campinas). Ariel Elias do Nascimento escreve que “para compor toda esta luta de preservação de cultura,
foi necessário resgatar os primórdios da imigração para a cidade, de forma a
percebermos as diferenças entre os judeus das diferentes origens e culturas que
nela se instalaram: franceses, russos e poloneses...A vida judaica em Campinas,
desde a chegada dos primeiros imigrantes, nos idos de 1850, confere particular
diálogo de interação com a cidade e seus moradores, registrando-se constante
convívio na área central da cidade, estabelecendo-se, porém, clara separação
entre o mundo que transita as margens da porta de entrada dos ambientes e das
moradas judaicas...”. Leiam o texto completo no link https://ihggcampinas.org/2020/05/28/a-comunidade-judaica-em-campinas-franceses-russos-e-poloneses-1870-1930/ : Ariel Elias do Nascimento. A comunidade judaica em Campinas:
franceses, russos e poloneses (1870-1930) (Campinas: IFCH – Unicamp,Dissertação
de Mestrado, 2002 e artigo publicado em 28 de maio de 2020 -IHGG Campinas).
O acervo da Biblioteca da FAUUSP, possui, em seus arquivos, alguns projetos de sinagogas. Um destes arquivos, é o “Estudo para a Sociedade Religiosa e Recreativa Beth-Jacob”, de Giancarlo Palanti, projeto de 1959 (P P172/725.3 BJ P32926), composto por 9 folhas e 2 anexos, sendo a Fl. 01, a planta do terreno, na escala de 1:200, a Fl.02 croquis, e Anexo Memorial Descritivo e bilhete. Detalhes a serem ainda verificados na biblioteca. Vejam o link: http://acervos.fau.usp.br/s/acervos/item?Search=&property%5B0%5D%5Bproperty%5D=3&property%5B0%5D%5Btype%5D=eq&property%5B0%5D%5Btext%5D=Sinagogas
Você teria alguma história a compartilhar sobre
a comunidade judaica de Campinas, suas histórias, sinagoga? Possui fotos, memórias,
histórias, documentos? E sobre as demais comunidades judaicas e suas respectivas
sinagogas nas cidades de São Paulo? Vamos compartilhar? Deixe seu comentário,
ou escreva para myrirs@hotmail.com
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