quinta-feira, 30 de junho de 2016

A Comunidade Judaica em São Paulo nas primeiras decadas do sec.XX

Os serviços religiosos ashkenazim, durante anos foram realizados em domicílios. O primeiro rabino de São Paulo, Dr. Samuel Edouard da Costa Mesquita, chegara na cidade, em 1860. Somente a partir de 1912, passaram a ter espaço próprio, a Kahalat Israel, na Rua da Graça. Esta previa o estabelecimento de um cemitério e cooperativa. “Certamente houve serviços religiosos em São Paulo, no século XIX, pois Dr. Samuel E. da Costa Mesquita exerceu funções de rabino até seu falecimento, sendo as rezas provavelmente realizadas em casas particulares.”(Wolff,Egon e Frida: Guia Histórico da Comunidade Judaica de São Paulo. São Paulo, Editora B’nei Brith S/C, 1988).

Em relação à comunidade sefaradi, no início do século XX, conflitos armados e falta de perspectiva de trabalho no Império Otomano colaboraram para a emigração desta para a América., inicialmente não para o Brasil, mas sim para Argentina e Uruguai, por facilidade da língua. Foram também atraídos pelo dinamismo comercial do eixo São Paulo- Santos, além do Rio de Janeiro, e chegaram ao país sem apoio político ou ajuda de qualquer organização imigratória. A cidade de origem definia os laços básicos entre os que aqui chegavam. Ocuparam bairros como Consolação, Bela Vista e Jardim Paulista, integrando-se na cidade.

A entrada maciça de imigrantes judeus ocorreu no período entre-guerras . Em 1923, a Argentina fechou suas fronteiras aos imigrantes, por pressão dos sindicatos operários. Medidas restritivas semelhantes foram adotadas nos EUA e Canadá. Em conseqüência, o fluxo de refugiados da Europa Oriental e Central (piora de situação econômica, regimes totalitários), orientou-se para o Brasil, principalmente para a região centro-sul, em especial para São Paulo e Rio de Janeiro.

1901: Rua dos Imigrantes, atual José Paulino, no Bom Retiro.
Em destaque, o estábulo destinado aos burros
 utilizados nos bondes a tração animal.
Foto: Guilherme Gaensly – Acervo FES

Os judeus da Europa Ocidental que chegavam a São Paulo já estavam acostumados com a organização liberal da sociedade. Os do leste europeu, provenientes de Shtetl- aldeias da Polonia, Lituania , Bessarabia... - traziam a estrutura comunitária da Kehilá, tradicional e centralizada, com líderes que cuidavam da manutenção das instituições. 

Não havia unicidade, convivendo subgrupos e polarização em relação aos rituais religiosos e culturais. Sinagogas eram formadas segundo a origem nacional e não reunidos em torno de correntes religiosas. De alguma forma, fortaleceu-se a comunidade, descentralizando e possibilitando autonomia a cada grupo.


Durante este período, formaram-se núcleos habitacionais judaicos compactos entre si, em bairros ou subúrbios, fora do Bom Retiro. Muitos eram contra o que chamavam de  “espírito do gheto”. Outros mudavam para atender a outra clientela mais pobre, ou para estar mais próximo dos locais de trabalho (apesar de ser mais fácil morar no Bom Retiro- equipamentos sociais e culturais judaicos). Em outros bairros a concorrência era menos volumosa e menos acirrada. Havia núcleos judaicos no Brás, Cambuci, Ipiranga, V. Prudente, Penha, Moóca e Pinheiros. Estes “entrepostos” judaicos gravitaram em torno do Bom Retiro até certa época, quando começaram a organizar suas próprias escolas e sinagogas, mas não clubes recreativos ou sócio-políticos.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Um pouco sobre a Comunidade Judaica no Basil até o inicio do sec.XX

A manutenção da cultura judaica em terras brasileiras seguiu o caminho de outros países-reconstrução interativa com a sociedade e uma dinâmica variada, condicionada às experiências culturais de cada grupo. Desde o descobrimento do Brasil até a época presente, os judeus, de forma aberta ou disfarçadamente, estiveram integrados nos processos de formação do país.

Do ano de 1578 até 1582 as Atas da Câmara de São Paulo faziam referência à presença de “judeus cristãos” na população da Vila. Com a Visitação do Santo Ofício à Bahia, os judeus migraram, uma parte para São Paulo, parte para Nordeste e parte para o Sul. Neste período, ocorreram perseguições aos "judaizantes", sendo estes julgados pela corte de Lisboa.

Já em 1636, com a chegada à América  dos primeiros judeus não convertidos,  fundou-se as Congregações Tsur Israel e Maguen Abraham, em Pernambuco. Os judeus de Pernambuco  providenciaram a vinda da Holanda do líder espiritual, Isaac Aboab da Fonseca, e do "chazan" Moisés Rafael de Aguiar. 

Os judeus do Brasil, expulsos em 1654 retornam, parte para Holanda, parte para o Caribe, Antilhas  e Nova Amsterdã, participando da fundação de Nova York

A partir de 1770 a vida judaica no Brasil passou a beneficiar-se de um liberalismo crescente, reflexo das mudanças realizadas pelo Marquês de Pombal, em Portugal, onde a Inquisição acabava de entrar em seu último período.

Em 1810, D. João VI , regente português, no Brasil, firma o Tratado de Amizade e Paz, concedendo liberdade religiosa aos não católicos, incentivando o ingresso de judeus ingleses, alemães e da Alsácia- Lorena, e iniciando a imigração judaica ao Brasil.  

Judeus marroquinos chegaram à Amazônia, atraídos pela extração de borracha, tendo alargado com o tempo o seu campo de atividades, no comércio interno, no de exportação e importação, especialmente de tecidos, como tambem no setor da navegação e da exploração de seringais, participação nas atividades públicas e no exercício de cargos oficiais. Em 1828 fundaram a Congregação e Sinagoga Shaar Hashamaim.

Em 1867 chegou a São Paulo e ao Rio de Janeiro a organização Zwi Migdal, permanecendo socialmente isolados pela coletividade judaica nascente, que com eles não queria ser confundida (eram conhecidos como tméim- impuros ou linke - esquerdos).

No começo do século XX, dentro do processo de colonização agrícola, o Barão Hirsch, através da Jewish Colonization Association, fundou no Rio Grande do sul duas colônias agrícolas. Grandes correntes de imigração até a I guerra dirigiram-se para os EUA e Argentina. Poucos até esta época seguiram para o Brasil. Eram os pequenos comerciantes, ambulantes vindos da Europa Oriental, por falta de condições, pessimas condições de vida e enraizados em sua cultura tradicional.

Porém em 1910, já existia no Brasil uma coletividade judaica em potencial, que praticamente abarcava todo o território nacional; uma rica infra-estrutura, sobre a qual viriam em breve apoiar-se as vastas e homogêneas ondas imigratórias do leste europeu - Bessarábia, Ucrânia, Polônia, Lituânia, Romênia- consolidadoras da moderna coletividade israelita do Brasil.

O Bom Retiro, em São Paulo,  primeiramente italiano, passou a receber, no inicio do século XX, contingente judaico da Europa Centro Oriental. Buscou-se, neste período, a reconstrução interativa com a sociedade...

Ida Rebeca Lafer (sentada, à frente, segunda ä direita),
na escola, Alemanha, 1922

Neste cenario chegaram a São Paulo, vindos de Berlim, meus bisavós, Ana Bergman Lafer e Luis Salomão Lafer, juntamente com os 2 filhos, Fany e Rubin. 

Haviam sido chamados pela familia, que aqui ja estava estabelecida. Minha avó, Ida Rebeca Lafer (Rosenblit), nasceu em São Paulo em 1913.

Retornaram a Berlim pouco depois do nascimento de minha avó. 

Ela contava que seus pais sentiam falta da vida religiosa a que estavam habituados, guardavam o Shabat e festas judaicas, comiam comida  Kasher...



quarta-feira, 22 de junho de 2016

A Arquitetura da Sinagoga Contemporânea:

A Arquitetura da Sinagoga Contemporânea:

E aqui completo um pouco da historia das Sinagogas...

Sinagoga d'Avignon, site wikipedia
A maioria das sinagogas do século XIX  e início do século XX caracteriza-se por poucas alterações em relação aos períodos anteriores. Projetados por arquitetos não judeus, os edifícios baseavam-se em concepções religiosas destes, adaptadas às necessidades do rito judaico. Tentativas de alteração no traçado , como a Sinagoga em Viena( 1824), de planta oval, e a Sinagoga em Avignon(1846), circular, surgiram ainda num período que prevalecia o estilo de basílica romana.
A Sinagoga de Londres caracteriza o período da primeira metade do século XIX: disposição basilical, Arca  e Bimah (ao centro) alinhados, galeria feminina de traçado simétrico, estilo formal.A Sinagoga de Paris e de Budapeste são também exemplos da época.
As primeiras sinagogas americanas, no século XVIII, não demonstravam exteriormente o uso a que se destinavam. Passaram, contudo a tomar novas formas exteriores, no final do século XVIII, aonde a simplicidade deu lugar a monumentalidade, proporcionada pela posição de igualdade do colono judeu em relação aos outros colonos. O estilo adotado era o mesmo que estava “em moda” na época, podendo ser o grego, o egípcio, ou georgiano, muitos derivando de construções pagãs. Muitas  sinagogas deste período caracterizaram-se pela miscelânea de padrões ou detalhes.
Sinagoga de Berlim
Na Europa deste período, muitas sinagogas seguiram estilo egípcio, árabe, mourisco, bizantino, românico ou  gótico. A sinagoga de Berlim de 1859-66, um projeto com cúpula em estilo bizantino, comportando 3000 assentos, possuía detalhes mouriscos.
Em relação aos materiais adotados, diversos tipos foram usados na mesma construção.
Houve, no século XIX, a adaptação de algumas igrejas para fins judaicos, inversão da tendência comum nos países onde os judeus eram oprimidos. Tal situação ocorreu como conseqüência da imigração, das relações amistosas entre as comunidades e da falta de recursos de comunidades modestas para construírem suas sinagogas.
Durante este período também ocorreram  mudanças na proposta da planta e traçado das sinagogas. Com a fundação da primeira sinagoga reformista, em 1818, em Hamburgo e a revisão dos serviços religiosos seguidos por estes, o traçado basilical foi posto em questão. A importância do rabino assume outra dimensão, o sermão ganha importância e o coro e órgão são introduzidos, assemelhando-se em parte à prática cristã. A plataforma- Bimah- posição ocupada pelo rabino passa a se situar juntamente com a Arca. Esta disposição acabou por não se limitar às sinagogas reformistas. A concentração em uma das extremidades gerou a necessidade de maior visibilidade, reconfigurando o desenho da parte interna da sinagoga. O traçado em cruz ou abobadado quadrado permitiam a proximidade à plataforma e maior número de pessoas. No século XX, a disposição em forma de auditório, com o piso inclinado, boa acústica e iluminação, a introdução de uma galeria para o coro, a abolição da separação homem/mulher, nas sinagogas reformistas, provocaram transformações do traçado tradicionalmente aceito por mais de dezesseis séculos. Nos EUA, muitas sinagogas, externamente, assumiram a aparência de igrejas e o ritual em parte foi alterado, valorizando-se algumas rezas especiais e músicas. Comunidades com maior poder aquisitivo e o fim de muitas restrições à população judaica permitiram que a parte artística e de ornamentação se desenvolvesse, ressurgindo, em alguns casos antigos estilos-  por exemplo a ornamentação em flores. Sinagogas abobadadas passaram a adotar o concreto armado. A arte figurativa passou a ser aplicada, e em muitos locais abandonou-se a antiga convenção do direcionamento da parte frontal da sinagoga, tradicionalmente voltada para Israel. 
Muitas sinagogas deste período, que seguiram o estilo Clássico, Renascentista ou Barroco, passaram a ser executadas em estruturas de aço ou concreto armado, quando isto representava solução mais econômica ou melhoria na construção. Dificilmente isto ocorria como nova concepção de projeto, apesar de materiais como o ferro oferecerem facilidade na cobertura de espaços.
 http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/fa267/sullivan.html
No final do século XIX e século XX, as construções abandonaram o estilo eclético e os novos materiais, como o concreto armado, foram absorvidos nos novos projetos arquitetônicos, agora fazendo parte do de desenho simplificado. A Sinagoga Kehilat Anshe Maariv, de Chicago, projetada por Adler e Sullivan  em 1890 e que rompeu com o estilo eclético, é um exemplo deste período.
O Modernismo na Alemanha  produziu em Hamburgo uma sinagoga liberal, em 1931, em paredes lisas e sem ornamentação ou adornos, extremo oposto das sinagogas projetadas anteriormente. As sinagogas da Europa do período entre- guerras, assinalam, assim,  o total rompimento com o estilo oriental.
Após a Segunda Guerra Mundial, os projetos ganharam um estilo mais monumental, preocupado também com a beleza natural da região onde se situava, criação de novos desenhos, formas curvas e uso de materiais locais. Exemplos nos EUA, das comunidades mais prósperas e de maior crescimento, na época, revelam uma mudança no planejar da sinagoga. A função de casa de orações, locais de estudos e de reunião, gerou centros comunitários e sinagogais com um novo traçado. Passaram a abrigar saguão, templo de orações, salas de estudo e reunião, bibliotecas, cozinha e escritórios administrativos situados , sempre que possível, em ambientes naturais.

Eric Mendelsohn foi um dos arquitetos de renome na época, nos EUA, tendo planejado uma série de centros judaicos: Sinagoga Park, em Cleveland (um templo abobadado), Centro Judaico de Baltimore, de Saint Paul e Dallas. As sinagogas menores, deste período, mostram-se economicamente planejadas, projetadas por arquitetos da comunidade, tais como H. Meyer, Goodman ou Abramovitz. O uso de vitrais, tecelagem, pinturas, de materiais básicos produz novas soluções. Exemplos ocorreram também na Europa, tais como as sinagogas reconstruídas na Alemanha, ou mesmo em Londres. Estilos universais deixaram de ser impostos artificialmente, passando a considerar-se e refletir-se na aparência e resultado final, o ambiente, clima e entorno da região aonde surgiram. 

Sinagoga Yeshurun, Jerusalem
A Sinagoga Yeshurun, de Jerusalém, com suas diminutas janelas, ajustam-se à forte luz solar do país.
Frank Lloyd Wright, discípulo de Sullivan e Adler, chegou a desenhar uma sinagoga com cúpula de vidro, exemplo seguido por outros arquitetos não judeus, motivados a desenhar também uma sinagoga...


Esta característica, a arquitetura funcional, no entanto, tornou-se presente nos projetos das sinagogas do século XX.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Continuamos no Periodo Medieval e Pré-Emancipação: Espanha, Paises Orientais, Italia...

Sei que estes textos que tenho postado tem sido um pouco longos e detalhados. Contam, de alguma forma, e resumidamente, a história das sinagogas e a sua arquitetura. Considero, no entanto, que possam ser uteis para entender os projetos, partidos arquitetônicos, construção e história das sinagogas no Brasil e em especial, em São Paulo. Assim, continuarei escrevendo mais alguns tópicos...

Continuamos no Periodo Medieval e Pré-Emancipação.

Sinagogas da Espanha:
A comunidade judaica da Espanha desenvolveu uma tradição própria. 
Suas condições locais permitiram o desenvolvimento de um tipo específico de sinagoga, que contribuiu para o posicionamento dos dois pontos principais do edifício: Bimah e Arca.
Influenciados pelos mouros e combinando elementos góticos, decoravam as paredes com versos bíblicos escritos com caligrafia apurada. As sinagogas de Toledo são exemplos deste período. A sinagoga construída no século XII por Ibn Shushan é modesta em seu lado externo e detalhada no lado interno: arcadas sustentam um teto de madeira, colunas octogonais e adornos. Esta, mais tarde, tornou-se a igreja de Santa Maria la Blanca. A sinagoga de D. Samuel Abulafia, de 1356, possuía paredes decoradas com folhagem e versos dos Salmos, o mesmo ocorrendo na ala feminina. A Bimah (Tevah), ficou posicionada no lado oposto ao do Aron (Hekhal), ao longo do eixo longitudinal.

Sinagogas nos Países Orientais e da Diáspora Espanhola:
Posteriormente à expulsão dos judeus da Espanha, em países como Holanda, Inglaterra e sul da França, não houve alteração do modelo espanhol, porém a Grande Sinagoga da comunidade portuguesa em Amsterdã, de 1671-75 foi influenciada pelas igrejas holandesas. Seguiu-se também um padrão para a ala feminina, em três lados da ala, deixando livre apenas a extremidade destinada à Arca. As sinagogas dos países muçulmanos foram construídas adaptando-se soluções locais ou estrangeiras, de mesquitas.

Scolas Spagnola, Cuneo, Levantina, di Genova
Sinagogas da Itália:
A busca do equilíbrio de posicionamento da Bimah em relação ao Aron Hakodesh prosseguiu. Os judeus preservaram a tradição local, desde o início da Era Comum, mas também absorveram judeus ashkenazim e os sefaradim expulsos da Espanha.Assim, a arquitetura das sinagogas recebeu influências diversas. Manteve-se o traçado interior, aonde a Arca e a Bimah eram colocadas em posições opostas (bipolar). Porém, em termos de construção ou estruturalmente, no lado externo do edifício, nada de novo foi introduzido: abóbadas monásticas ou cilíndricas, ou formas de construção da Renascença ou Barroco. A ornamentação decorativa, preenchendo as paredes ou o teto, era de alto padrão e habilmente executada.
O posicionamento bipolar tomou forma definitiva somente nos séculos XVI e XVII. Na maioria das cidades italianas, colocou-se a plataforma da Bimah na parede oposta, elevando-a. Os degraus de acesso permitiam variações decorativas, no estilo barroco. A sinagoga sefaradi de Veneza, cuja construção iniciou-se no século XVI, marcou o período . Possuía um exterior modesto e um rico interior. A ala feminina, por exemplo ,cercava todo o recinto, em uma galeria elíptica.

Este período, da Idade Média e pós Idade Média, foi marcado por soluções independentes e originais que permaneceram, de certa forma, até os dias de hoje.

domingo, 19 de junho de 2016

Sinagogas de pedra de quatro pilares, Sinagogas polonesas de madeira

Sinagogas de pedra de quatro pilares:
O início do século XVI, na Polônia principalmente, marcou o final da Idade Média. O isolamento dos judeus neste período já era acentuado, tinham o seu próprio ambiente cultural e espiritual, sua arte e artesanato, atingindo um nível distinto de expressão de seu mundo, do seu modo de pensar e agir. Buscaram, neste momento, uma forma arquitetônica própria, condizente com a religiosidade em que viviam. Coube ao “construtor” solucionar a dificuldade de acentuar a posição central e a importância da Bimah: a definição de um espaço gerado por necessidade da comunidade. O resultado encontrado determinou a ligação da Bimah com a construção em si: uma sinagoga em pedra, de quatro pilares e sem suportes no centro, uma cúpula e uma Bimah abaixo desta. Esta solução arquitetônica é própria da comunidade deste período e independente das influências do entorno. Buscou-se ainda a integração da Bimah como o centro no sistema construtivo. Esta passou a situar-se dentro de uma construção central (quatro pilares) que suportava uma abóbada: um espaço definido dentro de outro espaço. A sinagoga de Pinsk é um exemplar deste período. O exterior, no entanto continuava baseado nas condições locais e arquitetura da época: sinagogas em forma de fortaleza, quando construídas fora dos muros das cidades; ou as não fortificadas, de aparência simples.

Exemplos de sinagogas que adotaram esta solução estão presentes não só na Polônia, mas também na Rússia, Lituânia e Alemanha. Em Israel foram introduzidas e aceitas, em cidades com Jerusalém, Tzfat e Hevron.

Grodno, Poland , Yad Vashem Photo Archive, 198AO
Sinagogas polonesas de madeira:
A sinagoga de madeira é uma expressão judaica desenvolvida a partir da metade do século XVII, influenciada pela arte polonesa e por um padrão estrutural de templos antigos eslavos. A madeira, no entanto, era geralmente utilizada nas aldeias e estas sinagogas foram projetadas e executadas por artesãos e artistas judeus habituados ao trabalho com este material. Pinturas murais, de cores brilhantes e traçado simples e rico entalhes estavam presentes nestas sinagogas. A ala feminina constituía-se de um anexo ou uma galeria interna e um quarto de inverno servia de abrigo para dias muito frios. A tradição das sinagogas de madeira espalhou-se para o Ocidente, até a Alemanha.

Como podemos ler no artigo da Revista Morasha, edição 53 de junho de 2006, "Construídas por todo aquele território, especialmente na Polônia, Rússia, Lituânia, Ucrânia, durante os séculos 17 e 18, as sinagogas de madeira se tornaram um marco na arquitetura judaica e na arte litúrgica. Estima-se que até o início do século 20, mais de mil tenham sido erguidas. Ademais de sua importância religiosa, nacionalista, histórica e etnográfica, destacam-se por seu excepcional valor artístico..." leia mais em http://www.morasha.com.br/arte-e-cultura/sinagogas-em-madeira.html 

Período Românico e Gótico na Europa, Renascentistas e Barrocas na Galícia e Boemia

Sinagogas no Período Românico e Gótico na Europa
Diferentemente da forma espacial das igrejas da época, isto é, basílicas medievais com uma nave longitudinal e duas alas, os judeus basearam as construções das sinagogas deste período nas construções seculares existentes. Estruturas abobadadas únicas cruzadas com arestas ou nervuras, ou um espaço com duas naves e pilares na parte central.

Sinagoga Medieval de duas naves:
A Sinagoga de Worms, na Renânia, permaneceu em sua forma original até ser destruída pelos nazistas. Iniciada a construção em 1034, passou por uma transformação no final do século XII, influenciada pelas construções da época: capitéis de colunas, entalhes nos arcos de portas e janelas, traçado de solo simples, quase retangular- características românicas- estão presentes na edificação. A dupla nave fortalece a centralização da Bimah. O recinto feminino data de 1213 e possuía quatro vãos abobadados e uma coluna central.

Outra sinagoga de importância no período é a sinagoga Altneuschule, em Praga. Construída no final do século XIV, possuía estreitas janelas, formas simples (nave dupla retangular) e abóbadas em ponta, mas destacava-se pelo seu exterior, diferente do padrão da época. Isso só foi possível por estar situada no centro de uma grande comunidade judaica.


A Velha Sinagoga da Cracóvia, de final do século XIV, é outro exemplo de sinagoga românica ou gótica de nave dupla de dois pilares, influenciada pela sinagoga Altneuschul.

Nas sinagogas românicas e góticas a entrada principal não se situava na parede oposta ao Aron Hakodesh. Esta tendência passou a ocorrer somente no século XVI, a partir de teoria do Shulchan Aruch. Como conseqüência, as sinagogas adquiriram um sentido longitudinal e a Arca ganhou maior importância arquitetônica.

Sinagoga Gótica abobadada de nave simples:
As sinagogas de nave simples foram construídas concomitantemente às de nave dupla. A solução sem suportes intermediários permitia maior flexibilidade em relação à disposição da Bimah e da Arca. Um exemplo é a sinagoga de Praga- Pinchas Schul- do século XIII. Grande parte destas sinagogas foi construída no final da Idade Média.

Sinagogas Renascentistas e Barrocas na Galícia e Boemia:
Nascidas da arquitetura do período, algumas por licenças especiais a filantropos, não constituíram um grupo específico.

A Sinagoga de Maisel, em Praga, possuía elementos da Renascença e do período gótico. Na Cracóvia, em 1640, construiu-se a Sinagoga Isaac Jakobowicz. A Sinagoga Isaac Nachmanowicz, de 1582 é coberta por uma abóbada cruzada, linhas interceptantes de dois meios cilindros em ângulos retos (abóbada monástica). O Aron Hakodesh é em estilo renascentista. O traçado quadrado, sem repartições internas e o piso abaixo do nível da rua permanecem. A sinagoga da cidade de Kuttenplan  foi decorada ao estilo barroco.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Arquitetura da Sinagoga - Período Medieval e “Pré-Emancipação”:

Durante a Idade Média, a sinagoga exerceu também a função de centro de estudos.

Neste período, a Arca deixou de ser uma peça móvel. A maioria das sinagogas possuía salões subdivididos por fileiras de colunas e várias delas, como as de Toledo, refletiam influências mouriscas. 

A sinagoga de Worms , com um salão abobadado serviu de modelo para outras da Europa Central e Oriental. Era comum terem um segundo pavimento, torres e galerias externas. Diversas sinagogas foram construídas em madeira, mas nenhuma perdurou até os dias de hoje. Uma divisão separava homens e mulheres e várias sinagogas dispunham de um pátio para resolução de questões legais e celebração de casamentos. 

Nota-se uma diferença entre a arquitetura sinagogal de Israel, aonde a comunidade judaica vivia em seu próprio ambiente e a da Diáspora, aonde ocorreu o encontro da tradição judaica com o mundo medieval, a arte gótica e suas técnicas. Este fato gerou uma falta de continuidade na linguagem visual e no partido arquitetônico adotado.

Durante a Idade Média, selecionou-se concepções construtivas dos edifícios da época para adapta-las às sinagogas, mas não se encontrou um meio próprio de expressão. Após um longo processo de adaptação, e o contato com a arquitetura da Europa, criou-se, na Polônia do século XVI e XVII um tipo arquitetônico independente: um conceito próprio de espaço para a sinagoga.

As comunidades judaicas do período medieval eram geralmente pequenas, o que determinou as dimensões dos edifícios das sinagogas: o número de membros determinava a escala da construção, preocupação esta funcional e não emocional.

Alguns regulamentos de autoridades cristãs proibiram construções de novas sinagogas, ampliações destas, ou que as mesmas tivessem maior altura que as igrejas locais, apesar da lei judaica delimitar que aquelas fossem mais altas que o entorno. Dessa forma, estes edifícios passaram a ter o piso abaixo do nível do solo, permitindo que a altura da parte interna fosse aumentada, sem transgredir a altura da parte externa: o exterior não refletia a preocupação com interior. Este aspecto transparece em toda a Diáspora, neste período.

A busca de uma solução arquitetônica e equilíbrio para a relação de espaço da plataforma de leitura- Bimah- e da Arca Sagrada permanece, herdando-se, da Antiguidade o fato de que a liturgia determinava o desenho do edifício. A Arca já ocupava uma posição fixa, voltada para a direção de Jerusalém e guardando a Tora, porém não ocupava um lugar destacado no espaço como um todo. A sinagoga permanecia como casa de assembléia, a oração não era a única atividade do local, e a Bimah continuou como local central do recinto. Somente na Itália encontrou-se uma solução harmoniosa para estes dois focos, diferentemente dos conceitos espaciais correntes.

Posteriormente, o Aron Hakodesh- Arca Sagrada – atinge importância, refletindo-se nas suas dimensões e no nível artístico - época da Renascença e Barroco, propostas que subsistiram na Europa até recentemente.

O recinto das mulheres, introduzido nos tempos antigos, foi mantido nas sinagogas da Idade Média, adquirindo importância ao final do século XVI. Uma galeria encoberta, acima ou abaixo do pavilhão principal, ou ainda um vestíbulo separado, permitia ouvir o serviço sem que fossem vistas. 

Mais detalhes da Sinagoga de Worms:  https://es.wikipedia.org/wiki/Sinagoga_de_Worms 

O desenvolvimento das sinagogas do século V ao VIII deu-se inicialmente na Diáspora.

As comunidades judaicas dispersas consideravam de máxima importância a questão sobre a direção em que as pessoas rezavam. As estruturas eram relativamente frágeis construídas em pedras e revestidas somente na parte externa. Internamente eram feitas de cascalho rebocado, refletindo a situação de pobreza das comunidades judaicas de fora de Israel. Os pavimentos eram em mosaico, com representações figurativas e o traçado de basílica segue os de igrejas, com colunas ou pilares na direção longitudinal e não mais na transversal, formando duas alas laterais mais baixas. Acima destas, as galerias das mulheres. A entrada, de três portas, situava-se na parede oposta à posição da Arca. Essa parede, de formato semicircular, possuía um pavimento elevado, com degraus.

As sinagogas deste período possuíam também a função de centro comunitário. Desta forma, compartimentos laterais foram acrescentados ao edifício principal.

A ornamentação arquitetônica nesta época permaneceu simples, comparando-se às sinagogas primitivas. Porém, desenvolveu-se um padrão de decoração para pavimentos de sinagogas contendo três elementos principais: Arca da Tora, castiçais e leões; o Zodíaco( como em Beth Alfa); e alguma cena bíblica. Estes elementos de arte figurativa representam uma postura mais liberal, período que perdurou até o século VII.

Foto ao lado: escavações na antiga sinagoga em Horvat Kur(israel),  periodo bizantino(sec.IV ao VII E.C.), aonde foi descoberto piso de mosaico colorido, parcialmente preservado. O mosaico consiste em um painel mostarndo a parte superior de uma menorah, juntamente com uma inscrição do nome El'azar, do pai e avo. 
Veja mais detalhes em: 
http://www.heritagedaily.com/2015/08/ancient-synagogue-mosaic-floor-showing-menorah-found-in-galilee-israel/107919