quinta-feira, 30 de junho de 2016

A Comunidade Judaica em São Paulo nas primeiras decadas do sec.XX

Os serviços religiosos ashkenazim, durante anos foram realizados em domicílios. O primeiro rabino de São Paulo, Dr. Samuel Edouard da Costa Mesquita, chegara na cidade, em 1860. Somente a partir de 1912, passaram a ter espaço próprio, a Kahalat Israel, na Rua da Graça. Esta previa o estabelecimento de um cemitério e cooperativa. “Certamente houve serviços religiosos em São Paulo, no século XIX, pois Dr. Samuel E. da Costa Mesquita exerceu funções de rabino até seu falecimento, sendo as rezas provavelmente realizadas em casas particulares.”(Wolff,Egon e Frida: Guia Histórico da Comunidade Judaica de São Paulo. São Paulo, Editora B’nei Brith S/C, 1988).

Em relação à comunidade sefaradi, no início do século XX, conflitos armados e falta de perspectiva de trabalho no Império Otomano colaboraram para a emigração desta para a América., inicialmente não para o Brasil, mas sim para Argentina e Uruguai, por facilidade da língua. Foram também atraídos pelo dinamismo comercial do eixo São Paulo- Santos, além do Rio de Janeiro, e chegaram ao país sem apoio político ou ajuda de qualquer organização imigratória. A cidade de origem definia os laços básicos entre os que aqui chegavam. Ocuparam bairros como Consolação, Bela Vista e Jardim Paulista, integrando-se na cidade.

A entrada maciça de imigrantes judeus ocorreu no período entre-guerras . Em 1923, a Argentina fechou suas fronteiras aos imigrantes, por pressão dos sindicatos operários. Medidas restritivas semelhantes foram adotadas nos EUA e Canadá. Em conseqüência, o fluxo de refugiados da Europa Oriental e Central (piora de situação econômica, regimes totalitários), orientou-se para o Brasil, principalmente para a região centro-sul, em especial para São Paulo e Rio de Janeiro.

1901: Rua dos Imigrantes, atual José Paulino, no Bom Retiro.
Em destaque, o estábulo destinado aos burros
 utilizados nos bondes a tração animal.
Foto: Guilherme Gaensly – Acervo FES

Os judeus da Europa Ocidental que chegavam a São Paulo já estavam acostumados com a organização liberal da sociedade. Os do leste europeu, provenientes de Shtetl- aldeias da Polonia, Lituania , Bessarabia... - traziam a estrutura comunitária da Kehilá, tradicional e centralizada, com líderes que cuidavam da manutenção das instituições. 

Não havia unicidade, convivendo subgrupos e polarização em relação aos rituais religiosos e culturais. Sinagogas eram formadas segundo a origem nacional e não reunidos em torno de correntes religiosas. De alguma forma, fortaleceu-se a comunidade, descentralizando e possibilitando autonomia a cada grupo.


Durante este período, formaram-se núcleos habitacionais judaicos compactos entre si, em bairros ou subúrbios, fora do Bom Retiro. Muitos eram contra o que chamavam de  “espírito do gheto”. Outros mudavam para atender a outra clientela mais pobre, ou para estar mais próximo dos locais de trabalho (apesar de ser mais fácil morar no Bom Retiro- equipamentos sociais e culturais judaicos). Em outros bairros a concorrência era menos volumosa e menos acirrada. Havia núcleos judaicos no Brás, Cambuci, Ipiranga, V. Prudente, Penha, Moóca e Pinheiros. Estes “entrepostos” judaicos gravitaram em torno do Bom Retiro até certa época, quando começaram a organizar suas próprias escolas e sinagogas, mas não clubes recreativos ou sócio-políticos.

2 comentários:

  1. Olá Myriam!

    É possível adquirir este Guia Histórico da Comunidade Judaica de São Paulo? Se sim, onde? Se não, há alguma biblioteca que se possa achá-lo para pegar emprestado ou para consulta?

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  2. Ola Bea, é possivel encontrar este livro no site Estante Virtual https://www.estantevirtual.com.br/b/egon-e-frieda-wolff/guia-historico-da-comunidade-judaica-de-sao-paulo/3917714437
    Abs

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