sexta-feira, 28 de agosto de 2020

O Rabino Samuel Levy em Botucatu e outros detalhes

É muito bom perceber que muitas pessoas, da comunidade judaica ou não, acompanham as publicações que faço no Blog e divulgo também no Facebook e Instagram. Comentários, como o de Elizabeth Fernandes Costa, quando diz “que ótimo sabermos sobre as comunidades judaicas do interior!!” e de Priscila Grinblat, quando escreve “Estou adorando suas publicações” motivam a continuidade deste levantamento sobre as comunidades judaicas e sinagogas de São Paulo, tanto da capital, como do interior paulista. Amalia Knoploch também comentou: “Esta história de judeus em Botucatu merece um livro para conhecermos mais um pouco de história do nosso povo”. Quem sabe consigamos publicá-lo!?! Felipe Moreno (sobrenome fictício, ou seja, é pseudônimo artístico que adotou quando era roteirista de televisão, o sobrenome verdadeiro é Chusyd), por sua vez, relembrou: “Minha prima havia me dito que ela chegou à cidade de Botucatu quando se casou. Pelas contas que fiz, foi no final dos anos 1940, e lá ela ficou por uns 15 anos mais ou menos. O sobrenome de casada é Vinik ou Vinic. Fiquei sabendo que ela faleceu. Mas talvez a minha prima, a filha dela, que é sua Xará, possa contar um pouco mais sobre o período dos pais lá em Botucatu”. Já conversamos, divulguei fotos e detalhes nas postagens anteriores.

Ainda em relação a Botucatu podemos ler um texto publicado originalmente no “Correio de Botucatu” em 02/07/1970, e que nos conta a história do Rabino Samuel Levy. Com o título, “O   Rabino Samuel Levy”, lemos que, nos anos de 1870, durante a guerra franco-alemã, a França “perdeu” as províncias da Alsácia e Lorena, incorporadas ao território alemão. Samuel Levy, um judeu alsaciano, naquela época, resolveu imigrar para o Brasil, passando a trabalhar como ourives e dentista protético, e, posteriormente, como rabino. Desta forma, pôde “dar assistência religiosa à pequena comunidade judaica dispersa pelo interior”. Estabelecendo-se inicialmente em Sorocaba, conheceu Maria Magdalena Grohmann, filha de alemães e católica, com quem acabou se casando. O casamento foi realizado no Consulado Alemão, mediante um registro especial (não havia Registro Civil). O casal seguiu para várias cidades, fixando-se, porém em Botucatu, onde os filhos cresceram. O artigo cita os nomes dos filhos e os casamentos: “Samuel Junior (Nhonhô), casado com Amélia Grohmann; Elisa, casada com Paulo Fernandes; Alberto, casado com Cilóca Braz da Cunha; Julieta (Zizinha), casada com Henrique Pavão; Amélia, casada com Nicolau Kuntz; Iracema (Mira), casada com João Silva; e Jayme Catão, que sempre residiu em Sorocaba. Todos são falecidos”. O autor do texto conta que conheceu Samuel Levy no fim da vida: “Residia com seu genro Nicolau Kuntz, comerciante, que foi Prefeito Municipal de Botucatu. Naqueles bons tempos, não havia esses preconceitos e essa discriminação racial, que tanto castigam os judeus. Nicolau Kuntz era filho de alemães. Dona Magdalena, era registrada como alemã. E o velho rabino, amigo do Monsenhor Ferrari, vigário da Paróquia, era muito estimado pela população, de todos os credos. Samuel Levy faleceu em 1915. Está sepultado em Botucatu”. Antes de falecer o autor informa que sr. Samuel Levy, que morreu pobre, recomendou aos filhos: “Sigam a religião da mulher, que era católica; quero ser enterrado com os objetos do culto israelita; e queimem os livros sagrados...Nhonhô Levy deixou os seguintes filhos: Prof. Mário; Professoras Odete, Julieta e Lygia; João, Romeu, Oswaldo e Vinício. João Levy, ferroviário e Romeu (o Bizuca), decano dos gráficos botucatuenses, residem em nossa cidade”. Cita Dona Mira (Iracema Levy Silva), funcionária da Escola Normal, que casou-se com João Silva, funcionário dos Correios e funcionário da Prefeitura Municipal...João Silva faleceu em 1913, exercendo o cargo de professor de Trabalhos Manuais da Escola Normal de Botucatu. Sua Esposa, dona Mira, criou os filhos João, Iracema, Dinorah, Mariae Diva, já falecida...Um neto do velho rabino, o Sr. Alberto Levy Junior, o “Iôca”, reside em Botucatu, onde é ferroviário.

Leiam “O Rabino Samuel Levy”, em “O Tempo de Dantes”, cujo trabalho divulga 100 artigos publicados no Jornal “Correio de Botucatu” pelo Dr. Sebastião Almeida Pinto, médico pela Faculdade Fluminense de Medicina http://www.historiadebotucatu.com.br/livros/tempoDante/trabalhos/11.htm

A foto que aqui compartilho foi encaminhada por Zyndal Zumerkorn, que nasceu em Botucatu e ali residiu com a família. Leiam sobre a família Zumerkorn em artigos anteriores...

Você possui algum artigo que cita a comunidade judaica das cidades paulistas? Algum texto? Fotos, memórias, documentos? Vamos compartilhar? Escreva para myrirs@hotmail.com


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Comunidades judaicas de Limeira e Rio Claro - por Lúcio Rosenthal

Família Golovaty na casa em Rio Claro

Recebi um e-mail, de sra. Ana Rosenthal e sr. Lúcio Rosenthal, com o relato abaixo.

Olá, Myriam.

Lí seu artigo “Resgate de memórias das comunidades judaicas” e gostaria de complementar a História narrada pela minha prima Blima.

Meu nome é Lúcio Rosenthal. Nasci em Limeira em 1963. Sou bisneto do Casal Benjamin e Berta Golovaty de Rio Claro. Eles eram avós da minha mãe Dora (filha da Fany, irmã do Sr. Abraão – pai da Blima).

Anexo estou enviando uma foto de toda a família reunida na casa de Rio Claro. Era a comemoração do casamento da filha Dora (irmã da Fany), que depois passou a assinar Dora Kbrith. No alto da escada estão Benjamin e Berta Golovaty; descendo, os outros familiares. Minha avó Fany, está ao lado do noivo.

Inauguração da Sinagoga de Limeira - 1958

Conforme ela contou as rezas eram realizadas na casa da família, pois era única Torah da região. Com o passar do tempo a comunidade judaica do interior foi crescendo na região de Limeira, onde meu pai, Bernardo, se tornou uma próspero comerciante. Foi quando o Sr. Benjamin decidiu doar seu bem mais precioso, para um grupo de “rapazes” construíssem uma Sinagoga em Limeira. Com muito esforço e recursos próprios as famílias Rosenthal, Munimiz, Tatar, e outras que infelizmente não me recordo, fundaram a Associação Israelita de Limeira, em 1958.

A Sinagoga tinha sede na Rua Capitão Bernardes, 611 onde eram realizadas as principais festas do Calendário Judaico. 

Inauguração da Sinagoga de Limeira - 1958

Além das famílias de Limeira, a sinagoga também acolhia os patrícios de Mogi Mirim, Pirassununga e Piracicaba. Não era apenas um local para as rezas; era um ponto de encontro da comunidade do interior, onde todos se reencontravam ano após ano. O local era simples, mas sob seu teto, um lustre em forma de estrela de Davi e luzinhas coloridas, acolhia a todos.

Para mim, a festa mais aguardada era o Yom Kipur. Após a longa reza, e já com a sinagoga lotada, tocava-se o Shofar. Todos se abraçavam e comemoravam.

Uma longa festa se iniciava. As mulheres traziam vários bolos e doces e todos realizavam muitos lechaim. Um grande jantar se iniciava, e fechava com chave de ouro um momento inesquecível para aquelas famílias que tanto de esforçavam para manter suas tradições.

Infelizmente não tenho outras fotos era uma época que não se tirava muitas fotos. Lembro que já vi uma foto da fachada num livro da coletividade. Como se alguém passasse na porta e tirasse a foto com as portas fechadas. Devia ser um anuário sobre as sinagogas do Brasil. Talvez tenha no Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo.

Dentro a Sinagoga tinha forro e piso em madeira. As paredes eram decoradas com quadros relativos a Israel: Plantio de Árvores do KKL, uma foto de Theodor Herzl, e alguns com textos em hebraico. Tinha três grandes bancos para rezas, cada uma com 12 cadeiras. Duas eram reservadas para os homens e outra para as mulheres. Ao fundo tinha a Arca da Torá, uma mesa mais alta com um candelabro reservado ao Hazan, e no centro a Bimá para ler Torá. Atrás do salão, uma copa e dois banheiros.

Recorte de jornal enviado por sr. Lúcio Rosenthal


Infelizmente não tenho outras fotos era uma época que não se tirava muitas fotos. Lembro que já vi uma foto da fachada num livro da coletividade. Como se alguém passasse na porta e tirasse a foto com as portas fechadas. Devia ser um anuário sobre as sinagogas do Brasil. Talvez tenha no Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo.

Dentro a Sinagoga tinha forro e piso em madeira. As paredes eram decoradas com quadros relativos a Israel: Plantio de Árvores do KKL, uma foto de Theodor Herzl, e alguns com textos em hebraico. Tinha três grandes bancos para rezas, cada uma com 12 cadeiras. Duas eram reservadas para os homens e outra para as mulheres. Ao fundo tinha a Arca da Torá, uma mesa mais alta com um candelabro reservado ao Hazan, e no centro a Bimá para ler Torá. Atrás do salão, uma copa e dois banheiros.

Infelizmente a Sinagoga não existe mais. A Torá foi novamente doada, e está na Sinagoga do Lar, na Vila Mariana. Pretendo ir lá para revê-la e matar as saudades.

Anexo as fotos da inauguração da Sinagoga, em outubro de 1958.

Ajude-me divulgando essas imagens, para que seus descendentes possam ver essa grande obra de seus pais.

Meu pai, Bernardo Rosenthal foi comerciante, fundador da Rádio Educadora de Limeira e muito conhecido na Cidade. Era dono da loja Cidade dos Móveis. Ele nasceu na Romênia – Bessarábia, na cidade de Riscani e chegou ao Brasil em meados de 1930. Seu primo Marcos que já morava em Rio Claro, enviou uma Carta Convite para ele entrar no Brasil. Essa carta é um documento oficial onde um parente se responsabilizaria pelo imigrante oferecendo abrigo e o sustento necessário. Está disponível nas embaixadas brasileiras até hoje.

Em Limeira ele foi homenageado, com a inauguração de uma retransmissora de TV, que leva seu nome. Anexo enviei um recorte da época. E sua irmã Hia Rosenthal Spilberg também foi homenageada com seu nome numa das Ruas da cidade (está no google maps).

 

Fico feliz em enviar essas histórias..."

Qual a sua história, relacionada às comunidades judaicas da capital e do interior paulista? Vamos compartilhar? Escreva para myrirs@hotmail.com 


terça-feira, 18 de agosto de 2020

Memórias da comunidade judaica de Botucatu

Família Zumerkorn e a casa Jacques
Fotos encaminhadas por Zyndal Zumerkorn

Conversei com Zyndal Zumerkorn, Miriam Maghidman, Simone Fridman Assayag, sra. Issea Rosenberg, sr. Samuel Reibscheid neste mês de agosto de 2020, além dos contatos por e-mail e Facebook, com Regina Herchcovitch, que relataram um pouco sobre suas famílias, que moraram em Botucatu.

O pai de Zyndal, sr. Jacob (Jacques) Zumerkorn nasceu na Polônia, mas aos três anos, sua família mudou-se para a cidade de Bruxelas, na Bélgica. Fugindo dos nazistas (a irmã foi morta pelos nazistas), lutou na Resistência Francesa, e, em 1948, lutou na Guerra da Independência de Israel, onde morou.  Residiu na Bolívia, na Colômbia, vindo posteriormente para o Brasil. Em São Paulo, trabalhou na área do comércio, fixando-se em Botucatu, ao abrir a primeira loja, a “Casa Jacques". Esta loja esteve situada à Rua Amando de Barros, 445, a rua principal de comércio da cidade. A mãe de Zyndal, sra. Mina Farber, caçula de sete irmãos, nasceu em São Paulo, de família polonesa, da cidade de Opale. Moraram na Vila Anibal (endereço do Shil da Vila). Os pais casaram-se em São Paulo, porém foram morar em Botucatu, onde os cinco filhos nasceram (David, Deborah, Anny, Zyndal, Esther). Zyndal contou que estudaram no Colégio La Salle, porém continuaram os estudos fora de Botucatu, tendo os pais permanecido na cidade, e continuado com a loja, mudando-se para a capital há 22 anos. Como comentou, em Botucatu não havia sinagoga, a comunidade era pequena, a família era “tradicional”, comemoravam as festividades judaicas na própria casa, situada no centro judaico, à Rua Costa Leite, 165. Faziam jantares, convidavam para celebrar Pessach, faziam churrascos, alguém sempre vinha de São Paulo para ler a Meguilat Esther,  as reuniões judaicas eram feitas na casa da família Zumerkorn, todos da comunidade judaica que passavam pela região eram convidados pelo sr. Jacob para comerem em sua casa...enfim, era um centro de acolhimento da comunidade...  Sr. Jacob, ou Jacques, que fala várias línguas, era uma referência na cidade, e manteve o comércio por quarenta anos...Zyndal citou as famílias Segre, Goldenberg, Reibscheid, Wajnsztejn, que moravam em Botucatu e, também, a família Katz, de Assis.

Fotos de sra. Miriam Maghidman

Sra. Miriam Maghidman encaminhou um e-mail, onde escreveu: “Miriam Maghidman, nascida em Botucatu em 28 de julho de 1943. Meus avós Henrique e Augusta Vinik vieram da Rumania e foram morar em Botucatu. Eles trouxeram os filhos Isaac e Maria. Tiveram mais três filhos Natan, Adolfo e Cema aqui no Brasil. Todos já falecidos. Eu sou filha de Isaac e Slima Vinik também falecidos. Meus pais tiveram três filhos: eu, Nelson (falecido) e Lídia. Saímos de Botucatu por volta de 1960 e viemos morar em São Paulo.” Sra. Miriam e eu conversamos depois deste e-mail. E, assim, contou que nasceu em Botucatu, como os irmãos. Os avós, sr. Hersh e Gitlea (Henrique e Augusta) Vinik foram morar em Botucatu ao chegarem da Bessarábia com os primeiros filhos, tendo mais três filhos quando se estabeleceram na cidade paulista. Tiveram duas lojas de roupas e móveis. Os pais da sra. Miriam conheceram-se na capital paulista. A mãe, sra. Slima, também de origem bessarabe, e o pai, sr. Isaac, foram morar também em Botucatu. Sra. Miriam veio para São Paulo aos 16 anos junto com a tia, sra. Maria, mãe da sra. Regina Herchcovitch, e a avó. Casou-se com o prof. Simão Maghidman, e teve três filhos: Eduardo, Marcelo e Sandro. A comunidade judaica de Botucatu era muito pequena, não havia sinagoga, as reuniões era pontuais, porém o avô era religioso, celebravam Yom Kipur, faziam Kaparót. A preocupação da família era com a continuidade do judaísmo. Em São Paulo morou no Bom Retiro, e trabalhou em empresa de engenharia, e, também, na Escola Politécnica. A família mudou-se posteriormente, as famílias da comunidade judaica de Botucatu acabaram saindo também da cidade. Alguns familiares de sobrenome Vinik também se estabeleceram em Sorocaba e em São Pedro.

Simone Fridman Assayag contou que toda a família materna, Vinik, morou em Botucatu, e indicou a mãe, sra. Sarita, nascida em São Paulo, e as tias, sra. Issea e Rute, para conversarmos, comentou que elas são primas de Miriam Maghidman. A avó de Simone, sra. Cyma(Cema), é irmã do pai de Miriam, sr. Isaac, e irmã de sra. Maria, mãe de Regina Herchcovitch. Sra. Issea Rosenberg contou que se lembra das viagens de trem a Botucatu, da loja de móveis. Ela, as irmãs e os pais moraram em Israel, porém retornaram ao Brasil. O pai era da Bessarábia. Sra. Rute Steinic, por e-mail, escreveu: “Éramos da família Vinik, Henrique e Augusta. Eu e minha irmã íamos nas férias andar de charrete e no único cinema...”

Regina Herchcovitch, por e-mail, contou: “Nasci em Botucatu em 21 de outubro de 1945. Sou filha de Masea Vinic, que teve três filhos: Waldemar (falecido), Isaac com 77 anos e eu. Minha mãe era filha de Henrique e Augusta Vinik, e mais um irmão, Isaac, sendo que os quatro vieram morar em Botucatu, direto da Europa. Aqui no Brasil meus avós tiverem mais três filhos. Passei minha infância e parte da adolescência em Botucatu. Meus avós tinham uma loja de móveis chamada “Casa Brasil” e uma loja de roupas brancas, na rua Amando de Barros. Também uma fábrica de colchões. Toda a família trabalhava junto nas lojas. A segunda geração era composta por mim, com mais dois irmãos e três primos sendo Miriam, Nelson e Lídia Vinic todos nascidos em Botucatu. Com o passar do tempo viemos morar em São Paulo. Fiquei feliz em ler que fizemos parte de sua narrativa...”

Sra. Rute Reibscheid deixou um comentário no blog que escrevo, e encaminhou-me também um e-mail, onde registrou: “Curiosamente, essas famílias de Botucatu não mencionam Samuel Marek Reibscheid, médico, que se mudou ainda jovem e se estabeleceu na cidade. Vinculou-se, à então recém-criada Faculdade de Medicina da UNESP. Teve uma vida acadêmica brilhante. Acabou de completar 80 anos. Samuel mora em Botucatu... Hoje eu vi no Facebook sobre os judeus de Botucatu e estranhei que ninguém tenha mencionado a família do Dr. Samuel M. Reibscheid, que vem a ser primo-irmão do meu marido.” A partir desta indicação, conversei com o dr. Samuel Marek Reibscheid, formado em medicina pela USP com especialização em cirurgia torácica, embora em São Paulo tenha participado do grupo de Cirurgia Cardíaca experimental. Ajudou a montar a disciplina de Cirurgia Geral e Gastroenterologia, e montou a disciplina de Cirurgia Torácica, na Faculdade de Medicina de Botucatu, no final de 1968. Desde então reside na cidade, onde nasceram as duas filhas e o filho. Os pais do dr. Samuel, de famílias provenientes da Europa, viveram na Colômbia, onde dr. Samuel e o irmão, sr. Wilfrido, nasceram. Mudaram-se para o Brasil e moraram em São Paulo. A esposa de dr. Samuel, sra. Perola, também nasceu na Colômbia. Em relação à comunidade judaica da cidade, comentou que poucas famílias judias moravam na cidade, lembrando-se, no entanto, da família Zumerkorn e da família Segre.

No Facebook, na página Jewish Brasil, Paulo Elman Sister comentou: “Fiquei muito emocionado com artigo de João Figueroa. Sou bisneto do Paulo Goldenberg e da Sônia da "Casa Botucatu" na Amando de Barros e me chamo também Paulo por causa dele. O nome de minha avó era Rachel Goldenberg Elman, filha do Paulo e da Sônia. Mostrei também para minha mãe, que é neta deles (Paulo e Sonia). Ela sempre me conta histórias de lá e da infância feliz que teve lá até os treze anos. Vamos escrever paro autor e para o João Figueroa. A comunidade Judaica de lá era muito unida.... Um abraço”.

Felipe Moreno, também no Facebook, escreveu: “Minha tia também morou um bom tempo em Botucatu, e meus pais, antes mesmo de eu nascer, foram visitar a cidade algumas vezes. Minha tia, quase centenária, não perdeu o sotaque caipira até hoje. A foto, que a minha tia me deu, da casa dela lá, aparecem minha tia, uma amiga dela, e minha mãe com meu irmão quando ele era pequeno. Meu pai está no portão da casa. Histórias eu não tenho, porque na verdade eu não vivi esse período. Só vim muito depois”. 

Felipe compartilhou a foto, a mesma que sra. Maghidman encaminhou, e a descrição: “Da esquerda para a direita, minha mãe Frida (Menea) e meu irmão David, minha tia Shlime, que morava em Botucatu (a foto foi tirada na frente da casa dela). Depois vem uma moça que morava lá e amiga da minha tia e as crianças que eu não saberia dizer quem são, e o meu pai Henrique (Hersh) no portão da casa, meio sem jeito. Esta foto ganhei da minha tia e acho ela incrível!”

Já na página Mundo Judaico, no Facebook,  Lilian Elman lembrou: “Família Goldenberg. Meu avô Paulo Goldenberg, casado com minha avó Sônia, tinha uma boa loja, a "Casa Botucatu! Passei todas as férias de três meses ou mais, de recém nascida até os treze anos de idade!! Amava Botucatu e tinha uma turma grande de amigos e a maioria idish. Mas também armênios e árabes, mas como se fossem uma grande família. Meu avô era muito respeitado e foi líder do grupo por bom tempo. Morro de saudades de um tempo dos mais felizes da minha vida!!! A loja ficou durante muitos anos sempre na rua Amando de Barros que na época era a principal da cidade. Eu ia de trem com meu pai..o "Maria Fumaça". Adorável infância!! Lá pelos idos de 1940 até 1953...”

No Blog, a filha do sr. Germano Grimblat contou: “Germano Grimblat mora em São Paulo com a família, mas tem muita história de infância em Botucatu, sou a filha dele, se quiser se comunicar com ele deixo aqui seu email. Vale a pena. Obrigada...” E Roberto Borenstein comentou que o irmão fez faculdade em Botucatu, tendo morado lá de 1971 a 1975...vamos entrar em contato. 

Você ou seus familiares também fazem ou faziam parte da comunidade judaica que reside ou residiu em Botucatu? Deixe um comentário ou escreva para myrirs@hotmail.com

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Judeus no Comércio de Botucatu - por João Carlos Figueiroa

Russos - localizada onde hoje está parte da "Casas Bahia"
(a foto faz parte do texto publicado por João Figueiroa)
Recebi um e-mail de João Figueiroa, autor do artigo abaixo, e que autorizou o compartilhamento do texto. O artigo original consta de “Notas”, do perfil de João Figueiroa, no Facebook (link indicado no final do texto) . Inicialmente foi publicado no livro “Achegas para a história de Botucatu”, de Hernâni Donato

Judeus no Comércio de Botucatu - 25 de fevereiro de 2015 às 20:04 - por João Carlos Figueiroa. Publicado em 2008, com o título “Israelitas” no livro de Hernâni Donato -  “Achegas para a História de Botucatu”

Os registros mais antigos falam da presença em Botucatu de uma família Levy. Quando Sebastião de Almeida Pinto ocupou-se das crônicas sobre o Botucatu de antes, no seu livro “No Velho Botucatu”, falou que Samuel Levy era rabino e, como profissional trabalhava em ourivesaria, mas também era protético, não abrindo mão de desempenhar as funções de dentista prático. E era francês de nascimento. Samuel morreu em Botucatu e jaz enterrado no Cemitério Portal das Cruzes. Seus segredos e suas histórias foram com ele.

 

É bem possível que, entretanto, tenham existido, outras famílias judaicas e professando sua fé, na cidade. Na certeza mesmo, pode ser registrado que as famílias judias, não muitas, começaram a vir a Botucatu entre as duas grandes guerras.Quase todas elas são oriundas da Rússia e de países que caíram sob a influência da revolução bolchevique de 1917. Esses eram os comentários que os brasileiros,que com eles trabalhavam, ouviam. O que é, também, indicado pela procedência que declaravam. Não terá sido coincidência que existisse um conterrâneo aqui radicado, antes deles. Realmente, no almanaque de 1920 já existia um russo chamado Maurício Averback, trabalhando exatamente com uma loja de móveis (Casa dos Russos), o ramo de negócios que mais atraiu as levas de judeus russos que chegaram pouco depois. 

 

Quase todos eles montaram suas lojas na Rua Amando de Barros e foram trabalhar com móveis. Ali estavam o Ramiro Glimblat (Casa Ramiro-móveis), o Marcos Zilber (Mobiliadora Moderna-móveis), o Bencjon Waksman (Favorecedora-móveis), os Irmãos Vinick (loja de colchões, móveis e roupas), o José Acquerman (roupas feitas), a Casa Jacques (roupas feitas) e muito antes deles o Paulo Goldemberg, sua esposa Sonia e filha. Eram proprietários da Casa Botucatu e trabalhavam com roupas feitas, também. Essa loja ficava onde hoje está a alfaiataria do Mineto.

 

Havia também outras lojas, mal registradas na lembrança dos botucatuenses. Uma delas ficava defronte à Padaria do Bosque e outra, ainda, defronte ao Peabiru. Esta, de propriedade de José Chaitz. Todas as três trabalhando com roupas feitas. Assim pode-se dizer que, pelo menos entre os anos 40 a 80, a presença deles foi quase uma exclusividade no ramo de móveis e roupas feitas. Pontuaram nesse segmento perto de 50 anos. 

 

Quanto à procedência, teriam vindo de: Bencjon Waksman era polonês; Marcos Zilber era da Besarábia (a Besarábia é nome antigo de uma região ao sul da Rússia; hoje, porções dessas terras são partes de outros países da atualidade: Moldávia, Romênia e a Ucrânia); Ramiro Glimblater era russo; José Acquerman era russo, também. Deles todos, apenas Jacques Zumercon, estabelecido com sua Casa Jacques, no ramo de confecções, declarava-se francês de nascimento e dizia ter combatido ao lado de Moshe Daian, durante as guerras de 1948, que resultaram no estabelecimento do Estado de Israel.    

 

Das curiosidades “achadas” esquisitas pelos brasileiros de suas relações estava o fato de se preocuparem demasiadamente em não comer um bom misto quente, exatamente para evitar a carne de porco do presunto. Contam, Jacques especulava por longos minutos o garçon do Café do Ponto, antes de receber o seu “Bauru de Carne”. Queria ter certeza. Ou então, a apreensão do Zilber quando o filho Moshe foi estudar fora: “O que iria ele comer na república, carne de porco???”. E, lembram ainda os brasileiros, do desespero de algumas mães judias ao perceberem que suas filhas ou filhos, em contacto com os meninos e meninas cristãos, se encantavam com as árvores de natal e queriam armá-las dentro de suas casas.

 

Existiram outros também: o mascate que morava no Hotel Brasil (hoje Agência Central dos Correios), um russo vermelhão que vendia de tudo: relógios, pulseiras, e etc. Não se fixou, era meio errante, fazendo bem o papel de mascate. Ou então o Felipe, que residia onde hoje existe uma vídeo-locadora nas imediações da Igreja São Benedito. Adorava futebol,gostava de uma boa conversa e parece que, entre todos, foi o que mais se integrou, espontaneamente, na cidade. Morreu de “morte morrida” e foi encontrado depois de algum tempo em sua casa. Seus sobrinhos vieram liquidar seus haveres e propriedades, que ele as havia feito.

 

Nessa mesma época existia outra pequena loja, de uma porta só, localizada no quarteirão acima da Praça do Bosque, na principal rua de comércio da cidade, a Amando de Barros. Ao que consta era a única que trabalhava com jóias e onde teria se iniciado a relojoaria do botucatuense “Dito loco”, ainda existente e sob direção de seus filhos. Era um misto de relojoaria e joalheria e era de propriedade de um israelita de nome Jacob, genro de outro comerciante, também judeu, Ramiro Glimblat. Alguns botucatuenses ainda se lembram dessa família, e dentre os componentes dela, de sua esposa Clarinha e de uma filha que tinha o nome de “Pérola”.

 

O último a deixar a cidade foi o Jacques, que trabalhava com confecções, mudado para São Paulo depois de se aposentar. Ainda há uns três anos voltou a Botucatu para vender sua casa, construída na rua dr. Costa Leite.

 

Todos eles sentiam uma imensa dificuldade para professar coletivamente seu culto, visto inexistir uma sinagoga na cidade.Dos mudados, essa foi a principal razão para terem saído de Botucatu, quando já em fins de suas atividades profissionais.

 

Vejam o artigo original em https://www.facebook.com/notes/jo%C3%A3o-figueiroa/judeus-no-com%C3%A9rcio-de-botucatu/799041443522973  


Edito este texto em 02 de março de 2022, após receber e-mail de sr. Moisés Ari Zilber, com algumas correções: 


"Sou Moises Ari Zilber, nascido em Botucatu, onde meu pai foi comerciante por quase 50 anos, proprietário de uma loja de moveis, a Mobiliadora Moderna - Casa Modelo. Li uma matéria sobre alguns flagrantes da nossa vida e quero corrigir a de que meu pai teria ficado preocupado com seu filho que veio estudar em São Paulo com medo dele comer  carne de porco. E que esse filho seria eu. O filho que veio estudar engenharia na Escola Politécnica é meu irmão Meyer. Na verdade  os meus pais estavam preocupados a respeito de onde ele se instalaria na capital, mas nunca tiveram essa preocupação, apesar de que evitavam comer essa  carne rotineiramente. Por outro lado, naquela época havia um prêmio dado aos melhores alunos da excelente escola pública do ensino básico Cardosos de Almeida com uma poupança da Caixa Econômica. E a rádio Emissora fazia um evento para entregar aos melhores alunos esse prêmio. E em todos os anos todos os meus irmãos, o Meyer, a Eva e a Olga ganhavam, o que me deixa uma lembrança  especial deles que já não estão mais aqui. Era uma valorização do ensino em escola pública, as melhores da época e que hoje se encontra em estado precário. Aliás, Botucatu era conhecida pela cidade dos bons ares e boas escolas. Em 1953 a família se mudou para São Paulo, mas o meu pai continuou operando a loja até que, no início dos anos 1980, encerrou atividades e alugou o ponto à Rua Amando de Barros, 677, que desde então está ocupado pela farmácia Drogal. "


E você, teria histórias a contar sobre a comunidade judaica de Botucatu? E sobre as demais comunidades judaicas do interior paulista??? Escrevam para mim... myrirs@hotmail.com

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

A comunidade judaica de Botucatu

O Museu da Imigração do Estado de São Paulo preserva a história
das pessoas que chegavam ao Brasil na antiga Hospedaria do Imigrantes

Durante o mês de julho alguns comentários foram publicados no Facebook, relacionados às famílias da comunidade judaica que moraram em Botucatu. Na página do “Guisheft Vendas e Anúncios”, Perola Wajnsztejn e Anette Wajnsztejn contaram que sua família, Wajnsztejn, morou em Botucatu, além dos Grimblat, Wasserman, Zumerkorn, Akerman, Groberman e Waxman. Perola também comentou sobre uma crônica sobre os judeus em Botucatu, escrita por um historiador de lá. E marcou Cecilia Mesniki Zveibil em seus comentários. 

Zyndal Farber Zumerkorn e Anny Zumerkorn Papalexiou  escreveram que o pai, Jacques Zumerkorn e a mãe, Mina Farber, foram morar em Botucatu, eram donos da famosa “Casa Jacques”, e, elas e os irmãos, David Zumerkorn, Deborah Zumerkorn Hassan e Esther Pipek, nasceram na cidade. Estudaram no colégio La Salle e como não havia sinagoga na cidade, os pais reuniam as outras famílias para passarem o Pessach e Rosh Hashana na casa da família. E enfatizaram: “Era muito bom mesmo, até depois que fomos pra São Paulo, e começamos a frequentar outras comunidades judaicas...”

Gil Segre, pelo Messenger, também contou: “Vim com minha família a São Paulo, de Botucatu. Todos os anos, todos os judeus da cidade, na época em que lá moramos, vinham para Pessach na nossa casa. Eu cheguei em São Paulo com apenas seis anos de idade. As melhores pessoas para te contar nossa história são minha mãe (Ariella Segre) e minha irmã mais velha”.

Conversei com a sra. Ariella Segre, que relatou que a família morou em Botucatu por 10 anos, no período de 1970/1980. Naquela ocasião o marido deu aulas na Faculdade de Medicina, inaugurada naquele período, e os quatro filhos estudaram em escola pública e de padres. Sra. Ariella, na época em que moraram em Botucatu, deu aula de hebraico e judaísmo, e citou a família Zumerkorn, onde se reuniam para celebrar Pessach, família esta que possuía uma loja na cidade. Botucatu, cuja palavra signfica “bons ares” como sra. Ariella contou, não possuía sinagoga...Miriam Segre Rosenfeld, filha da sra. Ariela, contou por e-mail: “Agora, aprendi mais história dos judeus de Botucatu do que em toda a minha vida! A questão da sinagoga, na realidade, a casa da Família Zummerkorn, sempre foi um ponto de referência judaica para nós. Seu Jaques sempre convidava os judeus que apareciam na cidade para celebrar as festas judaicas. Minha mãe, em algum momento deu aulas de judaísmo para as crianças de ambas as famílias. Nos anos oitenta, os Lubavitch faziam viagens ao interior e eram recebidos pelo Sr. Jaques. Levavam uma sinagoga portátil no carro. Nessa época, a família Segre já tinha voltado para São Paulo. Meu pai, Prof. Dr. Marco Segre, começou a lecionar no Departamento de Medicina Legal e Trabalho da Universidade em 1970, após sair da USP. Foragido da Itália, de onde veio com seus pais em 1940, aos seis anos de idade, Dr. Marco era médico formado pela USP...” 

Também conversei com sra. Clara Wajnsztejn e com seu filho Alberto, por indicação de Perola e Anette Wajnsztejn e de Julia Damiano. No dia 21 de julho de 2020 sra. Clara relatou que nasceu em Olimpia, próxima a Barretos, cidade “muito quente”, para onde os pais se mudaram após se casarem. O pai de sra. Clara, Sr. Ramiro Grimblat (ou Grynblat), saiu da Rússia aos 21 anos, e a mãe chegou ao Brasil aos 20 anos, proveniente de Yedenitz, na Bessarábia. Quando sra. Clara tinha quatro anos, a família mudou-se para Botucatu, após o pai adoecer, cidade em que cresceu e estudou. Casou-se em São Paulo, pois “tinham família na capital” e porque não havia sinagoga em Botucatu. O marido, Jankiel, chegou a São Paulo, proveniente da Polônia, aos seis anos de idade. Retornaram a Botucatu, onde os quatro filhos nasceram, e cursaram escola pública. As Grandes Festas eram comemoradas também na capital. Como contou, a comunidade judaica da cidade era pequena. Lembra-se da família Waksman, sr. Rubens e a irmã, da família do sr. Jacques Zumerkorn, da família Krystal. Alberto Wajnsztejn contou que nasceu em 1951 em Botucatu, veio morar em São Paulo em 1969, retornando à Botucatu em 1971, onde cursou medicina até 1976. O curso de medicina foi criado em Botucatu, como comentou Alberto, em 1963. Morou com o avô até 1970, quando o avô saiu da cidade. Havia, em Botucatu, umas cinco famílias nesta época, e na casa do sr. Bentzion Waksman eram comemoradas as festas, onde todos se reuniam.

Recebi um e-mail de Anette, em 18 de agosto de 2020, com uma foto da família Wajsztejn, a qual compartilho aqui, juntamente com os dados: “Clara casada com Jankiel Wajnsztejn e seus 4 filhos: Precila, Alberto, Rubens e Perola; Ramiro e Berta pais da Clara e do Carlito. Tem mais 2 filhos, Germano e Miriam; Tio Felipe e irmão da avó Berta. Em pé da esquerda para a direita: Alberto Wajnsztejn, Cziel ( Carlito) Grimblat, Felipe Groberman, Clara Grimblat Wajnsztejn, Jankiel Wajnsztejn, Precila Lana Wajnsztejn. Na frente: Rubens Wajnsztejn, Ramiro Grimblat, Berta Grimblat, Pérola Wajnsztejn” 

Em Jewish Brasil Lilian Elman escreveu: “família Goldenberg em Botucatu”. Alberto comentou que o sr. Goldenberg é professor da faculdade...

Podemos buscar também informações na internet... No site da Wikipédia, por exemplo, encontramos detalhes sobre Noel Nutels (1913 - 1973), “um médico e indigenista judeu brasileiro, nascido na atual Ucrânia. Ainda menino, veio para o Brasil com os pais para morar em Recife, no estado de Pernambuco. Em 1938, formou-se pela Faculdade de Medicina do Recife e, no mesmo ano, naturalizou-se brasileiro. Em 1941, mudou-se para Botucatu, São Paulo, para trabalhar no Instituto Experimental de Agricultura. Foi o médico da primeira expedição Roncador-Xingu, em 1943.”

Você faz parte das famílias da comunidade judaica de Botucatu? Morou nesta cidade, ou em outra cidade do interior paulista??? escreva para mim... myrirs@hotmail.com