terça-feira, 18 de agosto de 2020

Memórias da comunidade judaica de Botucatu

Família Zumerkorn e a casa Jacques
Fotos encaminhadas por Zyndal Zumerkorn

Conversei com Zyndal Zumerkorn, Miriam Maghidman, Simone Fridman Assayag, sra. Issea Rosenberg, sr. Samuel Reibscheid neste mês de agosto de 2020, além dos contatos por e-mail e Facebook, com Regina Herchcovitch, que relataram um pouco sobre suas famílias, que moraram em Botucatu.

O pai de Zyndal, sr. Jacob (Jacques) Zumerkorn nasceu na Polônia, mas aos três anos, sua família mudou-se para a cidade de Bruxelas, na Bélgica. Fugindo dos nazistas (a irmã foi morta pelos nazistas), lutou na Resistência Francesa, e, em 1948, lutou na Guerra da Independência de Israel, onde morou.  Residiu na Bolívia, na Colômbia, vindo posteriormente para o Brasil. Em São Paulo, trabalhou na área do comércio, fixando-se em Botucatu, ao abrir a primeira loja, a “Casa Jacques". Esta loja esteve situada à Rua Amando de Barros, 445, a rua principal de comércio da cidade. A mãe de Zyndal, sra. Mina Farber, caçula de sete irmãos, nasceu em São Paulo, de família polonesa, da cidade de Opale. Moraram na Vila Anibal (endereço do Shil da Vila). Os pais casaram-se em São Paulo, porém foram morar em Botucatu, onde os cinco filhos nasceram (David, Deborah, Anny, Zyndal, Esther). Zyndal contou que estudaram no Colégio La Salle, porém continuaram os estudos fora de Botucatu, tendo os pais permanecido na cidade, e continuado com a loja, mudando-se para a capital há 22 anos. Como comentou, em Botucatu não havia sinagoga, a comunidade era pequena, a família era “tradicional”, comemoravam as festividades judaicas na própria casa, situada no centro judaico, à Rua Costa Leite, 165. Faziam jantares, convidavam para celebrar Pessach, faziam churrascos, alguém sempre vinha de São Paulo para ler a Meguilat Esther,  as reuniões judaicas eram feitas na casa da família Zumerkorn, todos da comunidade judaica que passavam pela região eram convidados pelo sr. Jacob para comerem em sua casa...enfim, era um centro de acolhimento da comunidade...  Sr. Jacob, ou Jacques, que fala várias línguas, era uma referência na cidade, e manteve o comércio por quarenta anos...Zyndal citou as famílias Segre, Goldenberg, Reibscheid, Wajnsztejn, que moravam em Botucatu e, também, a família Katz, de Assis.

Fotos de sra. Miriam Maghidman

Sra. Miriam Maghidman encaminhou um e-mail, onde escreveu: “Miriam Maghidman, nascida em Botucatu em 28 de julho de 1943. Meus avós Henrique e Augusta Vinik vieram da Rumania e foram morar em Botucatu. Eles trouxeram os filhos Isaac e Maria. Tiveram mais três filhos Natan, Adolfo e Cema aqui no Brasil. Todos já falecidos. Eu sou filha de Isaac e Slima Vinik também falecidos. Meus pais tiveram três filhos: eu, Nelson (falecido) e Lídia. Saímos de Botucatu por volta de 1960 e viemos morar em São Paulo.” Sra. Miriam e eu conversamos depois deste e-mail. E, assim, contou que nasceu em Botucatu, como os irmãos. Os avós, sr. Hersh e Gitlea (Henrique e Augusta) Vinik foram morar em Botucatu ao chegarem da Bessarábia com os primeiros filhos, tendo mais três filhos quando se estabeleceram na cidade paulista. Tiveram duas lojas de roupas e móveis. Os pais da sra. Miriam conheceram-se na capital paulista. A mãe, sra. Slima, também de origem bessarabe, e o pai, sr. Isaac, foram morar também em Botucatu. Sra. Miriam veio para São Paulo aos 16 anos junto com a tia, sra. Maria, mãe da sra. Regina Herchcovitch, e a avó. Casou-se com o prof. Simão Maghidman, e teve três filhos: Eduardo, Marcelo e Sandro. A comunidade judaica de Botucatu era muito pequena, não havia sinagoga, as reuniões era pontuais, porém o avô era religioso, celebravam Yom Kipur, faziam Kaparót. A preocupação da família era com a continuidade do judaísmo. Em São Paulo morou no Bom Retiro, e trabalhou em empresa de engenharia, e, também, na Escola Politécnica. A família mudou-se posteriormente, as famílias da comunidade judaica de Botucatu acabaram saindo também da cidade. Alguns familiares de sobrenome Vinik também se estabeleceram em Sorocaba e em São Pedro.

Simone Fridman Assayag contou que toda a família materna, Vinik, morou em Botucatu, e indicou a mãe, sra. Sarita, nascida em São Paulo, e as tias, sra. Issea e Rute, para conversarmos, comentou que elas são primas de Miriam Maghidman. A avó de Simone, sra. Cyma(Cema), é irmã do pai de Miriam, sr. Isaac, e irmã de sra. Maria, mãe de Regina Herchcovitch. Sra. Issea Rosenberg contou que se lembra das viagens de trem a Botucatu, da loja de móveis. Ela, as irmãs e os pais moraram em Israel, porém retornaram ao Brasil. O pai era da Bessarábia. Sra. Rute Steinic, por e-mail, escreveu: “Éramos da família Vinik, Henrique e Augusta. Eu e minha irmã íamos nas férias andar de charrete e no único cinema...”

Regina Herchcovitch, por e-mail, contou: “Nasci em Botucatu em 21 de outubro de 1945. Sou filha de Masea Vinic, que teve três filhos: Waldemar (falecido), Isaac com 77 anos e eu. Minha mãe era filha de Henrique e Augusta Vinik, e mais um irmão, Isaac, sendo que os quatro vieram morar em Botucatu, direto da Europa. Aqui no Brasil meus avós tiverem mais três filhos. Passei minha infância e parte da adolescência em Botucatu. Meus avós tinham uma loja de móveis chamada “Casa Brasil” e uma loja de roupas brancas, na rua Amando de Barros. Também uma fábrica de colchões. Toda a família trabalhava junto nas lojas. A segunda geração era composta por mim, com mais dois irmãos e três primos sendo Miriam, Nelson e Lídia Vinic todos nascidos em Botucatu. Com o passar do tempo viemos morar em São Paulo. Fiquei feliz em ler que fizemos parte de sua narrativa...”

Sra. Rute Reibscheid deixou um comentário no blog que escrevo, e encaminhou-me também um e-mail, onde registrou: “Curiosamente, essas famílias de Botucatu não mencionam Samuel Marek Reibscheid, médico, que se mudou ainda jovem e se estabeleceu na cidade. Vinculou-se, à então recém-criada Faculdade de Medicina da UNESP. Teve uma vida acadêmica brilhante. Acabou de completar 80 anos. Samuel mora em Botucatu... Hoje eu vi no Facebook sobre os judeus de Botucatu e estranhei que ninguém tenha mencionado a família do Dr. Samuel M. Reibscheid, que vem a ser primo-irmão do meu marido.” A partir desta indicação, conversei com o dr. Samuel Marek Reibscheid, formado em medicina pela USP com especialização em cirurgia torácica, embora em São Paulo tenha participado do grupo de Cirurgia Cardíaca experimental. Ajudou a montar a disciplina de Cirurgia Geral e Gastroenterologia, e montou a disciplina de Cirurgia Torácica, na Faculdade de Medicina de Botucatu, no final de 1968. Desde então reside na cidade, onde nasceram as duas filhas e o filho. Os pais do dr. Samuel, de famílias provenientes da Europa, viveram na Colômbia, onde dr. Samuel e o irmão, sr. Wilfrido, nasceram. Mudaram-se para o Brasil e moraram em São Paulo. A esposa de dr. Samuel, sra. Perola, também nasceu na Colômbia. Em relação à comunidade judaica da cidade, comentou que poucas famílias judias moravam na cidade, lembrando-se, no entanto, da família Zumerkorn e da família Segre.

No Facebook, na página Jewish Brasil, Paulo Elman Sister comentou: “Fiquei muito emocionado com artigo de João Figueroa. Sou bisneto do Paulo Goldenberg e da Sônia da "Casa Botucatu" na Amando de Barros e me chamo também Paulo por causa dele. O nome de minha avó era Rachel Goldenberg Elman, filha do Paulo e da Sônia. Mostrei também para minha mãe, que é neta deles (Paulo e Sonia). Ela sempre me conta histórias de lá e da infância feliz que teve lá até os treze anos. Vamos escrever paro autor e para o João Figueroa. A comunidade Judaica de lá era muito unida.... Um abraço”.

Felipe Moreno, também no Facebook, escreveu: “Minha tia também morou um bom tempo em Botucatu, e meus pais, antes mesmo de eu nascer, foram visitar a cidade algumas vezes. Minha tia, quase centenária, não perdeu o sotaque caipira até hoje. A foto, que a minha tia me deu, da casa dela lá, aparecem minha tia, uma amiga dela, e minha mãe com meu irmão quando ele era pequeno. Meu pai está no portão da casa. Histórias eu não tenho, porque na verdade eu não vivi esse período. Só vim muito depois”. 

Felipe compartilhou a foto, a mesma que sra. Maghidman encaminhou, e a descrição: “Da esquerda para a direita, minha mãe Frida (Menea) e meu irmão David, minha tia Shlime, que morava em Botucatu (a foto foi tirada na frente da casa dela). Depois vem uma moça que morava lá e amiga da minha tia e as crianças que eu não saberia dizer quem são, e o meu pai Henrique (Hersh) no portão da casa, meio sem jeito. Esta foto ganhei da minha tia e acho ela incrível!”

Já na página Mundo Judaico, no Facebook,  Lilian Elman lembrou: “Família Goldenberg. Meu avô Paulo Goldenberg, casado com minha avó Sônia, tinha uma boa loja, a "Casa Botucatu! Passei todas as férias de três meses ou mais, de recém nascida até os treze anos de idade!! Amava Botucatu e tinha uma turma grande de amigos e a maioria idish. Mas também armênios e árabes, mas como se fossem uma grande família. Meu avô era muito respeitado e foi líder do grupo por bom tempo. Morro de saudades de um tempo dos mais felizes da minha vida!!! A loja ficou durante muitos anos sempre na rua Amando de Barros que na época era a principal da cidade. Eu ia de trem com meu pai..o "Maria Fumaça". Adorável infância!! Lá pelos idos de 1940 até 1953...”

No Blog, a filha do sr. Germano Grimblat contou: “Germano Grimblat mora em São Paulo com a família, mas tem muita história de infância em Botucatu, sou a filha dele, se quiser se comunicar com ele deixo aqui seu email. Vale a pena. Obrigada...” E Roberto Borenstein comentou que o irmão fez faculdade em Botucatu, tendo morado lá de 1971 a 1975...vamos entrar em contato. 

Você ou seus familiares também fazem ou faziam parte da comunidade judaica que reside ou residiu em Botucatu? Deixe um comentário ou escreva para myrirs@hotmail.com

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