http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1881.jpg Planta da Cidade de São Paulo levantada pela Companhia Cantareira de Esgotos em 1881 |
Alguns comentários no Facebook, e artigos publicados
nos remetem á comunidade judaica proveniente da Alsacia-Lorena para São Paulo. Em
“ArtiSion-Sionismo e Hasbará”, José
Roitberg escreveu: “A sinagoga União Israelita
do Brasil, estabelecida no RJ em 1873 por alvará assinado em decreto por D.
Pedro II foi fundada, excencialmente por judeus vindos da Alsácia-Lorena.
Sabe-se que a União existia desde 1863, mas sem alvará”. “Em Jews”, Comino
Caleb Guelpa Netto III comentou: “Très
intéressant!” e Yvonne Schvarcz
Pereira falou: “É sempre bom conhecer a nossa
gente.” Já em “Mundo Judaico” Breno Lerner indicou
sra. Malu Toledo: “A Malu é
descendente de judeus alsacianos”. Encaminhei mensagem e aguardo um retorno. Na página “Hasbara&Sionismo”, Salomon Mizrahi comentou
também: “Parece que algumas ruas de SP levam nomes de Judeus
da Alsácia, como, Nothmann, Glette, Schaumann. Confere esta informação?” Sim, é verdade...Sr. Nachman Falbel, em seu
livro “Judeus no Brasil: estudos e notas” (Ed. Humanitas, 2008), informa que “A
Guerra Franco-Prussiana de 1871 motivou a que muitos israelitas das regiões da
Alsacia e Lorena, incorporadas à Prussia, se dirigissem ao Brasil,constituindo
uma verdadeira corrente imigratória, cuja contribuição cultural e econômica
ainda está para ser avaliada. Seus nomes estão hoje afixados em várias ruas de
São Paulo, tais como os Netter, os Burchard, os Nothman e muitos
outros...introduzindo as casas de modas e joalherias...” Lemos também que “Em São Paulo, a situação era outra,
pois o famoso dentista Samuel Eduard da Costa Mesquita improvisou-se como
rabino na pequena comunidade existente então na década de 1870. Somente em
1897, conforme notícia encontrada no periódico Archives Israelites, daquele
ano, verificamos que os judeus da Alscaia e Lorena e de outros lugares
constituíram-se em comunidade por iniciativa de um membro da família Worms, que
já decidira providenciar a vinda de um shochet da Hungria, de nome Samuel
Klein, que também exercia as funções rabínicas, abrangendo a orientação sobre a
pureza da alimentação...e que as autoridades, ou o presidente do Estado haviam
autorizado a criação de um cemitério particular para a comunidade judaica, que
estava em franco desenvolvimento. Lamentavelmente nada se sabe a respeito desse
cemitério, nem sequer onde se localizava” E completa: “mas, da comunidade
alsaciana do século passado, nada restou.” Estas informações constam também do
artigo de Dra. Anat Falbel(Unicamp/IFCH) “Como cantaríamos o canto do Senhor
numa terra estrangeira?”(Salmos, 137,4)
http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1905.jpg Planta Geral da Cidade de São Paulo 1905 |
Na Revista Morasha, Edição 69 - Setembro de 2010, no artigo “Os judeus de São Paulo” vemos que “Anteriormente, em 1808, Portugal,
para resistir o avanço de Napoleão sobre o território lusitano, tinha- se
aliado à Inglaterra e, por pressão desta potência não-católica, derrubara a
proibição da entrada de protestantes e judeus no país. Isto foi o alicerce da
comunidade judaica na cidade São Paulo, já que na segunda metade do século 19,
chegaram judeus vindos da França. No caso paulistano, não há um personagem que
possa ser registrado como o primeiro judeu a viver abertamente como tal na
cidade. Há uma relação de comerciantes franceses, nomeadamente da
Alsácia-Lorena, que por viverem numa zona de desconforto, disputada pela França
e Prússia, foram atraídos pelas oportunidades comerciais que surgiram com a
comercialização do café. Aqui eles negociavam roupas, relógios, jóias e artigos
finos importados da França para os consumidores locais. Esse tipo de imigrante
vivia em trânsito. Sua permanência na cidade era com prazo determinado. Ele
vinha com a família, negociava por alguns anos e depois revendia o seu
estabelecimento para um parente ou conterrâneo e voltava para a aposentadoria,
na França. Dado o seu caráter passageiro, eles não criaram nenhuma instituição
religiosa na cidade. Normalmente o culto era feito no seio da família. Mesmo
assim, eles são importantes, pois além do seu pioneirismo, deixaram uma imagem
positiva dos judeus, ajudando a aceitação dos que viriam depois. São muitos os
alsacianos que se celebrizaram na cidade. Porém, para uma história dos judeus
em São Paulo, nos interessa o comissário-agente do Consulado francês, Manfred
Meyer (1841-1930), que, ao lado de suas obrigações diplomáticas, também
mantinha atividades comerciais e industriais...”
Em “Memórias
da Comunidade Israelita de S. Paulo - My Memories on the Jewish Community of S.
Paulo” (GERAÇÕES / BRASIL- publicação da Sociedade Genealógica Judaica do
BrasilMaio 2000, vol. 9), sr. Marcos Firer, escreve: “Na entrada do Cemitério
Israelita de Vila Mariana um túmulo chama a atenção, com as seguintes
inscrições: Um Tal Ulmann, nascido na Alsácia em 1822, falecido em Ribeirão
Preto em 1906 / Um Tal Ulmann, nascido no Peru em 1856, falecido em Ribeirão
Preto em 1908 / Um Tal Gelber, nascido em 1888 na Aústria e falecido na Suiça
em 1913”1 São três gerações, pai, filho e genro do filho, que entretanto,
através de suas ramificações representam quase 150 anos duma familia judia no
Brasil. O primeiro Ulmann deixou a Alsácia no decorrer da revolução de 1848,
que por sua vez, forçou o início da imigração dos judeus alemães para os EUA,
Perú, que por sua vez, em virtude das riquezas minerais, serviu como ponto de
atração para jovens aventureiros. Porém a rigorosa influência jesuítica
perseguia os judeus, forçando-os à conversão ou a emigração para outros paises
latino-americanos mais tolerantes. O Brasil do tempo de D. Pedro II já abolira
as restrições religiosas e a riqueza dos barões de café, atraia os mercadores
de origem mista franco-alemã da religião mosaica. Portanto o velho Ulmann se
estabeleceu na chamada Princesa do Café, Ribeirão Preto, onde por mais de
trinta anos manteve um florescente estabelecimento comercial. As filhas e
netas, por sua vez formaram famílias, casando-se com imigrantes de origem
russa, lituana, etc. Por exemplo, uma filha do velho Ulmann, se casou com Cezar
Gordon, que era por sua vez, cunhado do Hessel Klabin. As filhas do Gelber,
casadas com Kadischewitz, Siegelman e outros deram raizes a várias famílias.
Para ilustrar, a viúva do Berco Udler, neta do Gelber, tataraneta do velho
Ulmann já é avó, portanto já são sete gerações duma ininterrupta identidade
judaica... Apesar de cronologicamente pertencer a esse grupo, a
primazia na forja duma mentalidade judia brasileira, os elementos alsacianos,
se isolaram. Talvez, por não se tratar de migrantes, que deixaram atrás, a
pobreza, a perseguição, cuja única riqueza era o talit e tefilim além das
tradições e a vontade de vencer”... Sr. Marcos Firer continua: “Os alsacianos, vieram de
famílias, bem abastadas e em geral, atraídos pelos nababescos turistas
brasileiros, que ao comprarem jóias, artigos de arte e vinhos finos em Paris e
Lion, foram vistos por eles, e assim resolveram abrir filiais tanto no Brasil,
bem como na Argentina. Já por volta de 1840/1850 se instalam tanto em S. Paulo,
Rio até Pelotas, filiais com nomes tradicionais judaicos. Kahn, Levy, Aron,
Israel, Weil, Hanau, Worms, Grumbach, Netter, Frank, Koblenz, Haenel, Loeb,
Jacob, Nathan, etc...Já que
a Alsácia passava do domínio francês para alemão e vice-versa. Eram cultos e
justiça seja feita, Strasbourg, Metz, Colmar, Mulhause, mesmo antes e durante a
emancipação napoleônica era a sede da erudição talmúdica, bagagem trazida para
o Brasil, além do amor pela a civilização européia, no melhor sentido da
palavra, existia um certo orgulho e dignidade judaica, porém discreta e
introvertida. Pode-se dizer, que durante um século perdurou o dominante papel
da “colônia alsaciana” seria exagerado chamá-la de francesa. Na época ela
representou um certo poder econômico, mas discreto, por exemplo a maioria dos
prédios no chamado triângulo (Rua 15 de Novembro, Direita, São Bento, Quitanda)
pertencia aos Netters, Arons, Levy, Worms, Grumbach, Michel. Mas, com a crise
do café e o declínio dos “barões”, eles foram obrigados a vender as
propriedades e fechar as casas de luxo. Interessante notar, que cada uma dessas
famílias, nutria o sonho, ao se retirar do comércio, passando-os para genros,
sobrinhos, retirar-se na velhice para Paris, Nice. Como já frisei, o Brasil era
uma colônia, a metrópole era Paris, aliás, ciclo interrompido pela Segunda
Guerra e Nazismo, mas retomado nas últimas décadas. Seja como for, a “colônia”
teve um papel histórico, deu aos judeus um certo ar de respeitabilidade em
contraste dos elementos indesejáveis, que entraram no Brasil, no fim do século,
através de Buenos Aires e que desmerecidamente popularizaram o nome das
“Polacas”. Ao lado negativo da colonia deve se anotar uma falta de compromisso
aos problemas judaicos mundiais, as contribuições parcas e raríssimas para os
fundos, apesar de terem participado para as necessidades locais e beneficentes.
Do outro, lado nunca negaram a identidade judaica, e, durante gerações
mantiveram um judaísmo formal evitando até pouco tempo conversão e casamentos
mistos. É talvez um fim melancólico, depois de cem anos, depois de manter uma
posição importante no comércio, depois de fundar cidades e indústrias (por
exemplo Osasco foi a cria dos Levys e Heimans – Cerâmica Hervy) deles restam só
túmulos nos cemitérios..."
Você possui alguma informação sobre a comunidade judaica que chegou a São paulo, proveniente da Alsácia-Lorena? Escreva para myrirs@hotmail.com