domingo, 19 de janeiro de 2020

Publicações e comentários sobre a comunidade judaica da Alsacia-Lorena em São Paulo

http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1881.jpg
Planta da Cidade de São Paulo
levantada pela Companhia Cantareira de Esgotos em 1881

Alguns comentários no Facebook, e artigos publicados nos remetem á comunidade judaica proveniente da Alsacia-Lorena para São Paulo. Em “ArtiSion-Sionismo e Hasbará”, José Roitberg escreveu: “A sinagoga União Israelita do Brasil, estabelecida no RJ em 1873 por alvará assinado em decreto por D. Pedro II foi fundada, excencialmente por judeus vindos da Alsácia-Lorena. Sabe-se que a União existia desde 1863, mas sem alvará”.Em Jews”, Comino Caleb Guelpa Netto III comentou: “Très intéressant!” e  Yvonne Schvarcz Pereira falou: “É sempre bom conhecer a nossa gente.” Já em “Mundo Judaico” Breno Lerner indicou sra. Malu Toledo: “A Malu é descendente de judeus alsacianos”. Encaminhei mensagem e aguardo um retorno. Na página “Hasbara&Sionismo”, Salomon Mizrahi comentou também: “Parece que algumas ruas de SP levam nomes de Judeus da Alsácia, como, Nothmann, Glette, Schaumann. Confere esta informação?” Sim, é verdade...Sr. Nachman Falbel, em seu livro “Judeus no Brasil: estudos e notas” (Ed. Humanitas, 2008), informa que “A Guerra Franco-Prussiana de 1871 motivou a que muitos israelitas das regiões da Alsacia e Lorena, incorporadas à Prussia, se dirigissem ao Brasil,constituindo uma verdadeira corrente imigratória, cuja contribuição cultural e econômica ainda está para ser avaliada. Seus nomes estão hoje afixados em várias ruas de São Paulo, tais como os Netter, os Burchard, os Nothman e muitos outros...introduzindo as casas de modas e joalherias...” Lemos também que “Em São Paulo, a situação era outra, pois o famoso dentista Samuel Eduard da Costa Mesquita improvisou-se como rabino na pequena comunidade existente então na década de 1870. Somente em 1897, conforme notícia encontrada no periódico Archives Israelites, daquele ano, verificamos que os judeus da Alscaia e Lorena e de outros lugares constituíram-se em comunidade por iniciativa de um membro da família Worms, que já decidira providenciar a vinda de um shochet da Hungria, de nome Samuel Klein, que também exercia as funções rabínicas, abrangendo a orientação sobre a pureza da alimentação...e que as autoridades, ou o presidente do Estado haviam autorizado a criação de um cemitério particular para a comunidade judaica, que estava em franco desenvolvimento. Lamentavelmente nada se sabe a respeito desse cemitério, nem sequer onde se localizava” E completa: “mas, da comunidade alsaciana do século passado, nada restou.” Estas informações constam também do artigo de Dra. Anat Falbel(Unicamp/IFCH) “Como cantaríamos o canto do Senhor numa terra estrangeira?”(Salmos, 137,4)

http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1905.jpg
Planta Geral da Cidade de São Paulo 1905
Na Revista Morasha, Edição 69 - Setembro de 2010, no artigo “Os judeus de São Paulo” vemos que “Anteriormente, em 1808, Portugal, para resistir o avanço de Napoleão sobre o território lusitano, tinha- se aliado à Inglaterra e, por pressão desta potência não-católica, derrubara a proibição da entrada de protestantes e judeus no país. Isto foi o alicerce da comunidade judaica na cidade São Paulo, já que na segunda metade do século 19, chegaram judeus vindos da França. No caso paulistano, não há um personagem que possa ser registrado como o primeiro judeu a viver abertamente como tal na cidade. Há uma relação de comerciantes franceses, nomeadamente da Alsácia-Lorena, que por viverem numa zona de desconforto, disputada pela França e Prússia, foram atraídos pelas oportunidades comerciais que surgiram com a comercialização do café. Aqui eles negociavam roupas, relógios, jóias e artigos finos importados da França para os consumidores locais. Esse tipo de imigrante vivia em trânsito. Sua permanência na cidade era com prazo determinado. Ele vinha com a família, negociava por alguns anos e depois revendia o seu estabelecimento para um parente ou conterrâneo e voltava para a aposentadoria, na França. Dado o seu caráter passageiro, eles não criaram nenhuma instituição religiosa na cidade. Normalmente o culto era feito no seio da família. Mesmo assim, eles são importantes, pois além do seu pioneirismo, deixaram uma imagem positiva dos judeus, ajudando a aceitação dos que viriam depois. São muitos os alsacianos que se celebrizaram na cidade. Porém, para uma história dos judeus em São Paulo, nos interessa o comissário-agente do Consulado francês, Manfred Meyer (1841-1930), que, ao lado de suas obrigações diplomáticas, também mantinha atividades comerciais e industriais...”

Em “Memórias da Comunidade Israelita de S. Paulo - My Memories on the Jewish Community of S. Paulo” (GERAÇÕES / BRASIL- publicação da Sociedade Genealógica Judaica do BrasilMaio 2000, vol. 9), sr. Marcos Firer, escreve: “Na entrada do Cemitério Israelita de Vila Mariana um túmulo chama a atenção, com as seguintes inscrições: Um Tal Ulmann, nascido na Alsácia em 1822, falecido em Ribeirão Preto em 1906 / Um Tal Ulmann, nascido no Peru em 1856, falecido em Ribeirão Preto em 1908 / Um Tal Gelber, nascido em 1888 na Aústria e falecido na Suiça em 1913”1 São três gerações, pai, filho e genro do filho, que entretanto, através de suas ramificações representam quase 150 anos duma familia judia no Brasil. O primeiro Ulmann deixou a Alsácia no decorrer da revolução de 1848, que por sua vez, forçou o início da imigração dos judeus alemães para os EUA, Perú, que por sua vez, em virtude das riquezas minerais, serviu como ponto de atração para jovens aventureiros. Porém a rigorosa influência jesuítica perseguia os judeus, forçando-os à conversão ou a emigração para outros paises latino-americanos mais tolerantes. O Brasil do tempo de D. Pedro II já abolira as restrições religiosas e a riqueza dos barões de café, atraia os mercadores de origem mista franco-alemã da religião mosaica. Portanto o velho Ulmann se estabeleceu na chamada Princesa do Café, Ribeirão Preto, onde por mais de trinta anos manteve um florescente estabelecimento comercial. As filhas e netas, por sua vez formaram famílias, casando-se com imigrantes de origem russa, lituana, etc. Por exemplo, uma filha do velho Ulmann, se casou com Cezar Gordon, que era por sua vez, cunhado do Hessel Klabin. As filhas do Gelber, casadas com Kadischewitz, Siegelman e outros deram raizes a várias famílias. Para ilustrar, a viúva do Berco Udler, neta do Gelber, tataraneta do velho Ulmann já é avó, portanto já são sete gerações duma ininterrupta identidade judaica... Apesar de cronologicamente pertencer a esse grupo, a primazia na forja duma mentalidade judia brasileira, os elementos alsacianos, se isolaram. Talvez, por não se tratar de migrantes, que deixaram atrás, a pobreza, a perseguição, cuja única riqueza era o talit e tefilim além das tradições e a vontade de vencer”... Sr. Marcos Firer continua: “Os alsacianos, vieram de famílias, bem abastadas e em geral, atraídos pelos nababescos turistas brasileiros, que ao comprarem jóias, artigos de arte e vinhos finos em Paris e Lion, foram vistos por eles, e assim resolveram abrir filiais tanto no Brasil, bem como na Argentina. Já por volta de 1840/1850 se instalam tanto em S. Paulo, Rio até Pelotas, filiais com nomes tradicionais judaicos. Kahn, Levy, Aron, Israel, Weil, Hanau, Worms, Grumbach, Netter, Frank, Koblenz, Haenel, Loeb, Jacob, Nathan, etc...Já que a Alsácia passava do domínio francês para alemão e vice-versa. Eram cultos e justiça seja feita, Strasbourg, Metz, Colmar, Mulhause, mesmo antes e durante a emancipação napoleônica era a sede da erudição talmúdica, bagagem trazida para o Brasil, além do amor pela a civilização européia, no melhor sentido da palavra, existia um certo orgulho e dignidade judaica, porém discreta e introvertida. Pode-se dizer, que durante um século perdurou o dominante papel da “colônia alsaciana” seria exagerado chamá-la de francesa. Na época ela representou um certo poder econômico, mas discreto, por exemplo a maioria dos prédios no chamado triângulo (Rua 15 de Novembro, Direita, São Bento, Quitanda) pertencia aos Netters, Arons, Levy, Worms, Grumbach, Michel. Mas, com a crise do café e o declínio dos “barões”, eles foram obrigados a vender as propriedades e fechar as casas de luxo. Interessante notar, que cada uma dessas famílias, nutria o sonho, ao se retirar do comércio, passando-os para genros, sobrinhos, retirar-se na velhice para Paris, Nice. Como já frisei, o Brasil era uma colônia, a metrópole era Paris, aliás, ciclo interrompido pela Segunda Guerra e Nazismo, mas retomado nas últimas décadas. Seja como for, a “colônia” teve um papel histórico, deu aos judeus um certo ar de respeitabilidade em contraste dos elementos indesejáveis, que entraram no Brasil, no fim do século, através de Buenos Aires e que desmerecidamente popularizaram o nome das “Polacas”. Ao lado negativo da colonia deve se anotar uma falta de compromisso aos problemas judaicos mundiais, as contribuições parcas e raríssimas para os fundos, apesar de terem participado para as necessidades locais e beneficentes. Do outro, lado nunca negaram a identidade judaica, e, durante gerações mantiveram um judaísmo formal evitando até pouco tempo conversão e casamentos mistos. É talvez um fim melancólico, depois de cem anos, depois de manter uma posição importante no comércio, depois de fundar cidades e indústrias (por exemplo Osasco foi a cria dos Levys e Heimans – Cerâmica Hervy) deles restam só túmulos nos cemitérios..."

Você possui alguma informação sobre a comunidade judaica que chegou a São paulo, proveniente da Alsácia-Lorena? Escreva para myrirs@hotmail.com

2 comentários:

Agradeço o seu comentário. Anote seu nome e e-mail para receber um retorno...