A busca por informações sobre o Bom Retiro, a comunidade
judaica bessarabe, a sinagoga Bessaraber Farband, e demais
sinagogas do bairro, da capital e do interior paulista permanece. Neste sentido, sr. David
Milstein por e-mail escreveu: “Meu tio, sr. Moishe Roysen, foi, durante toda a
minha infância, o Chazan dos bessarabe. Seu filho, David (meu zeide) foi líder político na zona norte
e vereador por São Paulo. A Avenida que corta o Center Norte leva o nome de meu
tio. Momeligh, tote mome. Minha mãe era de Iedenitz, cujos descendentes
publicaram um livro. Ela era Schnaiderman. As cidades vizinhas
eram Sucarohn e Britshon , todas margeavam o Rio Dniester.”
Sr. David encaminhou também a crônica “Marina, minha neta. Será que ela vai me chamar de Zeide?”, com o seguinte comentário: “Virou best-seller na internet judaica, e até traduziram para o espanhol e inglês. Minha neta é a beleza do avô, a inteligência do avô, mas o branco dos olhos é sefaradí. Vários avós me cercaram dizendo: "Eu é que deveria ter escrito essa crônica". Daí, virei cronista”. Esta crônica foi publicada no jornal da sinagoga O Shil (Jornal d’O SHIL) em 2011/ 5772. Sr. David acrescentou: “Roberto Strauss fazia comigo o jornal interno do Shil do Itaim, onde colocava minhas crônicas.”
Aqui compartilho a crônica, com a autorização do sr. David Milstein:
Será que ela vai me chamar de Zeide?
"Sei muito
pouco. Na verdade, quase nada a respeito de meus avós.
O nome David
que carrego comigo é de meu avô materno; e o Noah de meu irmão é do
nosso avô paterno. Minha memória tem guardado meu tio Abraham Z”L” descrevendo
a saída repentina de meu pai, e mais 10 irmãos, da casa de meu avô, quando a
revolução bolchevique bateu às portas deles, e cada um tomando seu caminho. Brasil,
Israel e Estados Unidos foram os destinos e ninguém sequer olhou pra traz.
No pequeno shtetl
de Yaruga, às margens do rio Dniester, permaneceu o casal de velhos, meus avós,
e a espera paciente dos poucos invernos que ainda lhes restava. De Yedenitz, na
Bessarabia, saiu minha mãe, que desembarcou em Olinda e foi ao encontro de seu
irmão Zisse, residente na capital da Paraíba, João Pessoa. Tudo aconteceu na
década de 1930 e, com certeza, o peso maior da bagagem era composto pela dor da
separação, pela dúvida com um futuro incerto e uma grande dose de yidishkeit.
Não conheci meus avós.
Não tive
nunca, ninguém pra chamar de zeide.
Há 4 meses
veio ao mundo Marina, minha primeira neta, com seus cristalinos olhos azuis para
iluminar nossas vidas.
Será que ela
vai me chamar de Zeide? Eta preocupação mais imbecil, a minha. Pois todo
mundo corre atrás de outros títulos. Daniela, minha filha mais velha se assina
PhD. Alexandre, meu genro é advogado, doutor. No nosso Shil estou rodeado de CEO’s,
assessores, professores, doutores, aspones de todos os tipos e extrações, rabinos,
bacharéis e mestres .. Mas, Ribonó shel haOlam, eu não quero nenhum desses
diplomas, ninguém precisa me chamar de doutor. Cá entre nós eu só queria agora
no finalzinho do segundo tempo que alguém me chamasse de Zeide. Motivo?
Não Tenho. Eu só queria fazer parte do universo das palavras,
que nesse
tresloucado século 21 ainda insisto em falar. Palavras que ouvi em meus
primeiros dias de vida e que hoje ninguém sequer balbucia: Naches, Mechaie,
Tote, Mome, Bobe, Momeligues e Puikale. Vocês, Paulos, Brunos,
Sérgios e Ricardos, acompanhados de Cláudias,
Stephanies e
Mônicas que tão rapidamente absorveram o download, delete, page down,
facebook, milkshake e notebook, será que não teriam um pequeno
espaço para o intraduzível vocabulário de nossos avós?
Terei falhado na minha missão de vida se minha neta não me chamar de Zeide. Terei ajudado a colocar mais uma pá de cal naquilo que já foi uma pujante obra de literatura, cinema e canção. Lembro como se fosse ontem, quando aos domingos visitávamos meu tio Moysés Royzen no Tucuruvi, e naquele preguiçoso ônibus Anhangabaú- Tucuruvi, da linha 042, meus pais evitavam conversar em ídiche. Medo. A Segunda Guerra havia recém terminado e não tínhamos ainda Medinat Israel.
Medo, nunca
mais. Passados quase 70 anos e levamos para o campo santo nossas Chaikes,
Mindels, Sures, Yankels, Moishes e Shloimes.
Será que os
que ficaram não devem carregar nada desse delicioso fardo cultural que ainda
pode terminar num banquete de guefilte fish, vareneques, qnichiklech
mit abissale shmaltz?
Marina, minha querida primeira neta, nossa mais recente razão de viver, teu velho avô não tem muito a pedir para você.
Eu tenho sim é que falar com o Patrão, lá em cima, e pedir por você saúde, felicidade e que esta vida te traga somente alegrias. E se, no meio de toda essa parafernália em que vivemos, entre as aulas que você certamente terá de inglês, francês, bat mitzvá, karatê, judô, natação, rikudei am, yoga e aquele namoradinho que não para de telefonar, se der um tempinho:
Será que você poderia me chamar de ZEIDE???”
Tocante. Esperamos que a pequena Marina tenha aprendido êsse vô de zeide, mantendo seu velho coração yidish aquecido, radiante.
ResponderExcluirConheço muitobem o Davi foi meu madrich no Dror Hichud Habonim e meu vizinho na rua Vitorino Carmilo minha mãe tem era da Bessarabia de Britchon donde vieram meus avós maternos e também meus tios
ResponderExcluirArtur Wasserfirer
ResponderExcluirMe emocionei com esse lindo texto. Nossa tradição deve ser mantida pelos zeides e bobes.
ResponderExcluirConheci David Roysen , conheci Zisse era meu avvõ José, que morava na Paraíba , depois vieram para São Paulo, me emcionei muito agora , só que meu sobrenome é sem S , algum erro na chegada ao Brasil, vieram com meu avô minha tia avó Otília , irma do meu avô .Me emocionei muito obrigada.
ResponderExcluirAgradeço a todos os comentários!!!
ExcluirEstou confusa sem saber quem é o autor do texto. Se o autor é sobrinho do tio Moishe, como ele é neto do David Roysen (já que o David era filho do tio Moishe)? Eu sou Selma Royzen Fisch, neta do Jacob Royzen (que era irmão do tio Moishe, e da tia Rachel)
ResponderExcluirSelma ,peço perdão pela confusão . O David Roysen Z"L" era meu primo irmão , e carregamos o nome de nosso avô paterno : DAVID
Excluir.Ashkenazim somente dão o nome às crianças de pessoas já falecidas. Dos Schnaiderman que viveram no Brasil somente sei dos 3 : Zisse ( José) Eti ( Otilia ) e Shifra ( Zina , minha mãe que descansa em Israel num campo santo com vista para o Mediterrâneo.) Meus pais fizeram aliá em 1972.
Prá fechar a hisdtoria : Teu rio Moishe Roisen era casado com minha tia Otilia.
Parabéns pela preocupacao que é a mesma que a minha! Será que seremos os último?
ResponderExcluirAgradeço a todos os comentários!!
ResponderExcluirEu sou dessa época conheci o David do tocurovi meus pais também eram da BESARABIA meu pai me contava que nadava neste rio hoje moro ISRAEL
ResponderExcluirEu sou dessa época conheci o David do tocurovi meus pais também eram da BESARABIA meu pai me contava que nadava neste rio hoje moro ISRAEL
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