segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

A Comunidade judaica de Piracicaba - por Paulina Ben-Ami

Jornal de Piracicaba 01/08/1994
Foto enviada por Marcelo Rosenthal

Por e-mail, sra. Paulina Ben-Ami, Rosenthal de solteira, escreveu sobre sua história, relacionada à Piracicaba e à comunidade judaica da cidade.

Sra. Paulina conta que leu os e-mails encaminhados e se emocionou muito: “Lembranças dos meus tempos de infância e parte da juventude em Piracicaba! Como todos os outros judeus da comunidade de Piracicaba, meus pais - Pedro e Anna Rosenthal - vieram da Bessarábia ao Brasil (em 1931). Moraram no início em Barretos, e mudaram para Piracicaba em 1941. O motivo da mudança para Piracicaba foram rumores de que movimentos nazistas estavam se fortalecendo na região com a finalidade de atacar os judeus. Meu pai fez o exército na România, e sabia o que era o antissemitismo. Ele fez uma pesquisa de outros municípios e concluiu que Piracicaba seria um local mais seguro e agradável para morar.

Chegamos em Piracicaba em abril de 1941. Moramos inicialmente numa casa na Rua da Boa Morte e meu pai saia todos os dias bem cedo com um empregado de charrete, com 2 cavalos, com mercadorias para vender

a prestação nos bairros de Piracicaba. Tínhamos, também, em casa, um quarto com mercadorias (tecidos, ternos, roupas de inverno) e minha mãe atendia os fregueses que vinham em casa. Mais tarde, meu pai começou a negociar com móveis novos e usados, que ficavam na grande garagem fechada, que fazia parte da casa. Depois de alguns anos, em 1947, meu pai achou uma loja na Rua Governador Pedro de Toledo, perto de Mercado Municipal, com uma residência adequada atrás da loja, e nos mudamos para lá. 

Nós éramos seis filhos: (i) Elias Rosenthal (1932-1970), nascido em São Paulo, terminou o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, fez o ginásio e o cientifico conjuntamente com a Escola Normal no Colégio Sud Menucci. Terminado o colegial, mudou-se para São Paulo, onde estudou na Faculdade de Odontologia e Farmácia da USP, e exerceu a profissão de cirurgião dentista durante toda sua vida. Foi também o criador do IMOSP – Instituto Museu e Biblioteca de Odontologia de São Paulo Dr. Elias Rosenthal, localizado em Santana, São Paulo, considerado um dos melhores museus desta classe na América Latina. Outras atividades: atuou na Sociedade dos Jovens Israelitas de Piracicaba (1945-48); na Escola Bialik (1955-1985); Fundo Comunitário (1970-77) e Bnai Brith (1982-1990).  Era casado com Anna Rosenthal, de Jundiai. (ii) Ester (Rosenthal) Weiser (1933-1972) se formou professora no Sud Menucci mas não exerceu a profissão. Era casada com Maks Weiser.  Faleceu num acidente de carro, a caminho de São Paulo com a Glaucia, a filha mais velha. O segundo filho, Roberto Weiser, mora há muitos anos em São Paulo e tem duas filhas, uma delas mora em Israel. A filha mais nova da Ester, Marisa Weiser Carvalho (nascida em 1959), o esposo Pedro Carvalho, e as filhas Gisela e Stella moram em Piracicaba, onde tem uma escola CEL-LEP para ensino de inglês e outras línguas. (iii) Rosa (Rosenthal) Goldchmit (1934) mudou-se para São Paulo quando o Elias se mudou, dirigiu uma loja de roupas feitas que meu pai comprou, até que se casou em 1960 com Dr. Marcos Goldchmit, médico oftalmologista. (iv) Eu, Paulina (Rosenthal) Ben-Ami (nascida em 1936) estudei até o primeiro ano científico no Colégio Sud Menucci e mudei para São Paulo com meus irmãos Elias e Rosa, onde terminei o secundário no Colégio Presidente Roosevelt, e estudei Química na Faculdade da Universidade de São Paulo. Em 1959, mudei para Israel, onde prossegui com o estudo de mestrado em Química, na Universidade Hebraica de Jerusalém, depois trabalhei no Escritório de Patentes de Israel, em Jerusalém, e na Companhia Yeda de Transferência de Tecnologia do Instituto Weizmann de Ciências, e trabalhei para a ONU, administrando cursos sobre patentes no Brasil e em outros países. Em 2001, abri meu próprio escritório de patentes para escrever, e depositar patentes de israelenses no exterior e patentes de estrangeiros em Israel. Fui casada com Dr. Issachar Ben-Ami, professor na Universidade Hebraica de Jerusalém. (v) Jayme Rosenthal (1940-2014) era advogado e comerciante em Piracicaba. Era ativo na Comunidade Judaica de Piracicaba, e foi seu presidente nos últimos anos. Abaixo algumas de suas principais atividades na cidade, com referência à colônia judaica. Sua esposa, Celia, e seus filhos Daniel e Marcelo, ainda vivem em Piracicaba. Sua filha Celita mora em São Paulo. (vi) Mendel Rosenthal (1945), nasceu e estudou até o fim do colegial em Piracicaba. Fez o exército em Brasília, era advogado em São Paulo, e atualmente mora no Guarujá.

Eu vejo que você está em contato com a Dra. Laurisa Cortellazzi, que era vereadora em Piracicaba, e ela iniciou o projeto de tombamento da sinagoga, mas o novo dono do edifício derrubou a sinagoga, logo depois que o projeto de tombamento desta havia sido aprovado na prefeitura. Mais detalhes você poderá obter com meu sobrinho Marcelo Rosenthal, que é advogado e filho do meu irmão Jayme Rosenthal.

O Jayme foi entrevistado muitas vezes pelo Jornal de Piracicaba sobre assuntos judaicos. Eu tenho um artigo muito interessante, publicado no Jornal de Piracicaba no dia 1 de agosto de 1994, no qual entrevistaram o Jayme e ele conta muito sobre a colônia judaica na cidade, com muitos detalhes. Ele fala também sobre a sinagoga, que foi fundada em 1927. O artigo tem uma foto da fachada da sinagoga, que em 1994 era um depósito de moveis usados. Para sua informação, o Sefer Tora veio para o kibutz Bror Chail em Israel, onde havia muitos judeus brasileiros.  No Jornal de Piracicaba há também uma foto do meu irmão Jayme, e uma foto de Adolfo Krasilchik (a esquerda de bigode, que era o chazan na sinagoga), Polacow (não sei qual Polacow) e (David) Becker. A cópia que eu tenho deste artigo é grande e, em parte, amassada. Se você não tem, vou ver se o Marcelo tem, e poderá lhe mandar...

Ah, eu também queria contar que, em 1964, estive com meu marido no Brasil na época dos feriados e passamos Yom Kipur em Piracicaba. A uma certa hora, ele viu que o chazan estava cansado, e se ofereceu para substitui-lo. Todos se admiraram da sua voz e da forma como rezou e cantou, e vieram cumprimentar meu pai. Se você precisar de mais alguma coisa, avise-me. Um abraço, Paulina”

Marcelo encaminhou a foto, tanto deste artigo citado por sra. Paulina, que aqui compartilho, como de outros artigos, além de diversas fotos, que serão compartilhadas nas próximas postagens.

Aliza, ou Laurisa Cortellazzi, também escreveu, deixando um comentário neste blog, na postagem "A comunidade judaica paulista...Piracicaba, Ribeir...": “Fico muito feliz que vocês tenham retomado a história da comunidade judaica de Piracicaba!! Espero, do fundo do meu coração, que este prédio seja reconstruído porque foi muita covardia tê-lo demolido na calada da noite!! Em reconhecimento a todos os judeus que ajudaram a construir a história de Piracicaba!! Com carinho esperança e fé...”

Pelo Facebook, na página do Pletzale, Marcelo Brick comentou: “Você é especial e está fazendo um trabalho impecável desse resgate, nos reconectando com nossas histórias e antepassados, parentes mais distantes e amigos como alguém já citou e você publicou no seu texto. A minha família nuclear (por parte de pai) parou de ir a Piracicaba após o falecimento de meu avô Germano Brick Z'l e de meu tio-avô Anchel Z'l quando minha vó foi morar no Rio, próxima da minha tia Elisa Z'l, sua filha mais velha, irmã do meu pai. Ainda íamos esporadicamente na verdade visitar os tios de meu pai, Elik e Suie, avôs dos queridos primos Mauro Krasilchik  (que contribuiu aqui nesse resgate) e Jane Z'l. Mais uma vez emocionado, só posso agradecer. Vou apresentar esse relato pra minhas filhas, Le Dor Va Dor. Muito obrigado...”

Sheila Tabajuihanski indicou Celita Rosenthal: “Veja o que sua família contribui pra essa história...”

E, em Hasbara & Sionismo, Fausto Leandro Signori escreveu: “Que legal! Marise Hannah Rosenthal é minha mãe e quando solteira era da comunidade de Ribeirão!”

Você gostaria de contar mais detalhes sobre as comunidades judaicas do interior paulista e suas sinagogas? E sobre a comunidade judaica da capital? Possui fotos, documentos?? Vamos compartilhar?? Escreva para myrirs@hotmail.com 

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