Cartão Postal de Santos
arquivo pessoal da autora do Blog
Recebi o texto abaixo de sr. Boris Dahis sobre
Santos, comunidade judaica e recordações santistas, e aqui compartilho:
Vivi
durante 15 anos na Baixada Santista, 05 dos quais dedicados à coletividade.
Após minha aposentadoria lecionei a língua hebraica, e preparei alunos para o
Bar Mitzvá. Não só ensinava a língua como pregava o amor à Israel, onde vivi
por 22 anos.
Tenho ex-alunos em Israel com os quais ainda mantenho contato e me sinto recompensado.
Lembro-me com imensa saudade do Sr. Izaak
Alperovitch Z”L, a quem o ishuv santista tanto deve, deveria lembrá-lo e
homenagear a sua lembrança. Homem integro, bondoso, culto, com vasto
conhecimento bíblico que conjuntamente com o Sr. Eli Elnekave dirigiam as
cerimônias religiosas na sinagoga. Como não havia minian na sinagoga sefaradita
Beit Zion e na ashkenazita Beit Yakov, juntaram-se as duas coletividades na
Beit Yakov, e metade das rezas de shabat eram realizadas pelo Sr. Alperovitch (ashkenazita)
e metade realizadas pelo Sr. Eli (sefaradita).
Quanto ao CCIB (Centro Cultural Israelita Brasileiro) fiz parte de sua diretoria como diretor cultural. A diretoria era atuante assim como o clube. Ali festejávamos as festas judaicas com público numeroso. Ponto curioso e interessante era nossa barraca de praia no canal 5.
Recordações santistas – Boris Dahis
Anos 1990 – Retornei à Santos. Após minha aposentadoria, e fechamento de minha firma resolvi dedicar-me mais à coletividade judaica. Ao mesmo tempo senti que estava esquecendo a língua hebraica, língua que sempre amei e estudei em meus 22 anos em Israel. Em Santos havia um professor de hebraico, ex companheiro meu de kibutz, que lecionava e preparava alunos para Bar Mitzvá resolvera, porém, se mudar para os EUA. Resolvi substituí-lo.
Naquela época não existiam no Brasil, livros de
estudo de Hebraico. Eu trouxera alguns, mas todos na língua Hebraica. Resolvi
então lecionar, e escrever um livro didático baseado em métodos israelenses
escrito em Hebraico, mas traduzido em português que me ajudasse nas lições.
Vieram depois mais 02 livros: um de gramática outro de 200 verbos hebraicos
conjugados. Fruto de 15 anos de trabalho, eles estão à venda na Livraria Sefer.
Nestas aulas conheci diversas pessoas judias ou não: padres, pastores,
emigrantes para Israel, crianças prestes a fazer o Bar- Mitzvá, etc. Dividi meu
tempo entre minhas aulas particulares, a sinagoga Beit Yakov e o CCIB (Centro
Cultural Israelita Brasilie iro) no qual fiz parte da diretoria como diretor
cultural. Sobre este período vou lhes relatar. Nada é fictício, tudo verdadeiro.
Tenente Coronel Robson veio a mim para aulas de
Hebraico, movido pela admiração que tinha pela força aérea israelense. Após a
Guerra dos Seis Dias, os pilotos israelenses e seus aviões franceses Mirage
ficaram conhecidos no mundo todo. Robson era piloto de guerra. Pilotava aviões
de caça e helicópteros. Formara-se na escola da base aérea de Pirassununga,
estudara engenharia e mais tarde medicina. Criou-se no interior de São Paulo, era extremamente
inteligente e modesto. Estava sediado na Base Aérea de Santos, na cidade de
Vicente de Carvalho próximo ao Guarujá.
Sabia que eu também fora militar, paraquedista
nas IDF e entre nós criou-se uma identidade e uma amizade de irmãos. Como
diretor cultural do CCIB eu criara um pequeno boletim com o nome de Lapid
(tocha) no qual eu relatava notícias do Clube e da comunidade judaica de
Santos. Robson aproveitou então e conseguiu-me uma tarjeta de jornalista com a
qual eu entrava livremente na Base Aérea. Graças à D´us no Brasil não há
guerra. Os pilotos raramente pilotavam aviões. Resumiam-se mais às aulas
teóricas e festas. E que festas!!! Festa alemã, francesa, americana, etc. Tudo
era motivo para uma festa. Shows, danças, bebidas e muita comida principalmente
tainha recheada na brasa especialidade de toda a Baixada Santista. E eu
participava de todas elas como convidado “jornalista”.
A Base Aérea era um lugar agradável. Casinhas
térreas e chalés de teto vermelho cercado de grama e de jardins, possuía tudo
que uma família necessitava fora e dentro de suas casas. Nelas viviam os
pilotos que junto aos seus familiares, estavam sempre de prontidão. Ficava à
beira do rio Cubatão numa paisagem pastoral, porém infelizmente beira-rio fazia
que o local fosse infestado de borrachudos aos quais eu sou alérgico. Frente à
casa de Robson sobre o rio havia uma ponte pênsil miniatura da ponte de
Londres, que sobre ela passava o trem que fazia ligação entre Santos e o
Guarujá e que era levantada cada vez que um barco necessitasse passar. A
locomotiva deste trem está exposta numa praça do Guarujá. Lembrei-me de meu pai
que me levava neste mesmo trem.
Naquele ano visitei Israel e as minhas 02 filhas e meus cinco netos que ali residem. Robson pediu-me que eu lhe trouxesse o máximo de literatura ligada à aviação israelense, um boné (vermelho) e asa de paraquedista. Queria guardá-las como lembrança minha. Tenho comigo como lembrança inseparável meu boné, asa, a tarjeta de meu batalhão que levava ao ombro e uma medalha da Guerra de Yom Ha’kipurim e não podia dar-lhe. Numa visita à minha cunhada na cidade de Beer Sheva lá existe uma base da Aeronáutica de Hatzerim e um grande museu da Aeronáutica. Tirei muitas fotos e comprei-lhe um livro que relatava os aviões, os pilotos e as façanhas da F orça Aérea Israelense. De um amigo cujo filho servia nas IDF pedi-lhe que comprasse no shekem (cantina do exército) uma boina e asas de paraquedista e presenteei-o. Soube que estava terminando o curso de medicina. Há anos que não o vejo, mas ele permanece em minha lembrança. Sempre fui muito ligado aos meus alunos e às suas histórias.
Aproximavam-se as comemorações do Yom Ha’Hatzmaut. A
diretoria do CCIB resolveu comemorar o Dia da Independência de Israel com uma
grande celebração. Resolvi complementá-la com algo inédito, e recorri ao meu
amigo Ten. Cel. Robson. Pedi-lhe a participação da Banda da Base Aérea, que era
conhecidíssima e famosa em Santos, e que tocasse os hinos do Brasil e Israel e
músicas israelenses. Pediu-me as partituras. Parte consegui-as pela Internet e
parte através de meu primo Boris Blinder Z”L, então diretor do Colégio
Israelita I.L. Peretz. O Clube lotou de pessoas, muita alegria e emoção.
A Banda veio, tocou com perfeição como sempre, as músicas israelenses e o público
os ovacionou.
Mais uma que fiquei devendo ao meu amigo Robson e
ao meu primo Boris Blinder Z”L.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO nome correto do Chazan é Ely El Gadeh,e até hoje é chazan na comunidade com a idade de 83 anos.
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