domingo, 17 de outubro de 2021

Resgate de memórias da comunidade judaica de Santos

Casamento sra. Rachel e sr. Jankiel Szafir
Realizado em São Paulo - Sinagoga da CIP
Acervo pessoal da autora do blog

Entrei em contato com sr. Jankiel Szafir no dia 12 de outubro de 2021. Sr. Jankiel nasceu na Polônia, em Zolkiewka, próximo a Lublin, em 1932. O pai, sr. Aron David, trabalhava na Polônia com confecção de roupas e “sofria de asma”. Sr. Jankiel contou que, após o pai se consultar com um médico em Varsóvia, recebeu a indicação para se mudar para um país tropical, para se curar. Os cunhados, da família Wagon, já moravam no Brasil. Sendo assim, o pai do sr. Jankiel mudou-se para o país, chegando na cidade de Santos em 1936, e ali se estabeleceu. Após conseguir uma quantia para custear a vinda de esposa e filhos, enviou o dinheiro para a família. Sr. Jankiel chegou ao Brasil com cinco anos e meio, com a mãe, sra. Sura Doba e irmãos, um pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Conseguiram somente vistos de turista, por um período de seis meses, mas acabaram permanecendo no país.

Sra. Rachel e sr. Jankiel
Reveillon 1979/1980
Acervo pessoal da autora do blog

Sr. Jankiel esteve casado com sra. Rachel Lea Sosnovick Szafir durante sessenta anos. O casamento, que ocorreu na CIP, em São Paulo, foi celebrado pelo Rabino Diesendruck, porém, após casados, estabeleceram-se em Santos, onde sr. Jankiel já morava. Sra. Rachel era prima de minha mãe, Dora Dina Rosenblit Szwarcbart. Mina avó Ida Rebeca (Lafer) Rosenblit era irmã de sra. Fanny, mãe de Rachel. Sr. Jankiel tinha três irmãos: Sra. Nena, hoje com 95 anos, sr. Marcos Szafir Z’L, e sr. Rubin, que mora em São Paulo. Como relatou, a comunidade judaica santista chegou a ser formada por 200 famílias, sendo que hoje em dia, este número reduziu-se de forma expressiva, permanecendo, principalmente, os mais velhos. Ao questioná-lo sobre um dos motivos que levou ao encolhimento da comunidade judaica local, considerando todo o período em que a comunidade esteve, e está, presente na cidade, apontou as dificuldades da época da Segunda Guerra, com o desemprego. Foi o período em que a economia santista estagnou, considerando que a atividade principal, à época, era a portuária.  Sr. Jankiel comentou sobre o texto escrito por Roberto Strauss, e a casa da Rua Paraguassú, 19, publicado no blog que escrevo, e contou que era amigo do sr. Eugenio Strauss. Como enfatizou, a comunidade judaica, assim como a Sinagoga Beit Jacob, da qual também foi presidente, concentrava-se no bairro da Vila Mathias. As filhas de sr. Jankiel e sra. Rachel, Berenice, Anette e Flavia, cresceram e Santos, e Flavia hoje mora em Israel.

A avó de sra. Sarita, mãe do pai

Pude conversar também com a sra. Sarita Steinic Fridman, por indicação de sua filha Simone Fridman Assayag. Já havíamos conversado, quando buscava detalhes e informações sobre a comunidade judaica de Botucatu. Sra. Sarita, caçula de três irmãs, contou que, ao nascer, a família mudou-se para Santos. A família possuiu uma pensão, a Pensão Leonor, uma casa grande, frequentada pela comunidade judaica, e, também, por jogadores de futebol na cidade. Em 1951, a pensão situava-se na Av. Presidente Wilson, em frente ao “Posto 2”. Ficaram 8 anos na cidade, frequentaram a escola yidish e a escola laica, porém não eram frequentadores das sinagogas. Posteriormente retornaram a São Paulo. Sra. Sarita enviou fotos, que aqui compartilho. Escreveu: "foto com minha avó mãe do meu pai que morava com a gente, e da escola israelita".


Escola yidish
Foto enviada por sra. Sarita e por Silvio Naslauski

Sr. Nathan Catache, por e-mail, escreveu que ficou muito emocionado com o artigo escrito na postagem anterior, “pois quando chegamos no Brasil, em 1957, emigrantes do Egito, fomos recepcionados pela família Sarraf. O pai já era assíduo frequentador da Sinagoga da Mooca. A família Sarraf tinha parte da família morando em Santos. Também trabalhei muito tempo com a Elisa e sua irmã Raquel!!”Adriana Abuhab Bialski, com quem conversei para escrever o post anterior, agradeceu a publicação, e comentou que, revendo a foto e as informações de que dispõe, acredita que mencionou a data errada: “Ao que tudo indica, a foto é de 1922, porque Olga, a bebê, nasceu nesse ano.”

Já Ilan Kruglianskas deixou um comentário no Fcaebook: “Oi Myriam e Adriana, que legal essas informações. Eu estou escrevendo uma ficção, baseada na história verdadeira de meu avô, um Litvak que chegou em Santos em 1928, com 18 anos, com destino a Buenos Aires. Só que ficou. Vamos conversar alguma hora? Talvez essas histórias me ajudem a criar causos baseados em histórias verdadeiras, que não tenho quase nenhuma. Vou mandar mensagens inbox.Valeu.”

Escola yidish
Foto enviada por sra. Sarita
Moshe Singal, como já publicado, havia relatado que Ricardo Werthein foi o primeiro judeu que foi a Santos “bater uma bola” com Pelé na praia na década de 1960.

Em relação aos imigrantes que “aqui chegaram, através do porto de santos e nesta cidade se estabeleceram”, pode-se consultar “Gênero, resistência e identidade: imigrantes judeus no Brasil” (Blay, E.A. (2009). Gênero, resistência e identidade: imigrantes judeus no Brasil. Tempo Social21(2), 235-258. https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/12600  ). A socióloga e pós-doutora Eva Alterman Blay escreve:   e pós-doutora Eva Alterman Blay escreve:  "Vim para ficar: esta afirmação sintetiza o projeto dos imigrantes judeus que vieram para o Brasil”. E relata que “Os judeus, sobretudo os homens que em geral chegavam aqui solteiros, enfrentaram o mesmo problema. Ao desembarcarem no porto de Santos ou do Rio de Janeiro, um funcionário eventualmente ia procurar um morador já estabelecido, judeu também, para ajudar na comunicação por meio da língua "desconhecida" por eles falada.” Também pode-se ler no texto que “Sra. Fanny Rubinstein nasceu em 1898 em Santos. Foi a judia brasileira mais idosa entrevistada para nossa pesquisa. Tinha na época 82 anos. Seu pai, José Tabacow Hidal, chegou ao Brasil em 1888, solteiro e sozinho”. E no mesmo artigo Sra. Anna Lifchitz escreveu sobre o pai: “Abrão Kauffmann deve ter vindo para o Brasil em 1905. Queria ir para a África do Sul, onde viviam parentes, mas passando por Santos desceu e ficou... Uns três anos depois, já conseguiu mandar passagem para a vinda de minha mãe, comigo.”

Aqui pergunto novamente: você faz parte da comunidade judaica santista? Sua família morou, ou ainda mora, em Santos? Frequentavam uma das duas sinagogas da cidade? Quais suas lembranças e memórias? Frequentava a escola yidish? Poderia compartilhar suas histórias, fotos, documentos? Saberia dizer quem pintou os Mazalot (signos do Zodiaco) na Sinagoga Beit Jacob? De quem é o projeto dos edifícios? Escreva para mim: myrirs@hotmail.com .

Obs: Não compartilhem as fotos sem autorização.

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