Aqui compartilho uma publicação de 2017, quando
realizamos uma visita à Sinagoga Israelita Brasileira. A visita ocorreu em 27
de dezembro, quando pudemos conversar com sr. Jamil Sayeg e seu filho, Isaac
Sayeg. Naquele dia esive acompanhada de David Carlessi, Rachel Mizrahi, Linda
Zeitoune, Haim Zeitoune e Victoria Hadid.
Segue o texto publicado. Caso você ou seus
familiares tenham frequentado esta sinagoga, agradeço se puderem deixar seus
comentários, ou encaminhar um texto, fotos, documentos e contatos para meu
e-mail, indicado ao final desta publicação:
“Sr. Jamil nos contou em 2017 que esta sinagoga foi
fundada em 1930 pela coletividade síria sefaradi
de São Paulo, sendo os fundadores o sr. Isaac Sayeg (pai do sr. Jamil) e o sr.
Nassim Nigri. Noventa por cento da coletividade israeli síria residia na Mooca.
Sr. Jamil comentou: “A sinagoga tinha alta frequência, inclusive de sábado, não
só nas Grandes Festas. A frequência aos sábados, com o tempo, foi diminuindo.
Mas nas Grandes Festas, por um longo tempo, se manteve. A sinagoga ficava
sempre lotada, não havia cadeiras vazias, sempre com muitos cohanim. Muitos estão hoje em Higienópolis,
na sinagoga mais recente...são os descendentes”. A frequência nesta sinagoga
começou a diminuir com a “migração” dos frequentadores para Higienópolis,
motivada por problemas com as enchentes no bairro da Mooca, e o enriquecimento
desta coletividade. Como enfatizou, os sefaradim
iam para a Mooca, os ashkenazim para
o Bom Retiro.
A escolha do bairro pela coletividade judaica
oriental esteve inserida no contexto do fluxo de imigrantes de diversos países
à cidade de São Paulo. Os imigrantes escolhiam a Mooca, entre outros motivos,
pela proximidade à estação da estrada de ferro, à Hospedaria dos Imigrantes e
aos locais de trabalho (o centro da cidade, e a região da 25 de março, aonde
tinham comércio, por exemplo). E os novos imigrantes, ao chegarem à São Paulo,
estabeleciam-se próximos aos que já haviam chegado anteriormente.
O rio Tamanduateí, na época da chegada dos
imigrantes, era limpo e a região “muito bonita e arborizada”. No rio era
possível “fazer mikve” e não havia o
problema de inundação. A Mooca era um bairro residencial, mas também com
diversas indústrias, entre elas a Antarctica e diversos lanifícios, como a
Santista e Textil Elizabeth. Porém sr. Jamil comentou que a região da Rua
Odorico Mendes, aonde situa-se a sinagoga, era totalmente residencial, com
casas muito parecidas umas das outras, casas médias e pequenas, provavelmente
muitas para moradia dos operários da região. Este perfil residencial “seguia
até a Rua Ana Nery, aonde se situava a Antarctica” (local de um longo muro e um
local de eventos). Nesta comunidade, os mais abastados moravam na Av. D. Pedro,
ou próximo ao Largo do Cambuci e Aclimação. Como exemplo, a família Nigri
morava na Av. Dom Pedro. O Parque D. Pedro, lembrou-se Isaac, era muito
arborizado, os homens caminhavam bem vestidos, de paletó e gravata, as mulheres
de vestidos. Os ônibus trafegavam pela Praça Clovis. Com o tempo, o bairro e o
Parque D. Pedro teve seu perfil alterado.
Sr. Jamil se lembrou que na Rua Dom Bosco o pai teve
uma tecelagem... e era um benfeitor, investiu na comunidade (ganhou o maior
prêmio de loteria de São Paulo). Mas enfatizou que foi a família Klabin quem
doou o terreno com o objetivo de se construir uma sinagoga. Os terrenos da
região pertenciam aos Klabin. Porém a construção do edifício da sinagoga coube
ao sr. Isaac Sayeg e à coletividade judaica síria que estava chegando à cidade.
Os frequentadores desta sinagoga, como comentou, eram originários de
Sidon(Seade) e Beirute.
Com o crescimento da comunidade judaica do bairro,
cogitou-se a construção de uma sinagoga maior em um terreno à rua Barão do
Jaguara. Porém parte dos frequentadores optou pela construção de uma nova
sinagoga à Rua Piauí, denominada Congregação Monte Sinai...
A Sinagoga Israelita Brasileira mantinha-se ativa
até a pandemia, continuavam em atividade. E como comentou Isaac, filho do sr.
Jamil: “prometemos ao meu avô que não iríamos fechar!!” E para tanto, vemos que a comunidade judaica
do entorno e bairros próximos está crescendo...
O edifício da Sinagoga Israelita Brasileira estava,
naquela ocasião, em “constante manutenção”, para que fosse possível permanecer
em uso: paredes pintadas, iluminação excelente, piso reformado. Os bancos desta
sinagoga, originalmente em madeira, por terem apresentado cupim e estarem sem
condições de uso, foram substituídos por cadeiras plásticas, dispostas ao redor
da Bimáh, ou no entrono das mesas
utilizadas para estudo. Como nas sinagogas
de origem oriental, a Bimáh estava
situada a uma certa distância do Aron
Hakodesh, ao centro do espaço masculino. A entrada lateral, através de
alguns degraus ladeados por duas colunas, diferencia-a das demais sinagogas já
descritas.
Por outro lado, como nas demais sinagogas já
visitadas, verificamos uma galeria feminina, com muretas permitindo a visão e
acompanhamento das rezas, situa-se no pavimento superior.
A primeira vez que escrevi sobre a Móoca foi quando conversei
com Lili Muro Zaitoune, ao
postar detalhes sobre a comunidade judaica da Vila Mariana. Sobrinha de Nassim Nigri, lembrou que o
pai, Ibrahim Zaitoune, de origem libanesa,
o sr Carlos Nigri e o sr Moisés Simantob se revezavam como Chazanim nas Grandes Festas na Sinagoga Israelita Brasileira, “sinagoga
dos libaneses na Mooca”.
Naquele tempo não tinham rabino.
Tania Fortes, contou que o avô materno, Benjamin
Cohen, foi chazan
da Sinagoga Israelita Brasileira. E afirmou: “A Rachel Mizrahi o
conheceu, e acredito que ela citou algo sobre ele no livro dela...” E assim, no livro Imigrantes
Judeus do Oriente Médio - São Paulo e Rio de Janeiro, de Rachel Mizrahi, à
página 77, lemos: “Naturais da cidade de Yafo, os Cohen dedicaram-se ao
trabalho religioso para as comunidades judaicas do Rio de Janeiro e São Paulo.
Benjamin Cohen, sobrinho de Raphael David Cohen, ocupou as mesmas funções dos tios na
Sinagoga Israelita Brasileira, na Mooca...”
Alzira Goldberg, irmã de Rachel, citou o pai Moyses Mayer Mizrahi e enfatizou que a família
frequentou a Sinagoga Israelita Brasileira. Este fato, e a história da família
Mizrahi, constam do livro Do Mascate ao Empreendedor - Uma família da antiga
Mooca, também escrito por Rachel Mizrahi. Neste livro podemos ler que sr.
Moyses Mayer Mizrahi nasceu em 1910, era o mais novo de três irmãos e chegou a
São Paulo em 1927, a chamado do irmão Elias. Começou a vida na cidade no
comércio ambulante, e aos 27 anos casou-se com Rebecca Fardjoun, do Rio de
Janeiro. Ambas famílias eram originárias de Safed (Tzfat). Residiram na Rua Mem
de Sá e, posteriormente, em um sobrado na Rua Coronel Cintra. Tiveram seis
filhos: Lily, Alzira, Rachel, Mayer, Isaac e Nessim. E Isaac Mizrahi comentou: “Meu pai Moyses Mayer Mizrahi nasceu em 1910 na cidade
histórica de Saffed”. Sobre o histórico familiar, sobre cada um dos irmãos
e suas famílias, sobre a vizinhança do bairro da Mooca, amizades, depoimentos
familiares, além da trajetória empresarial de Mayer M. Mizrahi leiam o livro
aqui indicado!!
E você, ou seus
familiares, gostariam de compartilhar informações, escrever um texto para
divulgar aqui no blog? Frequentaram as sinagogas da Mooca? Moraram na
região, ou em bairros próximos?
Teriam alguma informação
sobre as comunidades judaicas da capital e das cidades do interior paulista?
Fotos, memórias, documentos? Histórias de sua família, quando aqui chegaram, o
porquê da escolha da cidade em que se estabeleceu? Como era a comunidade
judaica e sua integração com a comunidade local, as sinagogas, escolas, como e
onde comemoravam as festas?
Escreva para myrirs@hotmail.com . Vamos resgatar nossas raízes...