segunda-feira, 27 de março de 2023

A Sinagoga Israelita Brasileira no bairro da Mooca

Aqui compartilho uma publicação de 2017, quando realizamos uma visita à Sinagoga Israelita Brasileira. A visita ocorreu em 27 de dezembro, quando pudemos conversar com sr. Jamil Sayeg e seu filho, Isaac Sayeg. Naquele dia esive acompanhada de David Carlessi, Rachel Mizrahi, Linda Zeitoune, Haim Zeitoune e Victoria Hadid.

Segue o texto publicado. Caso você ou seus familiares tenham frequentado esta sinagoga, agradeço se puderem deixar seus comentários, ou encaminhar um texto, fotos, documentos e contatos para meu e-mail, indicado ao final desta publicação:

“Sr. Jamil nos contou em 2017 que esta sinagoga foi fundada em 1930 pela coletividade síria sefaradi de São Paulo, sendo os fundadores o sr. Isaac Sayeg (pai do sr. Jamil) e o sr. Nassim Nigri. Noventa por cento da coletividade israeli síria residia na Mooca. Sr. Jamil comentou: “A sinagoga tinha alta frequência, inclusive de sábado, não só nas Grandes Festas. A frequência aos sábados, com o tempo, foi diminuindo. Mas nas Grandes Festas, por um longo tempo, se manteve. A sinagoga ficava sempre lotada, não havia cadeiras vazias, sempre com muitos cohanim. Muitos estão hoje em Higienópolis, na sinagoga mais recente...são os descendentes”. A frequência nesta sinagoga começou a diminuir com a “migração” dos frequentadores para Higienópolis, motivada por problemas com as enchentes no bairro da Mooca, e o enriquecimento desta coletividade. Como enfatizou, os sefaradim iam para a Mooca, os ashkenazim para o Bom Retiro. 

A escolha do bairro pela coletividade judaica oriental esteve inserida no contexto do fluxo de imigrantes de diversos países à cidade de São Paulo. Os imigrantes escolhiam a Mooca, entre outros motivos, pela proximidade à estação da estrada de ferro, à Hospedaria dos Imigrantes e aos locais de trabalho (o centro da cidade, e a região da 25 de março, aonde tinham comércio, por exemplo). E os novos imigrantes, ao chegarem à São Paulo, estabeleciam-se próximos aos que já haviam chegado anteriormente. 

O rio Tamanduateí, na época da chegada dos imigrantes, era limpo e a região “muito bonita e arborizada”. No rio era possível “fazer mikve” e não havia o problema de inundação. A Mooca era um bairro residencial, mas também com diversas indústrias, entre elas a Antarctica e diversos lanifícios, como a Santista e Textil Elizabeth. Porém sr. Jamil comentou que a região da Rua Odorico Mendes, aonde situa-se a sinagoga, era totalmente residencial, com casas muito parecidas umas das outras, casas médias e pequenas, provavelmente muitas para moradia dos operários da região. Este perfil residencial “seguia até a Rua Ana Nery, aonde se situava a Antarctica” (local de um longo muro e um local de eventos). Nesta comunidade, os mais abastados moravam na Av. D. Pedro, ou próximo ao Largo do Cambuci e Aclimação. Como exemplo, a família Nigri morava na Av. Dom Pedro. O Parque D. Pedro, lembrou-se Isaac, era muito arborizado, os homens caminhavam bem vestidos, de paletó e gravata, as mulheres de vestidos. Os ônibus trafegavam pela Praça Clovis. Com o tempo, o bairro e o Parque D. Pedro teve seu perfil alterado.

Sr. Jamil se lembrou que na Rua Dom Bosco o pai teve uma tecelagem... e era um benfeitor, investiu na comunidade (ganhou o maior prêmio de loteria de São Paulo). Mas enfatizou que foi a família Klabin quem doou o terreno com o objetivo de se construir uma sinagoga. Os terrenos da região pertenciam aos Klabin. Porém a construção do edifício da sinagoga coube ao sr. Isaac Sayeg e à coletividade judaica síria que estava chegando à cidade. Os frequentadores desta sinagoga, como comentou, eram originários de Sidon(Seade) e Beirute.

Com o crescimento da comunidade judaica do bairro, cogitou-se a construção de uma sinagoga maior em um terreno à rua Barão do Jaguara. Porém parte dos frequentadores optou pela construção de uma nova sinagoga à Rua Piauí, denominada Congregação Monte Sinai...

A Sinagoga Israelita Brasileira mantinha-se ativa até a pandemia, continuavam em atividade. E como comentou Isaac, filho do sr. Jamil: “prometemos ao meu avô que não iríamos fechar!!”  E para tanto, vemos que a comunidade judaica do entorno e bairros próximos está crescendo...

O edifício da Sinagoga Israelita Brasileira estava, naquela ocasião, em “constante manutenção”, para que fosse possível permanecer em uso: paredes pintadas, iluminação excelente, piso reformado. Os bancos desta sinagoga, originalmente em madeira, por terem apresentado cupim e estarem sem condições de uso, foram substituídos por cadeiras plásticas, dispostas ao redor da Bimáh, ou no entrono das mesas utilizadas para estudo.  Como nas sinagogas de origem oriental, a Bimáh estava situada a uma certa distância do Aron Hakodesh, ao centro do espaço masculino. A entrada lateral, através de alguns degraus ladeados por duas colunas, diferencia-a das demais sinagogas já descritas. 

Por outro lado, como nas demais sinagogas já visitadas, verificamos uma galeria feminina, com muretas permitindo a visão e acompanhamento das rezas, situa-se no pavimento superior.

Um salão de festas, no subsolo, era utilizado como local para as comemorações, festas e encontros. Como contou Carlos Adissi, este foi o local aonde os pais, David e Amélia Adissi, se conheceram e a sinagoga aonde casaram. Carlos escreveu: “Essa era a sinagoga que frequentavam. Para gente da minha geração, traz muitas lembranças das festas que celebramos nas Sinagogas. Meus pais se conheceram numa festa de carnaval no subsolo da sinagoga da Odorico Mendes, e lá se casaram também; lembranças de famílias e familiares que frequentaram a sinagoga, e fatos que servem, também, de referência para a nova geração! Meus pais eram primos de 3a geração. Meu avô Carlos Simão Adissi, porém, frequentava a outra sinagoga.”

A primeira vez que escrevi sobre a Móoca foi quando conversei com Lili Muro Zaitoune, ao postar detalhes sobre a comunidade judaica da Vila Mariana. Sobrinha de Nassim Nigri, lembrou que o pai, Ibrahim Zaitoune, de origem libanesa, o sr Carlos Nigri e o sr Moisés Simantob se revezavam como Chazanim nas Grandes Festas na Sinagoga Israelita Brasileira, “sinagoga dos libaneses na Mooca”. Naquele tempo não tinham rabino.

Tania Fortes, contou que o avô materno, Benjamin Cohen, foi chazan da Sinagoga Israelita Brasileira. E afirmou: “A Rachel Mizrahi o conheceu, e acredito que ela citou algo sobre ele no livro dela...” E assim, no livro Imigrantes Judeus do Oriente Médio - São Paulo e Rio de Janeiro, de Rachel Mizrahi, à página 77, lemos: “Naturais da cidade de Yafo, os Cohen dedicaram-se ao trabalho religioso para as comunidades judaicas do Rio de Janeiro e São Paulo. Benjamin Cohen, sobrinho de Raphael David Cohen, ocupou as mesmas funções dos tios na Sinagoga Israelita Brasileira, na Mooca...”

Alzira Goldberg, irmã de Rachel, citou o pai Moyses Mayer Mizrahi e enfatizou que a família frequentou a Sinagoga Israelita Brasileira. Este fato, e a história da família Mizrahi, constam do livro Do Mascate ao Empreendedor - Uma família da antiga Mooca, também escrito por Rachel Mizrahi. Neste livro podemos ler que sr. Moyses Mayer Mizrahi nasceu em 1910, era o mais novo de três irmãos e chegou a São Paulo em 1927, a chamado do irmão Elias. Começou a vida na cidade no comércio ambulante, e aos 27 anos casou-se com Rebecca Fardjoun, do Rio de Janeiro. Ambas famílias eram originárias de Safed (Tzfat). Residiram na Rua Mem de Sá e, posteriormente, em um sobrado na Rua Coronel Cintra. Tiveram seis filhos: Lily, Alzira, Rachel, Mayer, Isaac e Nessim. E Isaac Mizrahi comentou: “Meu pai Moyses Mayer Mizrahi nasceu em 1910 na cidade histórica de Saffed”. Sobre o histórico familiar, sobre cada um dos irmãos e suas famílias, sobre a vizinhança do bairro da Mooca, amizades, depoimentos familiares, além da trajetória empresarial de Mayer M. Mizrahi leiam o livro aqui indicado!!

E você, ou seus familiares, gostariam de compartilhar informações, escrever um texto para divulgar aqui no blog? Frequentaram as sinagogas da Mooca? Moraram na região, ou em bairros próximos?

Teriam alguma informação sobre as comunidades judaicas da capital e das cidades do interior paulista? Fotos, memórias, documentos? Histórias de sua família, quando aqui chegaram, o porquê da escolha da cidade em que se estabeleceu? Como era a comunidade judaica e sua integração com a comunidade local, as sinagogas, escolas, como e onde comemoravam as festas? 

Escreva para myrirs@hotmail.com . Vamos resgatar nossas raízes... 

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