quarta-feira, 5 de abril de 2017

Família Igel e a Sociedade Religiosa Israelita da Penha

Localização-Ruas Raul da Rocha Medeiros, Vitorio Ramalho e Antonio de Barros (https://www.google.com.br/maps/place)
"Recebi alguns e-mails da Professora Regina Igel, que leciona na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, nos meses de março/abril 2017, que me deixaram muito feliz, relativos à história da Sinagoga da Penha/Tatuapé...

Regina relata que leu a matéria que publiquei a respeito da sinagoga do Tatuapé, à Rua Raul da Rocha Medeiros, e que fez parte daquela sinagoga durante toda a adolescência. Muitos dos que fizeram parte do mesmo grupo estão em S.Paulo. 

Ressalta que foi na casa dos pais, de origem polonesa, sr.Moishe Igel (Z'L) e sra.Lúcia Igel, na Rua Vitório Ramalho, a algumas quadras da sinagoga, que aconteceram as reuniões mensais, por quase dois anos, do grupo que a dirigia. Sr.Moishe Igel (Z'L) doou vários objetos que comprou em Israel, em suas viagens àquele país, fez parte da primeira diretoria, foi um dos fundadores da sinagoga, desde que ela se reunia nos altos de um prédio na Rua Antonio de Barros, e colaborou financeiramente para a construção da sinagoga (a Dona Lúcia ainda tem o recibo principal!).

Regina lembra-se perfeitamente do pessoal da diretoria chegando na sua casa, térrea, com uma larga entrada lateral. Chegavam um a um, passando por uma figueira e por baixo de uma videira, até chegar ao salão de festas que tinham ao fundo do pátio de trás. Ali estava uma longa mesa, que o pai mandara fazer especialmente para acomodar os 12 ou mais membros da diretoria do shil.

Lembra-se bem que ela e a irmã Célia estendiam a imensa toalha verde de uma ponta a outra da mesa, e ali colocavam garrafas de água mineral. O irmãozinho Hênio trazia os copos, enquanto a mãe trazia as frutas. As reuniões eram muito animadas, todos os participantes colaboravam com ideias, algumas aceitas, outras desafiadas... As reuniões, que começavam pelas oito da noite, iam até além da meia-noite, com muita e muita conversa e muitas decisões.

E nos conta que quando, finalmente, a sinagoga foi construída, ali os jovens de 12 a 16 anos, estabeleceram o clube JIP (Juventude Israelita da Penha) do qual possui fotos tiradas por ela e outros, na maquininha 'box', da Kodak. Os jovens estudavam no Colégio Estadual da Penha e no Pedro II. Estabeleceu-se também uma escolinha infantil. Regina fotografou as crianças da escolinha, no ano da sua inauguração, uma por uma, e os membros da diretoria compraram tais fotos. Recorda-se também da chegada da Torá à sinagoga.

A mãe, sra.Lúcia Igel, aos 95 anos tem excelente memória de tudo o que vivenciou durante a formação da sinagoga, antes e depois da construção, sobre a idéia e execução do shil do Tatuapé, e de vários momentos da convivência no bairro.  A sra.Lucia e a sra.Sara Gampel eram amigas e a sra.Sara, que morava na rua da sinagoga, teve também muita atuação durante o tempo da formação e até da construção física desta sinagoga.

A iniciativa da formação desta sinagoga ocorreu por parte de um grupo de comerciantes da Rua Antonio de Barros, entre eles os Wasong, Gampel, Raw, David, Vainer, Bun, Fischman, Cirota e Tahin. A sra. Sara Tahin, nascida na Bessarábia, ao lado do marido Marcos, era a única mulher que compunha este grupo. Sansão Woiler, Silvia Rosenberg, Arthur Kuschnir, Mario e Henrique Joseph, família Waisman, Moishe Gurman também fizeram parte da sinagoga. Organizava-se jantares para angariar fundos, e a intenção de começar um shil no bairro, como afirmam, era para que os filhos destes frequentassem e dessem continuidade à comunidade.

O edifício da sinagoga, à Rua Raul da Rocha Medeiros, que teve como presidente o sr. Sapojnick, era “ultra-moderno, possuía uma marquise e um arco à frente, na fachada”. Situava-se no “meio de um terreno”, e uma escadaria conduzia a um balcão superior, para as mulheres. A Bimá ficava ao fundo da construção, no piso térreo, destinado à ala masculina. Nas Grandes Festas, o Chazan era Daniel Schor, família moradora do Tatuapé.

Com a transferência da Torah e da sinagoga para o Colégio e Sinagoga Renascença, os membros do shil teriam suas cadeiras garantidas para os dias religiosos, Chaguin e os Shabatot, fato que não se materializou por omissão do advogado encarregado de fazer o acordo, segundo nos conta Regina.


E completa... embora quase todos os membros daquela diretoria já tenham falecido, seus descendentes estão na cidade e podem colaborar com suas lembranças também daquele tempo da formação de uma comunidade maravilhosa, que foi a do shil do Tatuapé na Rua Rocha Medeiros"

Edito aqui esta postagem, após publica-la no Blog e no Facebook. Regina Igel e Bela Turecki conversaram, e ao final também Zilda Bun Calencautcy comentou sobre a Sinagoga da Penha, e sobre a época em que viveram no bairro. Alguns comentários..."Éramos todos adolescentes e me lembro muito bem como nossos pais trabalharam para nossa Sinagoga. Era uma delícia quando chegavam as festas !! Os pais eram amigos, foi muito boa aquela época!"...Mantemos a amizade de sempre. Já tivemos duas reuniões maravilhosas em pizzarias de SP, e quase todos nós estávamos presentes. Fiquei muito emocionada com estes dois encontros, que ocorreram no ano passado e no ano retrasado. Estamos mais velhos, muitos entre nós já são avós, mas a juventude nossa ainda está presente nos nossos espiritos!" "Lembro da sua casa, dos nossos passeios, dos pique-niques, dos aniversários e até também de uma festa no salão da minha casa, com fogueira na porta, pipoca e pinhão! Éramos abertos a tudo, ao judaísmo e às tradições locais também. Frequentávamos, a maior parte do grupo, o Colégio Estadual da Penha...E mais..."Antes do nosso shil, do Tatuapé, íamos todos ao shil da Rua Bresser. Era lindo, com desenhos dos signos do zodíaco pelas paredes. E lembro que havia uma escadaria do lado de fora, para onde as mulheres se dirigiam. Era difícil chegar ao shil..." A conversa de muitas lembranças, acredito, vai continuar em um novo encontro do grupo que frequentava a Sinagoga da Penha...

2 comentários:

  1. Otimo artigo documentando parte da historia judaica no Brasil e resssaltando a contribuicao valiosa de Regina Igel, cuja grandeza intelectual e' um prazer para os que a conhecem. sua modestia tambem e'enorme.

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  2. Obrigada pelo comentário. Gostaria de contribuir com alguma informação sobre as Sinagogas em Sao Paulo?

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