quarta-feira, 23 de novembro de 2022

A comunidade judaica de São Caetano do Sul e sua sinagoga - sr. Isac Gafanovic

Ilustração de Myriam R. Szwarcbart

Sr. Isac Gafanovic entrou em contato por através de e-mails, relatando sua história, relacionada à comunidade judaica de São Caetano do Sul e respectiva sinagoga. Aqui compartilho os e-mails recebidos, com autorização de sr. Isac:

Meu nome é Isac Gafanovic, fui citado como amigo de Júlio Zimermann, e gostaria de anexar algumas histórias de nossa grande amizade.

Quando o pai dele vendeu a loja de móveis, provavelmente ele não sabia pra quem, e eu digo que ele vendeu para o meu pai, David Gafanovic, e nossa história (com Júlio) se mistura, pois nossos amigos eram todos em comum.

Formamos, junto com Bernardo Beer, Carlos Guershtel, Sima Skinovski, Spitz, Moisés Karolinski, Adelina (Eide) e muitos outros, um clubinho de jovens quase todos da mesma idade, perto de 14 anos, e usávamos o salão da sinagoga de São Caetano do Sul como sede, nós conseguimos agregar jovens da Vila Zelina, Ipiranga, Cambuci, Santo André.

Todos os sábados nos reuníamos e tínhamos bailinhos com discos e vitrola, jogávamos pingpong, xadrez e, em um dos anos da época, participamos de um campeonato com 5 jogadores, não lembro todos mas o Bernardo e eu fizemos parte! Fazíamos baile com conjunto musical, teatro com nosso pessoal e a sinagoga ficava lotada com o ishuv!

Fazíamos piquenique na chácara do Lauro Gomes que nos cedia para nosso lazer e fazíamos aos domingos quando podíamos. Normalmente saíamos em dois ônibus lotados e lá íamos com os nossos pais. Com mais idade, 15 a 17 anos, tínhamos um time de basquete e com a chegada da nova geração tivemos um time de futebol de salão que era fantástico de bom, o 1o. e o 2o. time de basquete. Fomos jogar em Sorocaba, Santos e Santo André, já futebol de salão começou com Naum Goldberg (Zinho Gold), que era engenheiro, ajudando a construir uma quadra de basquete e futebol de salão no terreno que foi comprado pela diretoria dá sinagoga.

Com a chegada da nova geração, Naum Kogan (Zinho Kogan) Naum Kagan (Tuta), Luiz e Nathan Schwartz, Ezra Antebi, formávamos um time quase imbatível. Quanto às festas de Simcha Torá, elas eram muito concorridas, tínhamos muitas crianças que recebiam uma bandeirinha com maçã e velinha na ponta, e um pacote de balas para seguir atrás da Torá! E depois, seguia um jantar com hering com cebola, tomate e pão de centeio, o chamado pão preto, tudo com muita alegria. Em Rosh Hashana e Yom Kipur a sinagoga ficava lotada, às vezes alguém ficava de pé, pois não havia assentos para todos.

Na placa da inauguração da sinagoga tem o nome de meu pai David Gafanovic e seu irmão Rubens Gafanovic. Só posso acrescentar que foi uma vida linda, onde o ishuv de São Caetano era uma família, e onde nos visitamos sempre. Quando casei com A Julieta que veio de Erechim, ela foi recebida por todos como da família fosse! Existe uma história muito grande no ishuv e, se cada um contasse algo, daria um livro muito lindo.

Tenho um milhão de histórias da comunidade de São Caetano do Sul. Sou nascido aqui nesta cidade, e apesar dos meus 84 anos, me lembro perfeitamente da formação desta comunidade, da construção do Shil,l da escola de idish, de nosso clube, Grêmio Israelita de São Caetano do Sul (GISCS, para os íntimos) e tenho algumas fotos que posso mandar por whatsap ou e-mail!

Vamos começar por partes, com a chegada dos meus avós paternos, Isac Gafanovic e Tauba Gafanovic, de meu pai e seus irmãos. Meus avós paternos e Rubens, irmão de meu pai, e a irmã Sofia, vieram por volta de 1926 junto com os que vieram pela Jewish Colonization Association criado pelo Barão Hirch, que comprou muitas terras na Argentina, Uruguai e Brasil para salvar os judeus dos progroms e da perseguição na Rússia!

Este grupo de judeus chegou ao Brasil e se estabeleceu em uma região chamada de “4 Irmãos”, sede da ICA, no Rio Grande do Sul. A ICA vendeu pra cada família um pedaço de terra com uma casa, um galpão, uma junta de bois, ferramentas agrícolas e um prazo longo para pagar o valor estabelecido. Eu já era casado quando meu sogro terminou de pagar. Esta história é outra longa história, que vai ser lançada em filme e em documentário, bem em breve. Meu pai, David, veio uns três anos depois. 

Nisso, como meus avós e meus tios não receberam terras pra comprar eles trabalhavam como empregados dos que vieram e tinham terras, quando meu pai chegou foi trabalhar na manutenção da estrada de ferro, linha que vinha de Erebango para 4 Irmãos, construída pela ICA.  Meu tio Rubens mudou-se para São Caetano, e, um tempo depois, chamou a família para se mudar também! E aqui chegaram, como também chegou a família Kagan, ambas vieram com a ICA. 

Meu pai foi trabalhar como mascate, vendendo colchas, cobertores, coisas que poderia carregar nas costas. Como não falava o português ele ia para a Vila Zelina, bairro de lituanos, russos e outros que falavam a língua eslava. 

Era muito longe e meu pai ia a pé até o local, pois não havia condução na época e só mais tarde ele comprou uma charrete e um cavalo. 

Hoje fico por aqui, amanhã ou depois continuo, pois a história é muito boa e longa!Espero que dê para entender um pouco!

Pergunto novamente: vocês teriam mais detalhes sobre as sinagogas e diversas comunidades judaicas paulistas? Fotos, histórias, lembranças, documentos que queiram compartilhar? Gostariam de escrever um texto, para ser publicado neste blog? Vamos resgatar as nossas histórias e preservar o nosso rico patrimônio cultural material e imaterial! Escrevam para mim: myrirs@hotmail.com

4 comentários:

  1. Que história linda e bem escrita! 👏🏼👏🏼👏🏼

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    1. Tive oportunidade de participar, um pouco, desta linda história de São Caetano.. Tempo maravilhoso, muitas amizades e casamentos entre o Santo André e São Caetano.

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  2. Gostaria de contribuir com a história da minha família e também algo mais sobre nossa juventude, querido irmão Isac.

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  3. Sou de São Caetano tb. Meu nome de solteira Betty Gorenstein. Filha de Abrahão e Sofia. Meu avô Marcos Karlik conduzia as rezas no Shil e fazia as bandeirinhas de Simcha Tora. Tempos bons

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