terça-feira, 23 de agosto de 2016

Leões, Anjos e Homens- por Jaques Mendel Rechter

No Shabat da Sinagoga do Cambuci, Jaques Mendel Rechter e eu conversávamos sobre a Sinagoga Mordechai Guertzenstein, quando, para minha surpresa, ele comentou sobre um detalhe relativo aos dois leões que ladeavam as Tabuas da Lei, na antiga sinagoga. Vejam o tocante conto abaixo, encaminhado por Jaques:

"Desde muito pequeno quando acompanhava meu avô à sinagoga nas grandes festas eu ficava rodeado de adultos e por cima de seus ombros e dos espaldares dos bancos eu só conseguia enxergar as Tabuas da Lei ladeadas pelos leões que ficavam sobre o Aron a Kodesh.


Eram dois leões dourados com o corpo empinado, apoiados nas patas traseiras e com as dianteiras sobre a representação com o topo redondo das Tabuas da Lei.  O Leão da esquerda tinha expressão de bravo e o da direita tinha cara de bonzinho.
Esta é uma das lembranças mais antigas que guardo da Sinagoga que existia nos fundos do Colégio I.L. Peretz, onde estudei, na Rua Madre Cabrini no bairro da Vila Mariana.


Também havia um homem da geração do meu avô que por ser baixinho eu conseguia enxergar o rosto abaixo da linha dos ombros dos outros. Seus olhos claros azuis e bondosos eram sempre acompanhados de um sorriso terno e largo quando me olhava. Seu rosto avermelhado contrastava com os cabelos brancos.

Maior e mais velho um pouquinho eu já conseguia avistar por cima dos bancos e ombros outro homem da mesma geração, também baixinho. Tinha olhos claros acinzentados emoldurados por óculos de grossa armação preta que reforçavam a sua expressão sempre muito séria. Era o diretor de culto, chazan, bal tefilá ou gabai, ou cada vez exercia uma das funções, não sei.

Dele o que lembro além da seriedade é que sempre tentava colocar ordem e pedir silencio no meio das muitas conversas em idiche ou português com sotaque de quem dizia “Shoime Isruel” com sendo “Shemá Israel”. Obviamente era ele quem sempre dava as três batidas com a palma da mão na mesa como medida extrema de pedido de silêncio.

Eu associava cada um dos homens a cada um dos leões, o bravo e o bonzinho. Intuía desde então que as duas características opostas de personalidade ajudavam a compor algum tipo de unidade mística, afinal as expressões humanizadas não deveriam estar ali na cara dos leões por acaso.

Esta unidade eu também percebi na minha última ida com meu avó àquela sinagoga, com todos nós, tanto eu, ele e os da sua geração que ainda estavam entre nós quase 15 anos mais velhos.

Foi em Simchá Torá, a sinagoga estava vazia e o dourado dos leões menos brilhante.

Total contraste com as celebrações do já antigamente de então, quando a sinagoga ficava lotada e muito iluminada, eram distribuídas para as crianças bandeirinhas de Israel feitas de papel montadas numa vareta verde e quadrada de madeira onde vinha espetada uma maça com uma velinha, uma montagem que durava poucos minutos. Tais bandeirinhas, velas e maçãs também são inesquecíveis, como os dois leões e os dois homens.

Éramos poucos naquela noite, mas a alegria pela renovação do ciclo anual de leitura da Torá foi compartilhada serenamente por todos, com a ajuda de uns goles sorvidos em copinhos de vidro bem pequenos aos votos de “Le Chaim”.

Já no final do serviço religioso que estava sendo tocado pelo homem sério de óculos, surge do fundo da sinagoga o homem de olhar terno e rosto muito mais avermelhado que o normal e com jeito travesso joga uma toalha de mão embolada nas costas do homem sério, rindo bastante da sua molecagem.

O homem sério interrompeu a reza, se virou encarou por cima da armação dos seus óculos o seu provocador parceiro, não podendo evitar um sorriso. Devia ser alguma piada entre eles e que só eles entendiam. Voltou a rezar compenetrado.

Lembro de alguém por perto falando em ídiche que ainda pude entender, algo como “hoje também é dia dos anjos se alegrarem”.

Nunca mais estive naquela sinagoga e as lembranças das bandeirinhas, homens e leões jamais me deixaram, mesmo que a sinagoga não mais exista fisicamente, apenas na memória dos que a frequentaram.

Só comecei a refletir sobre anjos muitos anos depois. Os anjos que sempre me intrigaram são os dois que acompanham os que saem das sinagogas para suas casas na noite de Shabat.

Quanto aos leões, até hoje nunca consegui a explicação definitiva do porque um era bravo e outro bonzinho, nem dos rabinos e estudiosos a quem formulei minha dúvida, inclusive alguns nunca tinha observado o detalhe das feições dos leões.

Procurei descobrir algum padrão desta representação nas capas das diversas Torot que eu via e nas cortinas dos diversos Aronim ao longo dos anos, mas não consegui estabelecer nenhum, inclusive em muitos casos os leões são absolutamente simétricos, com expressão neutra. Também na Porta dos Leões de Jerusalém, pelo seu próprio estado físico não é possível divisar qualquer expressão nas suas caras. No brasão e bandeira da atual Jerusalém, nem são dois leões, é um só que aparece.

O assunto foi ficando adormecido ao longo dos anos, cheguei a acreditar que as feições brava e boazinha dos leões deveria ser alguma cópia de alguma liberalidade de algum artista e construtor de alguma antiga sinagoga do leste europeu, trazida também como repetição para o novo mundo.

Mais de 50 anos depois de começar a observar os leões dourados ladeando as tábuas da lei na antiga sinagoga da Vila Mariana, qual não foi minha surpresa ao encontra-los novamente em Israel, desta vez no piso mosaico de uma sinagoga de quase 20 séculos descoberta numa escavação às margens do Lago Tiberíades. Lá também o leão da esquerda é bravo e o da direita bonzinho.

Perguntei ao amigo e guia que nos acompanhava sobre o fato e ele ficou mais surpreso ainda sobre a feição dos leões, coisa que ele nunca tinha reparado ou ouvido a respeito.

De imediato pelo celular ele levou a questão a seu professor e fonte no Ministério de Turismo de Israel, a um Rabino, a um Historiador e ninguém sabia informar do porque, nem mesmo haviam percebido até então o objeto da questão.

Disposto a tirar a coisa a limpo e descaracterizar uma simples coincidência, naquele mesmo dia foi incluída na nossa programação a visita a uma outra escavação de sinagoga de mais de uma quinzena de séculos situada onde agora há um Kibutz, também na Galiléia.

Novamente os dois leões, um bonzinho e outro bravo no piso de mosaico ....

Dois dias e vários telefonemas depois, até hoje, continuamos sem saber, nosso guia e eu, o porque das expressões dos leões...

De volta ao Brasil alguns meses depois, perdido em pensamentos quando estava voltando da sinagoga próxima da minha casa vindo do Cabalat Shabat, eu refletia sobre a prédica do Rabino acerca da Parashá da semana, onde Bilam ao invés de amaldiçoar o povo de Israel o abençoou e profetizando comparou-o a um Leão, animal que não pode ser domesticado e que mesmo estando aparentemente por baixo, sempre se ergue.

Obviamente estava tentando achar a conexão entre a comparação do povo judeu com um leão e a representação dos dois leões com feições humanizadas opostas ladeando as tabuas da Lei.

Vindos em minha direção na mesma calçada percebi quatro homens, todos obviamente judeus ortodoxos pelos seus trajes.  A frente do grupo um pai com seu filho adolescente, todos certamente vindo de alguma outra sinagoga e indo para casa.

Achei o grupo estranho, nunca havia visto outros religiosos ou mesmo ortodoxos no bairro salvo alguns que frequentavam a mesma sinagoga de onde eu estava vindo e estes quatro homens não tinham vindo de lá.

A me aproximar cumprimentei desejando Shabat Shalom, que foi retribuído com surpresa e carinho pelo pai e filho e com naturalidade pelos homens que vinham atrás, mesmo com minhas roupas de não ortodoxo.

Cruzando com os dois homens de trás, o mais próximo me encarou por cima de seus óculos com um sorriso de canto de boca, dando um meneio quase que imperceptível com a cabeça, enquanto que o outro me dirigiu um amplo e afetuoso sorriso.

Passos depois estanquei ao perceber que os dois homens que acompanhavam o pai e filho tinham os mesmos rostos e expressões dos dois homens da antiga sinagoga, rostos e expressões que emergiram absolutamente nítidos das profundezas da minha mente, após décadas de esquecimento.

Virei e só vi pai e filho, não havia mais ninguém.

Creio que não foi imaginação ou alucinação, eram quatro vindos na minha direção, trocamos cumprimentos e agora eu só via dois.

Só pode ter sido um vislumbre dos dois anjos de Shabat acompanhando pai e filho...

Como se ouvindo uma instrução, talvez dos meus próprios anjos, prossegui caminhando sem me voltar para trás até minha casa para o shabat em família.

Até hoje não sei a razão pela qual me foi concedido o vislumbre de anjos com rostos e expressões emprestadas de dois homens de muito antigamente da minha vida, um bravo e um bonzinho, que sempre associei aos dois leões dourados, do mesmo jeito que ainda não sei a explicação das suas expressões humanizadas opostas.


Tenho muitas dúvidas e quase nenhuma certeza, mas desconfio de muitas coisas. E uma das minhas poucas certezas é que tudo tem um nexo em algum tipo de unidade cuja explicação talvez um dia eu descubra qual é."

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Arte, Torot e mobiliario na Sinagoga Mordechai Guertzenstein

Assim como o edificio inicial do Colegio I.L.Peretz, a sinagoga Mordechai Guertzenstein,  deu lugar ao edificio que abriga a escola atual, construida a partir de 1992.  

O edificio original da sinagoga não fugia à regra das comunidades judaicas dispersas pelo mundo, que consideravam de máxima importância a questão sobre a direção em que as pessoas rezavam, voltadas para Jerusalém.

Como nos primeiros seculos da Era Comum, a entrada da sinagoga, uma porta dupla em madeira, localizava-se na parede oposta ao Aron Hakodesh e à Bima. 


A Sinagoga era decorada com diversos elementos, tais como: dois castiçais sobre pedestais, um em cada  lateral do Aron Hakodesh e dois leões ao lado das Tabuas dos Dez Mandamentos (acima do Haron Hakodesh). 


Como comentou Jacques Mendel Rechter, um leão sorrindo e outro não (por favor corrija-me se estiver incorreto). Completando o ambiente,  luminárias suspensas, um manto cobrindo a Bimá


A pintura, em azul claro com frisos brancos, plaquinhas em metal nos objetos doados pelos frequentadores, e piso em tacos de madeira completavam os detalhes do espaço. 

Estes também presentes na Sinagoga do Cambuci, como veremos mais adiante em outros posts. 

Amplos janelões laterais permitiam entrada de luz.

Diversos bancos em madeira, com Maguen David (Estrela de David) na lateral.

Estes bancos possuiam apoios à frente e nichos de "portinholas", aonde cada pessoa podia guardar seus "Sidurim"e "Machzorim". 



O Bar-Mitzva de João Galantier, filho do Dr. Mauricio Galantier, aconteceu nesta sinagoga. A foto foi fornecida pelo Dr. Mauricio...Nesta podemos ver o Aron Hakodesh, os leões e as Tabuas da Lei com os Dez Mandamentos, Menorót e João segurando a Torá.


A sinagoga nova, um amplo salão quadrado próximo à entrada da escola, sem caracteristicas especiais, não mais abriga os bancos, nem Bimá, nem Aron Hakodesh, nem nenhum outro elemento da sinagoga original.

A porta dupla em madeira permanece, as placas de homenagem, e o nome da sinagoga ainda estão presentes.

O Aron Hakodesh, que contava com sete Torót, hoje possui tres Torót, que estão ainda em uso, em uma sala de aula. Isto até o final de 2016...



Shabatot, Rosh Hashana, Yom Kipur e outras festas não mais acontecem na sinagoga da escola...muitas saudades e  lembranças de uma época...

Algumas lembranças que serão contadas no proximo post...


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Inauguração e fotos da Sinagoga Mordechai Guertzenstein

Como foi dito anteriormente, o registro oficial da sinagoga Mordechai Guertzenstein, e da escola I.L.Peretz aconteceu em 9 de setembro de 1951, em uma cerimônia simples na recém construída sede. 
Como podemos ver na foto ao lado, e publicada em “Peretz Quarenta Anos”, uma mesa comprida foi colocada na frente do edifício. Na parede, uma pintura do escritor I.L.Peretz. Bernardo Guertzenstein, alguns pais, e representante do KKL discursaram.


O projeto inicial da Sinagoga possuía abobadas como cobertura, além de “torres laterais”, como podemos ver na foto.  Este projeto acabou não sendo aprovado.

No projeto realizado, a sinagoga situava-se no piso superior e salas de aula no piso inferior. 


O acesso ao piso superior dava-se através de 2 escadas laterias, que praticamente se uniam à entrada da sinagoga. Em frente ao espaço da sinagoga, um salão um pouco menor, com janelas em arco.  No edifício reunia-se um grupo de jovens da comunidade da Vila Mariana, como já comentei, incluindo-se neste meus pais...

O espaço da sinagoga em si possuía um corredor central. Ao final do corredor, a Bima e à frente, o Aron Hakodesh, com dois pedestais e Menorót em cada lado. Nas laterais do corredor central, a ala masculina, com fileiras de bancos de madeira, apoios à frente e nichos com“portinholas”, aonde cada pessoa podia guardar seus “Sidurim” e “Machzorim”. Nas laterais da ala masculina, pisos um pouco mais elevados, e os mesmos bancos, para a ala feminina. Atendia a 180 pessoas, segundo a Enciclopédia Judaica.


Cada lugar da sinagoga foi vendido, antes mesmo desta ficar pronta. “Por cinco contos a pessoa recebia seu certificado de compra, e o lugar vitalício"(Livro Peretz Quarenta Anos). Plaquinhas de metal passaram a identificar o proprietário de cada cadeira. 

Entre as familias que adquiriram suas cadeiras temos a do sr. Mauricio  Galantier, famílias Schapiro/Schapira, Scharff, sr. Abrão Bloch, sr. Bernardo Guertzenstein, Moises Dzialowsky, famílias Dratcu, Aizemberg, Sancovsky, Liberman, entre outras.

Meus pais Dora e Maurice Szwarcbart, meus avós maternos Ida Rebeca e Jose Rosenblit tambem adquiriram as suas...



As festas judaicas eram sempre comemoradas. Nestas ocasiões as crianças divertiam-se, correndo pelo pateo...Por anos, o coral do Ginasio I.L.Peretz cantou no Kol Nidre, em Yom Kipur, sob a regência do moré Isaac Amar...

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A Sinagoga Mordechai Guertzenstein

Como já comentado, no momento que algumas famílias da comunidade judaica da Vila Mariana alugavam um salão, para formarem Minian, começou-se a pensar “em algo não só religioso, mas também de cunho comunitário e cultural”. O bairro necessitava de um local que oferecesse atividades culturais aos jovens, e um centro religioso para a comunidade judaica do entorno.

A família que decidiram visitar para realizarem uma reunião, de Bernardo Guertzenstein, proprietária dos Laboratorios Catedral, era conhecida pela coletividade. Sr. Bernardo era um dos nove filhos do Rabino Mordechai Guertzenstein, este nascido em Kiev, em 1868. Rabino Mordechai Guertzenstein havia sido enviado para as colônias do Barão Hirsch. Em 1914, o rabino Mordechai chegara a São Paulo e em 1923 mudara-se para o Rio de Janeiro. Como cita o livro do Peretz, “queriam que o sr. Bernardo se candidatasse à presidência da sociedade que seria fundada. Ele não respondeu...e perceberam que teriam que voltar outras vezes para convence-lo”. E isto ocorreu, e os sr. Bernardo acabou aceitando...


A foto ao lado nos mostra a comissão de criação da Sinagoga Mordechai Guertzenstein/Acrelbi, presidida naquele momento pelo sr. Manoel, avo do sr. Mauricio Galantier.


Podemos ver, em pé, entre outros os senhores Germano Baumohl, Francisco Aizemberg, Moises Bidlovsky, Samuel Stralberg, Já sentados temos, entre outros, os senhores Miguel Schapiro, Manoel Scharff, Bernardo Guertzenstein, Marcos Sancovsky(morador da R. Mairinque), Syja Fraiman.


Vale notar que o sr. Manoel, não participou desta sinagoga por não concordar com a linha religiosa a ser adotada, de cunho “um pouco mais liberal”. Este gostaria que esta sinagoga tivesse um caráter mais tradicional. Por este motivo, optou por frequentar a Sinagoga do Lar dos Velhos, não aparecendo, assim, da foto oficial, mais conhecida. O mesmo aconteceu com meus avos. Os pais da minha mãe frequentavam a Sinagoga Mordechai Guertzenstein, já meus avos paternos frequentavam a Sinagoga do Lar dos Velhos. Para nós, crianças na época, era uma festa a ida e vinda de uma sinagoga a outra...



Existe uma outra foto oficial da diretoria, posterior à que vemos acima, de 20 de dezembro de 1948, aonde aparece a primeira diretoria que tomou posse. Vemos Bernardo Guertzenstein, Marcos Sancovsky, kelman Orenstein, Moises Dzialowski, Jan Hoida, Abrahão Boincansky, Moises Bidlovsky, Miguel Schapiro, Germano Baumohl, Simon Glezer, Majer Klinger, Francisco Aizemberg, S. Fraiman, Felipe Schapiro, Natan Zochinski, Jose Karlik, Samuel Liberman e Smerelis Eidelmanas.


Neste momento, segundo o livro do Peretz, lavrou-se os estatutos que regeriam a sociedade que estava sendo fundada: a Associação Cultural Religiosa Brasileira Israelita da Vila Mariana- ACRELBI. A reunião foi presidida por Guertzenstein. As reuniões, após esta data, continuaram, e a cada encontro arrecadava-se dinheiro para uma futura sede... Decidiu-se, também, pela construção de  uma escola agregada à sinagoga. Esta foi construída no fundo do terreno, tendo como engenheiro responsável Mauricio Utchitel. 

Mais adiante, informações sobre a solenidade de inauguração da sinagoga...

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Atas de Reuniões, de Assembléia...o inicio da Sinagoga Mordechai Guertzeinstein, na Vila Mariana

Dr. Mauricio Galantier, no encontro que tivemos na sexta-feira, 20/07/2016, além de nos contar sobre a comunidade judaica da V. Mariana, comentou sobre a sinagoga do Peretz, ou Sinagoga Mordechai Guertzeinstein...

Ficamos sabendo que algumas das famílias que tiveram participação bem no início da Sinagoga do Peretz, foram, entre outras, os Scharff, Schapiro/Schapira, Galantier. Formavam Minian no porão da casa dos Klabin e já possuíam Sefer Torá. Depois desta epoca, conseguiram alugar um salão, e pensando em algo não só religioso, mas também de cunho comunitário e cultural, constituiram a Acrelbi (registrado em Ata).

A ideia passou a ser a compra de um terreno, um imóvel. 

Copias das Atas de Reuniões e Assembleia Geral relacionadas à Sinagoga do Pertez

A Ata de reunião de 3 de janeiro de 1946 apresenta a questão de "2 prédios, um à R. Afonso Celso e outro na R. Rio Grande". Optam pelo da R. Afonso Celso, decidindo que o sr. João Galantier procuraria os proprietários.  Nesta mesma reunião procederam à distribuição de cargos...

Já em 17 de julho do mesmo ano, na impossibilidade de adquirirem o edifício citado, decidem que o sr. Bernardo “Guertzeinstein seria visitado para marcar um dia para realizar uma reunião na residência deste com pessoas convidadas...”  O sr. Bernardo Guertzeinstein, residia na R. Conde de Irajá.

Interessante notar na Ata da reunião de 26 de maio de 1947 as decisões sobre convocar uma Assembleia, a preocupação com o local (No Asilo, talvez) e o assunto: “lembrar a construção ou criação de uma escola  e de uma sinagoga””concluindo que “ambas são necessárias à coletividade do bairro”.

Em 4 de maio de 1948 realizou-se uma Assembleia Geral da Comunidade Israelita da Vila Mariana, à R. Domingos de Moraes, 928.

Nesta, estavam presentes os senhores Moises Alterman, Francisco Aizemberg, Leo Liberman, Nechemia Yagudin, Joao Galantier, Manoel Scharff, Felipe Schapiro, entre outros, como podemos ver, também na foto.

De acordo com o site do Peretz temos: “Em 20 de dezembro de 1948, foi fundada a Associação Cultural Religiosa Brasileira Israelita da Vila Mariana- Acrelbi, cujos objetivos iniciais eram preservar a religião, manter um curso de ensino religioso e realizar reuniões culturais”.

Dr. Mauricio contou que o terreno foi doado pelo sr. Bernardo Guertzenstein. Situava-se à Rua Pinto Ferraz, atual R. Madre Cabrini, local da construção do edifício.

Pelo que meus pais, Dora e Maurice Szwarcbart, contavam, na parte superior da nova edificação, havia um salão (local em que seria instalada a sinagoga), aonde um grupo de jovens judeus do bairro, (inclusive eles), passou a se reunir. Na parte inferior, quatro quartos serviam de sala de aula, considerando a idéia de formação de uma escola. O registro oficial da sinagoga Mordechai Guertzenstein aconteceu em 9 de setembro de 1951, em uma cerimônia na recém construída sede...

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Histórias para contar? Dr. Mauricio Galantier e a comunidade judaica de Vila Mariana

Há pouco mais de uma semana, postei no Facebook um texto simples, em busca de um pouco mais de informações sobre a comunidade judaica da Vila Mariana, e sobre as Sinagogas do Peretz e do Lar dos Velhos.

O texto foi o seguinte:
“Alguém de voces frequentou a sinagoga do "Lar dos Velhos" ou do Peretz, na Vila Mariana?? Tiveram aulas com meu zaide, Chiel Leib(schochet)? Possuem fotos? Documentos? Projetos? Histórias para contar? Citando algumas famílias: Szwarcbart, Rosenblit/Roisenblatt, Dzialowski, Bloch, Schapira/Schapiro/Szapiro, Blinder, Feldman, Lafer, Dratcu/Dratwa, Guertzeinstein, Orenstein, Lerner, Tarasoutchi, Smaletz, Grunebaum, Kirschbaum, Scharff, Waidergorn, Aizemberg, Fraiman, Sancovsky, Peceniski, Chapaval, Charak, Back, Galantier. Quem mais??? Se quiserem, me passem uma mensagem inbox.

Incluí acima algumas famílias que na página do Facebook não apareceram...

Para minha surpresa várias pessoas me retornaram, muitas indicando conhecidos ou parentes. E vou postar alguns comentarios, aos poucos, começando com a indicação da Silvia Galantier KrasilchikSegundo ela, o pai, Dr. Mauricio Galantier, teria informações, material e fotos, e estaria disponível para conversar. 

Contato feito, na sexta-feira, 29 de julho de 2016,  David Carlessi e eu fomos encontra-lo.

Numa tarde excelente, Dr. Mauricio relembrou histórias, nos contou sobre as famílias e parentescos, e também sobre o início e detalhes da Sinagoga Mordechai Guertzeinstein, ou Sinagoga do Peretz.  E aqui, relato um pouco do que ouvimos (peço que quaisquer erros sejam aqui corrigidos por quem ler esta página):

Bonde da Light no canteiro central da rua Domingos de Moraes em 1943.
http://www.estacoesferroviarias.com.br/avenidas/d/domingosdemorais.htm
A família paterna do Dr.Mauricio Galantier, originária da Letonia, está no Brasil desde os anos de 1890. O bisavo, que também morou no Brasil, e o avo eram religiosos e moraram na Rua Afonso Celso, proximo ä av. Domingos de Moraes, na V.Mariana. Acolhiam os imigrantes vindos da Letonia, (brincavam que ali situava-se o “Consulado da Letonia”) que acabavam trabalhando como “Klienteltchik”. Contou sobre o avo Mauricio, sobre Benjamin e Ville. Comentou tambem que na R. Afonso Celso, situava-se a casa dos Klabin, esta ao lado do atual Supermercado Pastorinho.

Quanto à família materna, Scharff, morou na rua Marselhesa, em casas que ainda hoje existem. Na rua Estado de Israel (antiga rua do Tanque) o avô do Dr. Mauricio guardava um cavalo, e ia de charrete até o Itaim, aonde possuia loja. Faziam parte da família materna o Sr. Manuel(avo), Fernando (pai de Rafael), Bernardo, Ida (Weber, de casada), Ary, Riva, Maly, Shloime (pais da sra. Fany Feldman e Rachel). A avó materna, por exemplo chegou ao Brasil com 2 anos.

Chiel Leib, meu zaide,
que ensinou o Dr. Mauricio Galantier a rezar

E aqui cabe uma curiosidade: Dr. Mauricio aprendeu a rezar e falar Kadish com meu zaide Chiel Leib (avo paterno), quando o pai faleceu, em 1964. Lembrou que meu zaide rezava no Lar dos Velhos, todos os dias, e o Dr. Mauricio, que morava na R.Luiz Goes, dava carona para o meu zaide, que morava na R. das Camélias. 

Outro detalhe aconteceu na época do noivado do Dr. Mauricio, quando foi questionado sobre a Ketuba de noivado. Esta acabou sendo fornecida pelo meu zaide.

Na comunidade judaica, dos que ficaram na Vila Mariana, e lá se estabeleceram, muitos abriram lojas de moveis na R. domingos de Moraes, Av. Jabaquara, Praça da Árvore. Moraram no entorno da R. Marselhesa, Leandro Dupre, Luiz Goes, Borges Lagoa, Sena Madureira, Afonso Celso, Diogo de Faria, Joaquim Távora, até a região do Paraiso.


No próximo post, aguardem os comentários do Dr. Mauricio Galantier quanto ao incio da Sinagoga Mordechai Guertzenstein, ou Sinagoga do Pertez