quarta-feira, 9 de setembro de 2020

São Carlos e a comunidade judaica da cidade

Vista da Estação e o Bonde em 1918 - Estação da Cia. Paulista
Fotos Históricas de São Carlos - Autor desconhecido

A busca por mais detalhes sobre a comunidade judaica de Jundiaí permanece, assim como pelas demais cidades do interior paulista e da capital. 

Em relação à cidade de São Carlos, de acordo com o site da Prefeitura, “a região começou a ser povoada no final do século XVIII, com a abertura de uma trilha que levava às minas de ouro de Cuiabá e Goiás”. Em 1831 ocorre a demarcação da Sesmaria do Pinhal, e a fundação em 4 de novembro de 1857Em 1865, foi elevada à vila, e em 1880, passa de vila a cidade. Entre 1831 e 1857 são formadas as fazendas de café, a primeira atividade econômica de maior expressão em São Carlos, que tem seu desenvolvimento no contexto da expansão da lavoura cafeeira. O cultivo de café chega à Fazenda Pinhal em 1840.  A chegada da ferrovia em 1884 proporcionou o sistema necessário para escoar a produção para o porto de Santos, como já descrito em postagem anterior. Nas últimas décadas do século XIX tem início a imigração. Sergio Silva, em seu livro “Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil” (São Paulo, Ed. Alfa-Omega, 1976), também enfatiza que os imigrantes que chegavam a São Paulo, estabeleciam-se nas fazendas de café, substituindo a mão-de-obra escrava, como assalariados. Devido às condições encontradas muitos abandonaram as plantações, procurando melhores condições nas cidades próximas.

No site da Prefeitura também podemos ler que o período das décadas de 1930 e 1940, consolida a indústria como a principal atividade econômica de São Carlos, “que chega à década de 1950 como centro manufatureiro diferenciado, com relevante expressão industrial”.

Em relação à comunidade judaica de São Carlos, algumas pessoas já deixaram comentários no Facebook. Por exemplo, Luiz Fernando Chimanovitch comentou: “Meus avos moraram em São Carlos até 1962. Não tenho informações sobre a comunidade, além da carteirinha de sócio do meu avô, do clube Bela Vista, o qual o símbolo era uma Magen David. Eu vou procurar isso e te mandar, e perguntar à minha mãe se ela lembra de qualquer coisa...” Esther Salo Chimanovitch também escreveu: “Eu nasci em São Carlos”. Já Haroldo Petlik relatou sua história, como anteriormente divulgado: “Eu cheguei em Araraquara em 1974...eu sei que tem uma pequena sinagoga em São Carlos, que fica a 45 km daqui”. Conversei também com dr. Israel Flank, em 15 de julho de 2020, que contou que o pai, sr. Mauricio Flank, chegou ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 1925, proveniente da Galícia. Mudou-se mais tarde para São Paulo, trabalhou em São Carlos, e, em cidades como Pinhal, trabalhou com klientelchik. Comentou que na cidade de Araraquara não havia sinagoga. Como estavam próximos de São Carlos(40km), reuniam-se, para comemorar as Grandes Festas, uma vez em cada cidade, a estrada, de terra batida, tornava a viagem difícil...

Ana Szutan contou, também pelo Facebook, que a mãe e família moraram em São Carlos: “Eu tenho fotos da família, meu tio morou lá até 1956 e uma prima da minha mãe, que inclusive o pai foi um dos primeiros judeus de lá...” vamos voltar a conversar...

Weder Teixeira comentou que Ribeirão Preto, junto com São Carlos, passaram a ter comunidades atuantes a partir de 2000...

Conversei com Marta Maite Sevillano tanto pelo Facebook, quanto por Whatsapp. Marta contou: “Minha família materna se estabeleceu em São Carlos entre 1936 até 1958. Minha mãe estudou na escola de freiras sacramentinas, que tem até hoje. Na época o outro judeu da cidade era o sr. Joseph Catz que tinha um Ford bigode 1929. Eles se reuniam em casa para as celebrações judaicas, tanto que quando minha família se mudou para São Paulo, ele continuava a vir em casa para Pessach e Rosh Hashana. Tenho boas memórias de criança com ele. O sobrenome da minha família é Metelica. Não havia sinagoga na época, quando vinham a São Paulo, frequentavam a do Bom Retiro. Minha família veio de Bialistok, mais precisamente de uma cidade pequena próxima, Vachlikov. Tem muita história já que meu avô veio antes da minha avó e meu tio. Minha família iniciou êxodo depois da revolução de 1917. Do meu avô, cinco irmãos: Brasil, Israel, Argentina, EUA e o quinto foi enforcado na frente da casa na Rússia. Preciso procurar as fotos, minha avó ficava triste quando via, então acho que só perguntei dos parentes uma ou duas vezes. Temos fotos de meus bisavos no campo de concentração, e isso arrasava a minha avó, tanto que em casa sempre foi proibido falar russo e ela se tornou apátrida, não se naturalizou... Quando fiz inventário da minha mãe, fui ao Consulado Russo, consideraram meu avô um herói do exército branco. Meu avô lutou a favor do czar. Os nomes de meus avós: Abraham Metelica e Bejla Rochla Metelica. Foi muito abrasileirado, meu avô ficou na hospedaria dos imigrantes quando chegou. Ele veio sozinho, e foi para Curitiba, minha avó e meu tio vieram depois e foram para lá, então vieram pra São Paulo, onde minha mãe nasceu em 1935. Em 1936, foram para São Carlos e retornaram quando meu avô ficou doente, e minha mãe entrou na faculdade. Escolha de São Carlos pode ter sido por causa do amigo Jose, moveleiro, ou porque se aproximava mais ao estilo de vida da Europa, cidades menores. Meu avô se tornou alfaiate e minha avó vendia as roupas. Aqui tinham três amigos da cidade: Elias, a esposa e a dona Feiga. Lembro-me com carinho da dona Feiga, muito sofrida, só ela se salvou na guerra, as filhas foram mortas, lembro de um olhar triste. Dessas coincidências, está enterrada no túmulo em frente ao meu tio... Meus avós tentaram trazer as irmãs da minha avó, só uma conseguiu a liberação do governo, se casou aqui e foi morar em Sorocaba. Tia Riwa Beer, casada com o tio Chaim Beer. Eles moraram em Sorocaba acredito que década de 1930/ 40. Minha mãe dizia que a tia trouxe da Inglaterra sapatinhos, então deve ter sido por aí. Os dois já faleceram há muitos anos, não conheço bem essa história. De descendente, há o Bernardo, filho único. Sei que a esposa dele faleceu, mas depois que meus tios faleceram, perdemos o contato, ele se separou e foi se isolar no interior. Se eu encontrar as fotos no interior eu te aviso...”

Você ou sua família fez parte da comunidade judaica de São Carlos, de Jundiaí, Rio Claro, Limeira, Piracicaba, Sorocaba, Baurú, Marília, Franca, Barretos, Botucatu, ou de tantas outras do interior paulista? Escreva para myrirs@hotmail.com e compartilhe a sua história...

2 comentários:

  1. Em 1998 foi reconstituída a comunidade judaica de São Carlos, com Júlio Zukerman, Ignez Caraceli e Salomon S. Mzrahi!
    Tenho muitas fotos,filmes e reportagens nos jornais da cidade. Recepcionamos e cônsules de Israel, no teatro municipal apresentou-se o grupo de dança israelí Hakotzrim da Hebraica,recebemos um sêfer Torá doado pela sinagoga Beit Yaacov. Mantínhamos cabalat shabat toda sexta-feira na sinagoga, e comemorávamos as festas judaicos incluido os yamim noraim!

    ResponderExcluir
  2. Shalom, existe uma comunidade judaica ativa em são Carlos? agradeço desde já e que o ETERNO vos abençoe.

    ResponderExcluir

Agradeço o seu comentário. Anote seu nome e e-mail para receber um retorno...