segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Círculo Israelita de Piracicaba e a comunidade judaica da cidade.

Foto: Sinagoga de Piracicaba
Centro de Memória - MJSP
(não autorizado compartilhar)

Venho buscando informações sobre as sinagogas de São Paulo, tanto da capital, como do interior paulista. Na última postagem do Blog que escrevo, relativo às Sinagogas em São Paulo, Arte e Arquitetura Judaica, questionei se você fez ou faz parte da comunidade judaica de Piracicaba, se possui fotos, documentos, memórias ou histórias a compartilhar. Também perguntei se você conheceu, ou frequentou, a sinagoga desta cidade, o “Círculo Israelita Piracicabano, CIP, fundado em 5 de junho de 1927, e que estava situado em uma casa térrea à Rua Ipiranga, edifício já demolido. 

Com a colaboração da comunidade judaica que morou, e dos que ainda moram, em Piracicaba, de muitos moradores da cidade, de informações disponíveis em publicações e em sites, como o do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, e de álbuns de fotos disponíveis para consulta no Centro de Memórias do Museu Judaico de São Paulo, vem sendo possível reunir detalhes sobre a comunidade e sua sinagoga.

No Facebook, na página “Sinagogas em São Paulo”, por exemplo, Marcelo Rosenthal encaminhou uma foto, de Laurisa Cortellazzi, em frente à sinagoga. Na época em que foi vereadora propôs o tombamento do edifício. Marcelo comentou: “Infelizmente o prédio onde funcionou a sinagoga foi demolido pelo proprietário, que foi acionado pelo Ministério Público. Na época que a sinagoga funcionava, não sei dizer se o prédio era próprio, mas pelo que lembro meu pai contar, creio que não. Posteriormente, nos anos 90, foi iniciado um processo de tombamento, o edifício foi demolido repentinamente e, por isso, o Ministério Público entrou com uma ação judicial, cujo desfecho desconheço. O Sefer Torah da sinagoga de Piracicaba não foi para São Paulo. Foi para o Kibutz Bror Chail em Israel. Eu tenho mais fotos da sinagoga, nos arquivos do meu pai e vou procurar.” Busco detalhes sobre este edifício, assim como a quem pertencia o mesmo, quando este foi demolido.

Em 18 de setembro de 2019 estive no Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo e, como sempre, fui muito bem atendida pela Maria Theodora C. F. barbosaEnquanto verificava a listagem do acervo, encontrei um item relacionado à minha pesquisa, que resolvi olhar: Sinagoga de Piracicaba. Há 2 álbuns com "fotos de contato", de Elias Rosenthal e 1 foto ampliada (CI0005-FOT-SIN/0247 - RT\G32\J560), que aqui compartilho, da fachada da sinagoga, que pode ser comparada à enviada pelo Marcelo Rosenthal, e às disponíveis nos links apontados abaixo. O compartilhamento da foto não está autorizado. Para tanto, entrar em contato com o Centro de Memória do Museu Judaico

Sobre a Sinagoga de Piracicaba, ou melhor, “Círculo Israelita de Piracicaba” há informações publicadas na “Série Patrimônio Cultural de Piracicaba - Volume 2 - Igrejas” (Piracicaba DPH – IPPLAP 2012). O texto desta publicação descreve que “com a finalidade de exercerem de forma mais adequada seus ritos religiosos, o Círculo Israelita de Piracicaba fundou sua primeira sinagoga, inaugurada em 05 de junho de 1927. A Sinagoga de Piracicaba tem sua história ligada à da imigração de famílias judias que, desde o final do século XIX, inseriram-se à sociedade local. Na primeira metade do século XX, somavam-se cerca de 40 famílias judias, residentes em Piracicaba e região...” Durante 43 anos, a Sinagoga exerceu “suas funções cultural, social e religiosa, atuando na sociedade piracicabana por meio de seus atos caridosos”. Consta, nesta publicação, que a partir da década de 1960, muitas famílias deixaram a cidade e a comunidade foi diminuindo. Decidiram-se pela venda da casa, em cuja fachada estava representada a Estrela de David, “doando os recursos obtidos com a venda para a construção de um pavilhão para abrigar crianças órfãs em Israel”. Porém o local “continuou sendo um ponto de referência histórico e cultural para as famílias judias que continuaram morando na cidade de Piracicaba...e antiga sinagoga, ainda que em desuso, representava uma série de experiências comuns a uma sociedade que compartilhou de uma mesma história e de um mesmo processo... e a possibilidade, ainda que por mera apreciação externa do local, de manter vivos seus laços de continuidade com o passado, representados em sua fachada...” O prédio, ativo até 1070, e “demolido sem autorização em agosto de 2001, encontrava-se em processo de Tombamento municipal desde maio do mesmo ano, e apesar de um auto de embargo encaminhado pela Secretaria de Obras de Piracicaba, a demolição deu-se até o final, lesando assim o direito à memória de toda uma comunidade...” Em 2012, época da publicação do texto, a comunidade judaica de Piracicaba e região contava com 70 pessoas, que se reuniam frequentemente, para comemorar as festas judaicas, em espaços alugados pelas famílias.

Há uma foto, em preto-e-branco, da fachada do antigo Círculo Israelita de Piracicaba, na página 39 desta série. Foto semelhante à disponível no Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo. Veja o texto completo e a foto nos sites https://docplayer.com.br/8914264-Serie-patrimonio-cultural-de-piracicaba-volume-2-igrejas-piracicaba-dph-ipplap.html e http://ipplap.com.br/site/wp-content/uploads/2013/03/igrejas-3.pdf

No livro “Piracicaba que amamos tanto”, de Cecílio Elias Nettto (IHGP - Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba - 1ª edição - São Paulo. Piracicaba 2), à página 82, há também uma foto da fachada, em preto e branco, e um pequeno texto relativo a esta sinagoga: “Círculo Israelita de Piracicaba - Inaugurada em 5 de junho de 1927, a Sinagoga de Piracicaba tem sua história ligada à da imigração de famílias judias. Prédio demolido em 2001”. Veja o link: https://www.aprovincia.com.br/core/wp-content/uploads/antigo/2016/11/c7dd363fdb3fcba96eaf0b9c71c624ab.pdf

Relacionado a este Tombamento, há informações, na internet, sobre imóveis em processo de tombamento pelo CODEPAC (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural – Conselho Municipal de Piracicaba). Dentre estes imóveis, podemos verificar detalhes sobre a Sinagoga de Piracicaba: “Antiga Sinagoga (demolida). Localização: Rua Ipiranga, 826 - Centro. Aberto Processo de Tombamento em 04 de maio de 2001”. Mais detalhes podem ser consultados no site: https://www3.faac.unesp.br/patrimonio/Leis/Municipais/piracicaba/Imoveis%20em%20processo%20de%20tombamento%20pelo%20CODEPAC.pdf  

Ainda sobre este processo de Tombamento, mais detalhes estão disponíveis na internet. Pode-se ler “Edital de convocação de reunião ordinária, de abril de 2018, pela Secretaria Municipal da Ação Cultural e Turismo da Prefeitura do Município de Piracicaba – SP... o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Município de Piracicaba(CODEPAC) se reúne com seus Conselheiros e Conselheiras para a reunião ordinária no dia 13 de abril a fim de se analisar os documentos e assuntos constantes na seguinte pauta...Expediente Item 3...Assunto: comunicado Localização: Rua Ipiranga, 826 (Antiga Sinagoga)”.  http://conselhos.piracicaba.sp.gov.br/codepac/files/2018/04/Ord.-n%C2%BA-04-de-13.04.18-Ed.-Convoca%C3%A7%C3%A3o-FINAL.pdf

A Sinagoga de Piracicaba foi registrada como Círculo Israelita Piracicabano, uma associação privada, e situava-se à Rua Ipiranga, 826, Centro de Piracicaba.

Vários comentários foram feitos no Facebook a partir da publicação das histórias de sr. Mauro Krasilchik e sr. Bernardo Blumen.

Sr. Helio Pilnik indicou Marcos Rosenthal, Horácio Rosenthal, Sueli Utchitel, Marta Benatti e Ana Maria Benatti Marta Benatti escreveu: “Eu conheci onde era a sinagoga da Rua Ipiranga. Não sabia que foi demolida. Uma casa amarelinha. Renato teve aula com o Guilherme, na faculdade. Com o Jaime ele comprou e vendeu carros. Não tenho fotos e, também, não sei quem eram os proprietários. Sei apenas do processo. Na última venda do prédio, foi oferecido ao meu marido, mas já estava em processo de tombamento. Isso há mais de 30 anos atrás. E assim estava, até eu saber, por aqui, que foi demolida. Era uma casa simples, com porta e janela para a rua e uma enorme Estrela de David na fachada, feita de cimento, acredito...” Sr. Helio Pilnik comentou : “Marta Benatti, que legal, você mostrou a história para o Renato? Tem um dentista na história, tem o Jaime Rosenthal que ele me disse que conheceu...”

Bernardo Blumen agradeceu, em relação à postagem que fiz, relativa à sua família em Piracicaba: “Myriam, mais uma vez parabéns pelo trabalho. Ele reproduziu a realidade do período em que morei em Piracicaba, de 1945 a 1960. Foram 15 anos convivendo com aquela comunidade...” E Estephani Blumen escreveu: “Está é a história da minha família. Parabéns pelo trabalho!”

Frida Gasko Spiewak deixou também um comentário: “Parabéns à Myriam por resgatar a história da comunidade judaica de Piracicaba Agradeço ao Bernardo Blumen por lembrar o nome do meu saudoso avô materno Salomão Salzstein z"l. Tenho relatos de Piracicaba que brevemente enviarei a MYriam. Minha mãe, Mina Gasko, se formou professora na escola Normal de Piracicaba. Salomão Becker z"l e família (pais e irmãos) também são de Piracicaba. Salomão Becker foi diretor do Iavne. Bernardo, excelente seu texto sobre a vida judaica em Piracicaba.”

Ester Pintchovski escreveu: “Muitos destes nomes ouvi do meu pai Isaac Krasilchik, até estivemos em Piracicaba...”

Silvio Ary Priszkulnik elogiou: “Que trabalho!”

Sr. Mauro Krasilchik comentou, também no Facebook:  “Arrasou Dutche, maravilhoso relembrar as estórias da família Bernardo Blumen. Orgulho de ser Krasilchik, obrigado pela homenagem Myriam Szwarcbart. André LevySaulo LevyDaniel Levy e Igal LevyCorinne Brick Marian , Marcelo BrickMyriam KrasilchikMiriam BrickDavid KrasilchikAna Cândida Krasilchik, estória maravilhosa da nossa família”. Após seu comentário inicial, escreveu também: “Marcelo Brick, lindas palavras primo, nada paga a emoção de revivermos a nossa estória que com certeza ficará marcada para o resto de nossas vidas... Nessa publicação que emocionou à todos da família, posso ter deixado de mencionar algumas pessoas que também foram importantes em nossas vidas, mas infelizmente a nossa convivência diminuiu com o passar do tempo. Quero aqui pedir desculpas se isso realmente aconteceu, mas não foi a minha intenção... muito importante para o nosso dia a dia. Um grande abraço primo e obrigado mais uma vez em compartilhar esses ótimos bons momentos que passamos na nossa infância e em nossas vidas.”

Marcelo Brick comentou também no Facebook: “Mauro Krasilchik e Myriam Szwarcbart, muito obrigado, muito emocionante essa homenagem e essas lembranças. O Mauro contou tudo, passávamos nossas férias nas casas dos nossos respectivos avós. Os meus, Clara Krascilchik Brick Z'l e Germano Brick Z'l La encontrávamos outros tios e primos. As irmãs de meu pai, Elisa Lerner Z'l, casada com Chepsel Lerner (grande músico que fez história e carreira no Rio, tocando no Cassino e em cerimônias no palácio presidencial, pais da minha querida prima que se foi cedo Silvia Lerner Z'l e Gustavo Lerner, hoje morando na Itália. E minha outra tia Miriam Brick Sterenkratz, casada com Marcos Sterenkratz Z'l, pais do primo Gilberto Brick, pai da doce Evinha, todos morando no Rio. Lá na casa dos meus avós também moravam meu tio Anchel Z'l e minha bisavó Hana Z'l, que carinhosamente chamávamos de Bobbi velhinha, faleceu com 98 anos lúcida. Anos incríveis. Lembro que corríamos ladeira abaixo até a linha férrea quando o trem passava apitando. Tempos que não voltam, mas nunca saíram das nossas memórias. Quem pode ajudar também é o Roberto Weiser, nativo da terrinha e da já citada família Rosenthal por parte de sua mãe Stela Z'l...Lembrando sempre da queridíssima, e já citada cientista brilhante da USP, Myriam Krasilchik e sua mãe Regina Z'l (pra mim tia Regina) da já citada família Werdeshein...” E mencionou Mauro Krasilchik ao continuar, relacionado ao afastamento dos dois: “Verdade, nem a minha, foram rumos que a vida toma independente da nossa vontade, mas aqui estamos resgatando essas memórias...grande abraço, primo...”

Questionei sr. Mauro Krasilchik e Marcelo Brick se eles se lembravam de como era a fachada da sinagoga e como era o edíficio internamente. Mauro Krasilchik comentou que foi poucas vezes à sinagoga, era uma casa normal “e o tipo de construção era idêntica das sinagogas do Cambuci, Lapa ou Brás...antigamente as sinagogas tinham o mesmo estilo de construção. Fazem muitos anos com certeza, mas acredito que seja sim porque a entrada era de uma casa normal, a estrela de David que está na parte superior da casa eu não me recordo dela

Marcia Landen Burkinski e Alberto Kessel  indicaram, também, Roberto Weiser: “Ele deve saber de tudo por lá...”

Você fez ou faz parte da comunidade judaica de Piracicaba? Conheceu ou frequentou sua sinagoga, o “Círculo Israelita Piracicabano, CIP, fundado em 5 de junho de 1927, e que estava situado em uma casa térrea à Rua Ipiranga, edifício já demolido? Possui fotos desta sinagoga, documentos, memórias ou histórias a compartilhar? Escreva para myrirs@hotmail.com

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Comunidade judaica de Piracicaba...muitas histórias...


Bar-Mitzva de sr. Bernardo Blumen em Piracicaba
Bar-Mitzvah sr. Bernardo Blumen
Piracicaba

Após a última postagem no Blog das Sinagogas em São Paulo, “A comunidade judaica de Piracicaba”, sr. Bernardo Blumen registrou diversos comentários, tanto naquela postagem, como no Facebook. Também pudemos conversar pelo Whatsapp, neste mês de novembro de 2020. Agradeço muito a participação de sr. Bernardo Blumen, e aqui compartilho suas histórias e fotos: 

“Aqui é Bernardo Blumen. Recebi, pelo meu filho Jack, o link sobre o trabalho que você está fazendo sobre a coletividade judaica de Piracicaba. Mauro Krasilchic, que me passou seu contato, é meu primo de 2° grau. Fiquei escrevendo sobre a história da minha família e alguns complementos que ali não constavam. Minha família, Blumen, se estabeleceu em Piracicaba desde 1945. Eu ainda tenho em Piracicaba uma cunhada e duas sobrinhas de sobrenome Blumen. Morei em Piracicaba até o ano de 1961, ano em que vim morar em São Paulo. 

Meus pais, sr.Leib (Leão) Blumen e sra. Helena(Enta) Eliukin, vieram, os dois, da Bessarábia. O meu pai veio de Britchive, hoje Moldávia, e minha mãe, de Sucaron. Meu irmão, Guilherme, nasceu em Olímpia, perto de Barretos, em 1939. Eu, nasci no Rio de Janeiro, Madureira, em 1942. Meus pais se conheceram em São Paulo. 


Sr. Leib Blumen
Os meus avós paternos eram sr. Iankel Blumen e sra. Feiga Blumen, e maternos sr. Gherson Eliuchin e sra.Tirel Eliuchin. A minha avó materna, só a conheci muito pouco, pois ela morava no Rio de Janeiro. Nenhum parente, por parte da minha mãe, sabe informar de onde veio o sobrenome Eliuchin, tendo em vista que a família é Barg. 

Quando eu tinha doze anos, minha mãe comprou uma charrete com uma égua a fim de facilitar a sua locomoção para as vendas de roupas e o recebimento das prestações. Nunca tiveram loja aberta, sempre a loja era dentro de casa em um local destinado exclusivamente para isso. A técnica era nunca deixar o "freguês" terminar de pagar a conta. Dois meses antes, já ofereciam outra mercadoria e eles compravam. Nos dias de pagamento das grandes empresas, lá estava ela para receber as prestações. Naquela época os empregados recebiam em dinheiro. 

O meu pai era muito bom na aritmética. Num determinado momento ele falou que a receita não estava compatível com os recebimentos. Um dia, minha mãe tirou de um bufê que tinha na sala, o equivalente hoje a R$1000.000, entregou para o meu pai e disse, vai para São Paulo e compra outro apto. 

Sra. Helena(Enta) Eliukin 

E assim foi. Comprou um apartamento na Rua Ribeiro de Lima onde eu morei quando me casei, de abril de 1969 até final de janeiro de 1972. No final de 1972, compramos o nosso apartamento novo, decorado, na Alameda Franca, onde estamos até agora. 

Aqui, criamos os dois filhos até cada um se casar. Assim como minha esposa os dois foram criados na CIP e na Chazit. Eu e a Lydia nos casamos na CIP, meus filhos fizeram Bar Mitzvah e se casaram na CIP. Nós éramos muito amigos do Rabino Sobel. 

Eu cito no meu descritivo o avô materno da Frida Gasko, que foi o primeiro a dar crédito aos meus pais, a fim de que eles começassem o seu pequeno negócio de venda de roupas. O nome dele era Salomão Zalstein. A primeira vez que vim para São Paulo, ainda criança, foi ele que me trouxe numa viagem de trem de quatro horas...”

Questionei se sr. Bernardo possuía detalhes sobre a sinagoga, e se reconhecia as fotos da fachada, que enviei a ele. Sr. Bernardo comentou: 

Sr. Iankel Blumen

“Frequentávamos a sinagoga, porém por essas fotos não reconheço a fachada. E, lamento, mas não tenho nenhuma foto”.  Porém, descreveu um pouco a Sinagoga: “Era uma casa térrea, na entrada tinha uns três degraus, logo à direita tinha uma "cerca", de madeira, e dentro ficavam as mulheres. Em frente, num outro espaço, ficavam os homens, e era onde ficava a Arca Sagrada com a
Torah. Seguindo, em frente, havia um quarto vazio, cimentado, onde se acendiam grandes velas em Kol Nidrei. Sempre ficava um garoto não judeu tomando conta das velas. Mais em frente tinha um quintal e tinha um grande pé de amora e as crianças se deliciavam. 

Na nossa casa, no dia anterior ao Kol Nidrei minha mãe comprava um galo, uma galinha e dois galinhos. No dia de Kol Nidrei, logo pela manhã, antes de irmos para a escola, era feito a Kapara

Meu pai fazia as rezas e uma vez de cada um girava a ave em cima da cabeça. Quando cada um terminava, arrancávamos uma pena dela, e a jogávamos embaixo da mesa (elas estavam com os pés amarrados). A gente tinha galinha por um bom tempo, apesar de que os galos ter a carne mais dura. 

Sra. Feiga Blumen

Ainda na véspera ou no dia do Kol Nidrei, as crianças iam nas casas dos outros judeus, e quando abriam a porta, geralmente eram as esposas, a gente falava em Idish, "Ir guechimen beiitem leiquer mit bronfm”. Traduzindo, caso você não tenha entendido: “Eu vim pedir bolo com pinga”. Apesar de fazerem muitos anos, isso ainda está muito fresco na minha memória. Esse ritual foi feito durante muitos anos, até ser trocado por donativo para alguma instituição judaica. 

Minha mãe jejuava em Yom Kipur, meu pai e nós não. Como já havia dito, na hora do almoço as crianças masculinas iam ao mercado Municipal comer pastel de carne e chupar tamarindo. A Lydia, minha esposa faz o jejum até hoje e não sente absolutamente nada. Sr. Benjamin Rosenthal, a esposa Frida, e os filhos Clara, Marcos, Horácio e Sueli, que moravam em Barretos, vinham para Piracicaba nas Grandes Festas, e juntavam-se à família que morava na cidade. 

Meu irmão Guilherme fez Bar-Mitzvah em março de 1952. A cerimônia de Talit e Tefelin foi na Sinagoga da rua Ipiranga. Quem ensinou as Brachot foi um senhor que era irmão do avô do Mauro Krasilchik, e era ele que, também, fazia as rezas em Rosh Hashanah e Yom Kipur

Sr. Leib Blumen

A festa foi na nossa casa, no quintal, que era bem grande e toda a coletividade foi convidada. Quem fez toda a comida foi a avó do Mauro que cozinhava muito bem

O meu Bar-Mitzvah foi em maio de 1955, também na Sinagoga, e a festa também foi na nossa casa, à noite, e toda a coletividade estava lá. Só que, dessa vez, meu pai trouxe uma cozinheira de São Paulo, que era especializada nesses eventos. 

Outro detalhe é que eu, meu irmão Guilherme, e o Jaime Rosenthal começamos a aprender a tocar violino. Após alguns meses, somente eu continuei, fui à um conservatório que havia em frente à minha casa, toquei em diversos recitais e em orquestra. Parei de tocar aos dezoito anos quando já estava morando em São Paulo e fazendo cursinho para o vestibular...”

Sr. Bernardo compartilhou diversas fotos, que aqui compartilho: “A foto do meu avô paterno; do meu pai Leib Blumen em 19....; do meu pai com os irmãos no Rio de Janeiro (da esquerda para a direita  Nathan, o mais velho casado com Clara, uma filha, Lucia; Ida a segunda mais  velha casada com Chai Parnes; filhos, Pesse, que vai fazer 97 anos em março; Daniel, já falecido e Chua também falecida; Moishe casado com Clara, os dois falecidos e que não tiveram filhos; meu pai; Molka casada com David Goldemberg; dois filhos, Sally, já falecida e Jacob, 84 anos; Meir casado com Joana, os dois já falecidos; duas filhas, Fany, já falecida e Freida, 70 anos). Outra foto, de minha mãe, Helena, já falecida e uma foto no meu casamento civil. Vemos mais uma foto onde, à esquerda, está meu irmão Guilherme, já falecido; à direita, eu; no centro, uma moça que trabalhava em casa em Piracicaba, éramos crianças. Foto do meu Bar-Mitzvah em Piracicaba. Segue uma foto comigo, minha mãe e meu irmão, no quintal da minha casa. Mais uma foto: as irmãs da minha mãe (da esquerda para a direita, minha mãe Enta ou Helena, Hasia, Lhuba, Rifca e Esther, faltaram dois irmãos, todos já falecidos).  E uma foto da minha avó paterna; uma foto do meu pai, mais recente do que a primeira, já em Piracicaba. 


Veja a foto onde apareço tocando violino, com doze anos, e a foto na Formatura do meu irmão Guilherme, Odonto. Por último, a foto de minha formatura, no Teatro Municipal de São Paulo (Mitsu, a segunda esposa do pai da Lydia, Abraham, pai da Lydia, Lydia, eu, minha mãe, meu pai e meu irmão)”.

Um detalhe interessante a ser lembrado, como contou sr. Bernardo: “Quando meu irmão Guilherme nasceu, meu pai foi registrá-lo. O cartorário perguntou: O filho é natural ou legítimo? Meu pai respondeu: Natural que é meu filho. Aí, a certidão de nascimento do meu irmão ficou registrado como filho natural, o que significava, naquela época, filho de pais não casados. Essa falha só foi arrumada, em Piracicaba quando meu irmão tinha dezoito anos. 

Outra curiosidade: durante o período em que fiz o ginásio no colégio Piracicabano, eu tinha amizade com um jovem que também estudava no mesmo colégio, chamado Cesário de Campos Perrari. O pai dele tinha uma empresa funerária, e muitas vezes nós dois íamos para o colégio de carro funerário. Ele era muito meu amigo, e vivíamos muito um na casa do outro. Eu suponho que ainda esteja vivo...”

Sr. Bernardo, a mãe e irmão

Sr. Bernardo completou algumas informações divulgadas anteriormente: “O Mauro Krasilchik não comentou que tinha uma irmã, mais velha, cujo nome era Jane, casada com Igal, e tiveram quatro filhos, sendo dois gêmeos. A Jane já é falecida há mais ou menos oito anos. Mauro citou dois filhos da família Brick, do Marcelo. Até 1961, sei que os filhos de sr. Abraham e sra. Selka Brick não moraram em Piracicaba, e não eram da cidade. Somente o sr. Abraham Brick era da de Piracicaba, e se casou com a sra. Selka, que era farmacêutica. Aí eles se mudaram para São Paulo, aqui tiveram os dois filhos, e aqui moraram. Sr. Abraham e sra. Selka, eu os encontrava nos finais de semana na Hebraica. Ele, a gente chamava de Bumao, e o outro Abraham, o Krasilchik, pai do Mauro e da Jane, já falecida, e casado com a minha prima Bela, era o Buminha.e Sara. E Clara era a mãe do Abrão, e da Miriam Brick. Com relação à Myriam Krasilchik, vivia para a mãe, e sempre foi uma sumidade. Ela é prima de um rapaz aqui de São Paulo, chamado Luiz Werdeshein, que fora casado com uma prima minha de nome Shirley, que faleceu precocemente aos cinquenta anos de idade. O meu apelido, dado pelo meu irmão era Dutche, pois na época da segunda guerra ele ouvia falar no Duce (Mussolini), e o apelido do Mendel Rosenthal era Dodo. A senhora velhinha falecida, a que todos nós a chamávamos de Babi, era a mãe do avô do Mauro Krasilchik, e mãe daquele que fazia as rezas na Sinagoga... Todos os sábados e domingos à noite muitos se reuniam da casa da Clara, ou do avô do Mauro... Os homens jogavam buraco e as mulheres jogavam conversa fora tomando chá e comendo bolo...”

Formatura sr. Bernardo Blumen

Marcelo Brick comentou, a partir do relato de Bernardo Blumen: “É isso, Bernardo, meu pai, Abram Brick, o Buma ou Bumão, (o primo Buminha - o outro Abram, era o pai do Mauro Krasilchik), nasceu em Piracicaba e morou lá até terminar a faculdade, depois se mudou pra São Paulo, onde casou e se estabeleceu. Minha tia Elisa, que já citei, era a irmã mais velha do meu pai, e já morava no Rio desde que se casou. E minha tia Mirinha, que ainda morava lá, acabou se casando com um carioca também, e se mudou para o Rio. Depois que meu avô Germano Brick faleceu, no final dos anos 1960, minha vó foi morar no Rio, próximo às duas filhas. 

Eu era muito criança, nasci em 1960, então tenho lembranças não tão nítidas, não lembro da Sinagoga, mas sei que havia. Inclusive até onde eu sei, foi a sua prima Bela Z'l quem apresentou os meus pais. E sim, já em São Paulo, costumávamos ir à Hebraica aos domingos. 

Formatura sr. Guilherme Blumen

Obrigado por compartilhar essas memórias e histórias! Indico para procurar no Facebook, o Roberto Weiser, acho que ele não está nesse grupo. Ele é nascido em Piracicaba, a família da mãe é Rosenthal, já citada por você. Acho que ele deve ter informações e fotos, já que ele é de lá e ainda tem família morando em Piracicaba (ele mora em São Paulo há muito tempo já)...”

Mauro Krasilchik também escreveu: “Primo Bernardo Blumen, realmente tudo o que escreveu aqui colaborou também para que pudéssemos lembrar da coletividade judaica em Piracicaba. Tenho certeza também que tudo o que falou do Bumão e da Selka Brick, pais do Marcelo Brick, da Corinne Brick Marian e da Estela Brick, a nossa Estelinha, está correto, acho que não moraram em Piracicaba e sim os avôs maternos e paternos, tios e primos. 

Os meus pais, Abram Krasilchik, que era conhecido como Buminha, e a minha mãe, Bella Medvedi Krasilchik, também não moravam em Piracicaba, mas se conheceram e casaram na casa dos meus primos Bernardo e Guilherme Blumen, e de seus pais, que eram meus tios Leibale e Yente Blumen. 

Muitas saudades e muitas estórias de tudo isso que passamos em Piracicaba. Agradeço a todos pela colaboração...”

Sr. Helena com as irmãs

Sr. Bernardo completou: “Espero ter cooperado para a história que a Myriam está escrevendo, sobre a coletividade judaica de Piracicaba. Fiquei também muito feliz de ter podido cooperar, resgatando as memórias de nossa comunidade judaica de Piracicaba, da qual tenho muito orgulho de ter pertencido...”

Neste post compartilho as fotos encaminhadas por Bernardo Blumen, com sua autorização.

Você fez ou faz parte da comunidade judaica de Piracicaba? Conheceu ou frequentou sua sinagoga, o “Círculo Israelita Piracicabano, CIP, fundado em 5 de junho de 1927, e que estava situado em uma casa térrea à Rua Ipiranga, edifício já demolido? Possui fotos desta sinagoga, documentos, memórias ou histórias a compartilhar? Escreva para myrirs@hotmail.com

terça-feira, 17 de novembro de 2020

A comunidade judaica de Piracicaba

Compartilhei no Blog e no Facebook as informações sobre Piracicaba, sua história e detalhes iniciais da comunidade judaica da cidade. E questionei: “Alguém possui fotos da Sinagoga de Piracicaba, isto é, do Círculo Israelita Piracicabano, fundado em 05 de junho de 1927? De sua fachada ou seu interior? Quando a sinagoga de Piracicaba foi desativada, o Sefer Torah foi doado para a Sinagoga da Rua Prates? Alguém teria mais detalhes?”

Este post é extenso, porém reúne os sobrenomes de diversas famílias que fizeram parte da comunidade judaica de Piracicaba...

Mauro Krasilchik entrou em contato e contou: “Boa tarde, realmente o meu pai, meu tio David, e meus avós paternos, Luiz e Sara Krasilchik fizeram parte da comunidade judaica em Piracicaba. O meu pai, Abram Krasilchik, ajudava os meus avós a venderem roupas de cama e mesa na cidade, e o meu tio David se formou Engenheiro Agrônomo na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Meu pai conheceu a minha mãe, e se casaram lá, em Piracicaba mesmo. E, depois, vieram morar em São Paulo. Provavelmente devo ter algumas fotos dessa época, mas preciso ver nos álbuns de família, das minhas filhas. Uma coisa interessante é que, quando a Sinagoga deixou de funcionar, o único Sefer Torah veio para São Paulo, e acredito que até hoje deva estar na Sinagoga da Rua Prates, do Marcos Smaletz Z'L. Vou tentar localizar essas fotos, e depois repassar em seu whatsapp. Eu agradeço, talvez alguém que naquela época presenciou a vinda do Sefer Torah possa te dar alguma informação a respeito. Acredito que algum idoso, que estava presente na chegada do Sefer Torah, deva lembrar. É de grande valia o seu lindo trabalho sobre as sinagogas. Parabéns!!!! Com certeza, o que puder colaborar, e estiver ao meu alcance, conte comigo... Em Sorocaba não tem mais nenhuma Sinagoga já faz muito tempo. Algumas famílias começaram a frequentar as sinagogas de Campinas...”

O presidente da sinagoga da Rua Prates vai fotografar as capas das Torot que estão lá e me enviar, e também pedir para uma pessoa que sabe ler hebraico para ver os nomes das famílias que doaram as Torot. De repente descobrimos se uma das Torot era de Piracicaba...

Sr. Mauro Krasilchik localizou as fotos de Piracicaba, como comentado acima, e as enviou por whatsapp, onde contou: “Uma das fotos é coletiva, da maioria dos habitantes da comunidade na cidade, aparecem as famílias Brick, do primo Marcelo, e Krasilchik, que moravam na mesma rua, a Rua Prudente de Moraes. Tem as fotos do pai e da mãe, que inclusive se casaram na sinagoga da cidade. Uma das fotos é do zeide Luiz, da avó Sarah, e dos avós do Marcelo Brick. Fotos que estavam no álbum do Bat-Mitzva da minha filha, um álbum de família...” Sr. Mauro frequentou pouco a sinagoga da cidade, pois morava em São Paulo. Ia para Piracicaba nas férias, de dezembro para janeiro, e retornava no carnaval. Sempre combinava com o primo, Marcelo, da família Brick. Sempre estavam juntos. E contou: “A família ficava unida, todos se reuniam. Era um lugar onde todos se sentiam bem. A sinagoga, com o tempo foi acabando, o zeide participava muito da sinagoga, nas Festas e Shabat, mas era uma época em que eu era muito pequeno, criança, não lembro mais, talvez a irmã... eu quase não chegava a ir. Depois de um tempo, tinha o Elias Rosenthal, o Pedro, a esposa, que tinha loja de moveis, falava-se que a casa dele se mexia. O Dr. Elias, dentista, que tinha consultório, o Jaime, o Marcos, que foi corredor de automóveis em Piracicaba e tinha uma concessionaria, a União de Veículos, na Av. Armando Sales de Oliveira. Lembro-me da Avenida Gov. Pedro de Toledo, a principal de comércio, a Pça Jose Bonifácio, onde ficava a Igreja, e que era a praça principal, onde os moradores da cidade se reuniam...e o Rio Piracicaba, onde faziam as pescarias... Pode falar com minha prima, a Miriam Brick, tia do Marcelo, e a Corine Brick, que mora fora hoje, e compartilha informações... Piracicaba nos traz muitas saudades e recordações maravilhosas...” 


No Facebook, Mauro escreveu: “Quem convive, ou conviveu, chega a sentir um nó na garganta, né Miriam Brick
Marcelo BrickCorinne Brick Marian? Tudo era muito bom, esses dias eu lembrei que íamos na casa da Dna. Domingas, que morava na Rua Gov. Pedro de Toledo, e subíamos numa goiabeira que ela tinha nos fundos, para apanhar goiabas... comíamos muita goiaba.” Corinne Brick Marian completou: “Mauro Krasilchik, com certeza. Uma infância maravilhosa, que tivemos lá. Famílias Krasilchik e Brick, irmãos, primos, tios, avós. Muito amigos da família Rosenthal, entre outras... lembro muito bem da goiabeira, comíamos às vezes até com bicho dentro! Tenho somente fotos de família. Eu era criança então não lembro muito bem. A minha tia Miriam Brick, com certeza tem muitas histórias para contar. Não estou conseguindo marcá-lá aqui, mas o Mauro marcou aí em cima.” Mauro autorizou o compartilhamento das fotos: a foto inicial apresenta o sr. Abram e sra. Bella Krasilchik, pais de Mauro.

Sr. Tobias Kogan contou, também no Facebook: “Fiz faculdade em Piracicaba entre 69 e 72. Conheci um querido amigo, Jaime Rosenthal, infelizmente já falecido . Me ajudou muito quando morei lá...”  E Kelly Sal contou: “Muita história, mas nós chegamos em São Paulo em 1955&1957”

Claude Hasson comentou sobre a postagem anterior: “Muito interessante!” E Sonia Miltzman escreveu: “Que pesquisa incrível, uma análise da organização do judaísmo piracicabano. Mazal Tov.”

Percio Wajnsztejn fez uma indicação: “Favor consultar o Mendel Rosenthal em sua página no Facebook. Ele é nascido em Piracicaba-S.P...” Josebel Rubin também escreveu: “Mendel Rosenthal é de Piracicaba. Ele mora atualmente no Guarujá. E tem Facebook...” Ely Marcio Reibscheid indicou Daniel Rosenthal. E em Zeladores do patrimônio Histórico, Revista Barroco deixou registrado: “Revista BARROCO apoia e recomenda..”

Diversas informações estão disponíveis no site do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, como pode ser visto em http://wiki.ihgp.org.br . Na categoria "Enciclopédia Digital de Piracicaba", há  dados do Dicionário de Piracicabanos / Samuel Pfromm Netto. - 1. ed. -São Paulo: PNA, 2013, Pfromm Netto, Samuel, 1932-2012. Aqui compartilho diversos detalhes e partes do texto desta enciclopédia:

Sobre a família Kramer, lê-se que “Juntamente com as famílias Polacow, Mitelman, Krasilchik, Becker, Leiderman e outras, fundaram a primeira sinagoga israelita de Piracicaba, que funcionou durante mais de quarenta anos, de 1927 a 1970 (cita Rosenthal, 199..., a verificar).” No texto consta: “sr. Moysés Kramer, engenheiro agrônomo, formado na ESALQ na turma de 1932, lecionando de 1933 a 1935”. Quanto à família Rosenthal, há a informação de que sr. Pedro era casado com sra. Ana Rosenthal, filhos sr. Elias, sra. Esther, sra. Rosa, sra. Paulina, sr. Jayme e sr. Mendel e profissão negociante. “Após trabalhar em Piracicaba como vendedor ambulante, estabeleceu-se com loja de móveis e roupas feitas à Rua Governador Pedro de Toledo...onde permaneceu até 1975. Esteve muito ligado à primeira sinagoga de Piracicaba, que funcionou até 1970, à rua Ipiranga...”. Há detalhes sobre sr. Elias Rosenthal, nascido em São Paulo, que era casado com sra. Anna, cirurgião-dentista, e sobre os filhos Julio, Sonia e Eliana. “Os Rosenthal mudaram-se para Piracicaba em 1940. Elias foi aluno do Grupo Escolar Barão do Rio Branco e diplomou-se pela Escola Normal Sud Mennucci nos cursos ginasial, científico e normal. Em 1956 formou-se pela Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo. Trabalhou inicialmente como cirurgião dentista na capital paulista...” Sr. Elias criou e organizou o Instituto Museu de Odontologia de São Paulo (Imosp). “Fez a restauração da história da Escola de Farmácia e Odontologia Washington Luiz de Piracicaba (1914-31), posteriormente Escola de Odontologia Prudente de Moraes (1931-35)”. Há uma rua Dr. Elias Rosenthal no Conjunto Habitacional Água Branca em Piracicaba. Quanto à família Werdeschein, sr. José, “é lembrado por Jaime Rosenthal em levantamento de famílias judaicas que se fixaram em Piracicaba desde a última década do século 19 (cita o Jornal de Piracicaba,1.8.1994). Werdeschein veio da Polônia com a esposa e quatro filhos. Fugiram da perseguição dos judeus na Europa pelo nazismo... A filha mais velha dos Werdeschein casou-se com Salomão Krasilchik. Dessa união nasceu a piracicabana Miriam Krasilchik, professora e cientista brilhante, diretora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e vice-reitora da universidade”. Em relação ao sr. Germano Svartsi, lê-se que foi proprietário de “loja de confecções finas à rua Governador Pedro de Toledo, em frente às Casas Pernambucanas”: a Casa Germano, gerenciada pela viúva após o falecimento do esposo. Nos anos 1940, três postos piracicabanos de combustíveis, os postos São José, São Paulo e Piracicabano, eram de propriedade de Mitelman, Svartsi, Petrocelli e Cia. Ltda. Quanto à família Becker, sr. David, comerciante, nascido na Bessarábia (atual Moldávia), era casado com sra. Sarah Becker, filhos Luiz, Salomão, Manoel, “fixou-se em Piracicaba em 1915, passando a integrar a comunidade judaica local, que teve início em 1890, com a família Cardonski ou Cardoso (cita Rosenthal, 1994). A fonte aqui referida acrescenta que, terminada a 1ª Guerra Mundial em 1918, os Becker e os Krasilchik trouxeram parentes que se estabeleceram igualmente em Piracicaba. A família Becker foi uma das fundadoras da sinagoga de Piracicaba, que funcionou de 1927 a 1970. David Becker foi proprietário da Casa Inglesa, à Rua Governador Pedro de Toledo, especializada em móveis de estilo, tapetes, colchões e fazendas (cita Neme, 1936). Manoel Becker formou-se em agronomia pela ESALQ em 1946”. Sobre a família Mitelman, sr. Marcos, “comerciante, casado com sra. Dora Mitelman, teve casa de móveis à Rua Prudente de Moraes. Achava-se registrado no comércio piracicabano desde 5.8.1940, sob nº 760, como sócio nº 90 do Sindicato do Comércio Varejista de Piracicaba (cita Guidotti, 2002)”. E sr. Nathan Mitelman, também comerciante e casado com sra. Domingas Mitelman, “sócio de Salomão Kramer, ambos donos da Casa New York, à rua Governador Pedro de Toledo. A loja tinha à venda móveis, fazendas, tapeçarias, congoleuns, roupas feitas etc. De acordo com o livro de registro de sócios do Sindicato do Comércio Varejista de Piracicaba, transcrito em Guidotti (2002), a firma registrou-se no comércio local em 1921... A mesma fonte reproduz um anúncio da Agência Chevrolet, de propriedade de Mitelman, Svartsi, Petrocelli & Cia. Ltda., à rua Prudente de Moraes, especializada em carros e caminhões da marca Chevrolet novos, veículos usados e peças e assessórios em geral. O anúncio ressaltava que vendiam automóveis a longo prazo, facilitando-se os negócios. Outro anúncio, reproduzido por Guidotti (op. cit.), refere-se a Mitelman e seus sócios como proprietários de três postos de abastecimento de combustíveis, os Postos São José, São Paulo e Piracicabano...” Sr. José Polacow, “membro de uma das famílias judaicas tradicionais de Piracicaba, dedicou-se ao comércio de “modas, confecções para senhoras e cavalheiros, na loja que fundou, a Casa Polacow, à rua Governador Pedro de Toledo. A filha, Anita Polacow, contraiu matrimônio com o radialista e comerciante Rubens de Oliveira Bisson e ambos passaram a administrar a Casa Polacow, permanecendo em atividade até por volta de 1992...” E Sr. Adolpho Polacow (Haim Palatnic), casado com sra. Sarah Polacow, filhos Bertha, Eva, Isabel, Israel, Izidoro, Jacob e Mírlia, era comerciante e filho de Luiz (Leib) e Anna Polacow e irmão de José Polacow. “Adolpho e José, segundo anúncio do Jornal de Piracicaba de 7.7.1915, foram proprietários da Casa Ingleza, à rua do Comércio nº 72, “baixos do sobrado” (rua Governador Pedro de Toledo). Ofereciam vendas em prestações semanais, mensais ou à vista, de mobílias, colchões, colchas, quadros, relógios, espelhos etc., capas de lã para senhoras, capas de borracha para homens, sobretudos de casemira, roupas brancas e casemiras estrangeiras e nacionais”. Posteriormente, Adolpho foi proprietário da Casa Liberdade, loja da primeira metade do século vinte, no local depois ocupado pelo banco Safra, na praça José Bonifácio. O filho Izidoro, jornalista, foi casado com sra. Mary Rocha Polacow...tiveram cinco filhos: Sônia Maria, Lúcia Helena, Rubens, Renato e Ivone. Izidoro foi um dos fundadores do Lions Clube de Piracicaba em 1955 e seu primeiro presidente, presidiu o Clube Coronel Barbosa, foi diretor superintendente da Usina Açucareira De Cillo em Santa Bárbara d’Oeste nos anos 1970 e fundador e primeiro presidente do Clube dos Bancários, que originou o Sindicato dos Bancários de Piracicaba. Sr. Jacob, formado em agronomia pela ESALQ em 1932, nascido na Romênia em 25.6.1913, desapareceu quando pilotava avião em 1968, tendo ganho renome na arte fotográfica como membro do Cine Foto Clube Bandeirante com sede na capital paulista. Foi casado com Menha Polacow. Outro Polacow, Marcos, formou-se pela ESALQ em 1946”. Em relação ao sr. Rubens de Oliveira Bisson, como citado acima, nasceu em Piracicaba, casado com sra. Anita Polacow Bisson, era comerciante e radialista... locutor esportivo e produtor de programas, “integrando o quadro de profissionais da rádio Difusora de Piracicaba em meados do século vinte...” Refere-se ao “Guia de Piracicaba” de Camargo e Navarro para 1958 (a verificar) que cita a  “Casa Polacow como uma das principais casas comerciais da cidade, no ramo de modas e confecções para senhoras e cavalheiros”.

Você fez ou faz parte da comunidade judaica de Piracicaba? Conheceu ou frequentou sua sinagoga, o “Círculo Israelita Piracicabano, CIP, fundado em 5 de junho de 1927, e que estava situado em uma casa térrea à Rua Ipiranga, edifício já demolido? Possui fotos desta sinagoga, documentos, memórias ou histórias a compartilhar? Escreva para myrirs@hotmail.com