Bar-Mitzvah sr. Bernardo Blumen Piracicaba |
Após a última postagem no Blog das Sinagogas em São Paulo, “A
comunidade judaica de Piracicaba”, sr. Bernardo Blumen registrou diversos comentários, tanto naquela
postagem, como no Facebook. Também pudemos conversar pelo Whatsapp, neste mês
de novembro de 2020. Agradeço muito a participação de sr. Bernardo Blumen, e
aqui compartilho suas histórias e fotos:
“Aqui é Bernardo Blumen. Recebi, pelo meu filho Jack, o link sobre o trabalho que você está fazendo sobre a coletividade judaica de Piracicaba. Mauro Krasilchic, que me passou seu contato, é meu primo de 2° grau. Fiquei escrevendo sobre a história da minha família e alguns complementos que ali não constavam. Minha família, Blumen, se estabeleceu em Piracicaba desde 1945. Eu ainda tenho em Piracicaba uma cunhada e duas sobrinhas de sobrenome Blumen. Morei em Piracicaba até o ano de 1961, ano em que vim morar em São Paulo.
Meus pais, sr.Leib (Leão) Blumen e sra. Helena(Enta) Eliukin, vieram, os dois, da Bessarábia. O meu pai veio de Britchive, hoje Moldávia, e minha mãe, de Sucaron. Meu irmão, Guilherme, nasceu em Olímpia, perto de Barretos, em 1939. Eu, nasci no Rio de Janeiro, Madureira, em 1942. Meus pais se conheceram em São Paulo.
Sr. Leib Blumen |
Quando eu tinha doze anos, minha mãe comprou uma charrete com uma égua a fim de facilitar a sua locomoção para as vendas de roupas e o recebimento das prestações. Nunca tiveram loja aberta, sempre a loja era dentro de casa em um local destinado exclusivamente para isso. A técnica era nunca deixar o "freguês" terminar de pagar a conta. Dois meses antes, já ofereciam outra mercadoria e eles compravam. Nos dias de pagamento das grandes empresas, lá estava ela para receber as prestações. Naquela época os empregados recebiam em dinheiro.
O meu pai era muito bom na aritmética. Num determinado momento ele falou que a receita não estava compatível com os recebimentos. Um dia, minha mãe tirou de um bufê que tinha na sala, o equivalente hoje a R$1000.000, entregou para o meu pai e disse, vai para São Paulo e compra outro apto.
Sra. Helena(Enta) Eliukin
E assim foi. Comprou um
apartamento na Rua Ribeiro de Lima onde eu morei quando me casei, de abril de
1969 até final de janeiro de 1972. No final de 1972, compramos o nosso apartamento
novo, decorado, na Alameda Franca, onde estamos até agora.
Aqui, criamos os dois filhos até cada um se casar. Assim como minha esposa os dois foram criados na CIP e na Chazit. Eu e a Lydia nos casamos na CIP, meus filhos fizeram Bar Mitzvah e se casaram na CIP. Nós éramos muito amigos do Rabino Sobel.
Eu cito no meu descritivo o avô materno da Frida Gasko, que foi o primeiro a dar crédito aos meus pais, a fim de que eles começassem o seu pequeno negócio de venda de roupas. O nome dele era Salomão Zalstein. A primeira vez que vim para São Paulo, ainda criança, foi ele que me trouxe numa viagem de trem de quatro horas...”
Questionei se sr. Bernardo possuía detalhes sobre a sinagoga, e se reconhecia as fotos da fachada, que enviei a ele. Sr. Bernardo comentou:
Sr. Iankel Blumen |
“Frequentávamos a sinagoga, porém por essas fotos não reconheço a fachada. E, lamento, mas não tenho nenhuma foto”. Porém, descreveu um pouco a Sinagoga: “Era uma casa térrea, na entrada tinha uns três degraus, logo à direita tinha uma "cerca", de madeira, e dentro ficavam as mulheres. Em frente, num outro espaço, ficavam os homens, e era onde ficava a Arca Sagrada com a Torah. Seguindo, em frente, havia um quarto vazio, cimentado, onde se acendiam grandes velas em Kol Nidrei. Sempre ficava um garoto não judeu tomando conta das velas. Mais em frente tinha um quintal e tinha um grande pé de amora e as crianças se deliciavam.
Na nossa casa, no dia anterior ao Kol Nidrei minha mãe comprava um galo, uma galinha e dois galinhos. No dia de Kol Nidrei, logo pela manhã, antes de irmos para a escola, era feito a Kapara.
Meu pai fazia as rezas e uma vez de cada um girava a ave em cima da cabeça. Quando cada um terminava, arrancávamos uma pena dela, e a jogávamos embaixo da mesa (elas estavam com os pés amarrados). A gente tinha galinha por um bom tempo, apesar de que os galos ter a carne mais dura.
Ainda na véspera ou no dia do Kol Nidrei, as crianças iam nas casas
dos outros judeus, e quando abriam a porta, geralmente eram as esposas, a gente
falava em Idish, "Ir guechimen beiitem leiquer mit bronfm”. Traduzindo,
caso você não tenha entendido: “Eu vim pedir bolo com pinga”. Apesar de fazerem
muitos anos, isso ainda está muito fresco na minha memória. Esse ritual foi
feito durante muitos anos, até ser trocado por donativo para alguma instituição
judaica.
Minha mãe jejuava em Yom Kipur, meu pai e nós não. Como já havia dito, na hora do almoço as crianças masculinas iam ao mercado Municipal comer pastel de carne e chupar tamarindo. A Lydia, minha esposa faz o jejum até hoje e não sente absolutamente nada. Sr. Benjamin Rosenthal, a esposa Frida, e os filhos Clara, Marcos, Horácio e Sueli, que moravam em Barretos, vinham para Piracicaba nas Grandes Festas, e juntavam-se à família que morava na cidade.
Meu irmão Guilherme fez Bar-Mitzvah em março de 1952. A cerimônia de Talit e Tefelin foi na Sinagoga da rua Ipiranga. Quem ensinou as Brachot foi um senhor que era irmão do avô do Mauro Krasilchik, e era ele que, também, fazia as rezas em Rosh Hashanah e Yom Kipur.
Sr. Leib Blumen
A festa foi na nossa
casa, no quintal, que era bem grande e toda a coletividade foi convidada. Quem
fez toda a comida foi a avó do Mauro que cozinhava muito bem
O meu Bar-Mitzvah foi em maio de 1955, também na Sinagoga, e a festa também foi na nossa casa, à noite, e toda a coletividade estava lá. Só que, dessa vez, meu pai trouxe uma cozinheira de São Paulo, que era especializada nesses eventos.
Outro detalhe é
que eu, meu irmão Guilherme, e o Jaime Rosenthal começamos a aprender a tocar
violino. Após alguns meses, somente eu continuei, fui à um conservatório que
havia em frente à minha casa, toquei em diversos recitais e em orquestra. Parei
de tocar aos dezoito anos quando já estava morando em São Paulo e fazendo cursinho
para o vestibular...”
Sr. Bernardo compartilhou diversas fotos, que aqui compartilho: “A foto do meu avô paterno; do meu pai Leib Blumen em 19....; do meu pai com os irmãos no Rio de Janeiro (da esquerda para a direita Nathan, o mais velho casado com Clara, uma filha, Lucia; Ida a segunda mais velha casada com Chai Parnes; filhos, Pesse, que vai fazer 97 anos em março; Daniel, já falecido e Chua também falecida; Moishe casado com Clara, os dois falecidos e que não tiveram filhos; meu pai; Molka casada com David Goldemberg; dois filhos, Sally, já falecida e Jacob, 84 anos; Meir casado com Joana, os dois já falecidos; duas filhas, Fany, já falecida e Freida, 70 anos). Outra foto, de minha mãe, Helena, já falecida e uma foto no meu casamento civil. Vemos mais uma foto onde, à esquerda, está meu irmão Guilherme, já falecido; à direita, eu; no centro, uma moça que trabalhava em casa em Piracicaba, éramos crianças. Foto do meu Bar-Mitzvah em Piracicaba. Segue uma foto comigo, minha mãe e meu irmão, no quintal da minha casa. Mais uma foto: as irmãs da minha mãe (da esquerda para a direita, minha mãe Enta ou Helena, Hasia, Lhuba, Rifca e Esther, faltaram dois irmãos, todos já falecidos). E uma foto da minha avó paterna; uma foto do meu pai, mais recente do que a primeira, já em Piracicaba.
Veja a foto onde apareço tocando violino, com doze anos, e a foto na Formatura do meu irmão Guilherme, Odonto. Por último, a foto de minha formatura, no Teatro Municipal de São Paulo (Mitsu, a segunda esposa do pai da Lydia, Abraham, pai da Lydia, Lydia, eu, minha mãe, meu pai e meu irmão)”.
Um detalhe interessante a ser lembrado, como contou sr. Bernardo: “Quando meu irmão Guilherme nasceu, meu pai foi registrá-lo. O cartorário perguntou: O filho é natural ou legítimo? Meu pai respondeu: Natural que é meu filho. Aí, a certidão de nascimento do meu irmão ficou registrado como filho natural, o que significava, naquela época, filho de pais não casados. Essa falha só foi arrumada, em Piracicaba quando meu irmão tinha dezoito anos.
Outra curiosidade:
durante o período em que fiz o ginásio no colégio Piracicabano, eu tinha
amizade com um jovem que também estudava no mesmo colégio, chamado Cesário de
Campos Perrari. O pai dele tinha uma empresa funerária, e muitas vezes nós dois
íamos para o colégio de carro funerário. Ele era muito meu amigo, e vivíamos
muito um na casa do outro. Eu suponho que ainda esteja vivo...”
Sr. Bernardo
completou algumas informações divulgadas anteriormente: “O Mauro Krasilchik não
comentou que tinha uma irmã, mais velha, cujo nome era Jane, casada com Igal, e
tiveram quatro filhos, sendo dois gêmeos. A Jane já é falecida há mais ou menos
oito anos. Mauro citou dois filhos da família Brick, do Marcelo. Até 1961, sei que os filhos de sr. Abraham e sra. Selka Brick não
moraram em Piracicaba, e não eram da cidade. Somente o sr. Abraham Brick
era da de Piracicaba, e se casou com a sra. Selka, que era farmacêutica. Aí eles
se mudaram para São Paulo, aqui tiveram os dois filhos, e aqui moraram. Sr. Abraham e sra. Selka, eu os encontrava nos finais de semana na
Hebraica. Ele, a gente chamava de Bumao, e o outro Abraham,
o Krasilchik, pai do Mauro e da Jane, já falecida, e casado com a minha prima
Bela, era o Buminha.e Sara. E Clara era a mãe do Abrão, e da Miriam
Brick. Com relação à Myriam Krasilchik, vivia para a mãe, e sempre foi uma
sumidade. Ela é prima de um rapaz aqui de São Paulo, chamado Luiz Werdeshein,
que fora casado com uma prima minha de nome Shirley, que faleceu precocemente
aos cinquenta anos de idade. O meu apelido, dado pelo meu irmão era Dutche,
pois na época da segunda guerra ele ouvia falar no Duce (Mussolini), e o
apelido do Mendel Rosenthal era Dodo. A senhora velhinha falecida, a que todos
nós a chamávamos de Babi, era a mãe do avô do Mauro Krasilchik, e mãe daquele
que fazia as rezas na Sinagoga... Todos os sábados e domingos à noite muitos se
reuniam da casa da Clara, ou do avô do Mauro... Os homens jogavam buraco e as
mulheres jogavam conversa fora tomando chá e comendo bolo...”
Formatura sr. Bernardo Blumen
Marcelo Brick comentou, a partir
do relato de Bernardo Blumen: “É isso, Bernardo, meu pai,
Abram Brick, o Buma ou Bumão, (o primo Buminha - o outro Abram, era o pai
do Mauro Krasilchik), nasceu em Piracicaba e
morou lá até terminar a faculdade, depois se mudou pra São Paulo, onde casou e
se estabeleceu. Minha tia Elisa, que já citei, era a irmã mais velha do meu pai,
e já morava no Rio desde que se casou. E minha tia Mirinha, que ainda morava
lá, acabou se casando com um carioca também, e se mudou para o Rio. Depois que
meu avô Germano Brick faleceu, no final dos anos 1960, minha vó foi morar no
Rio, próximo às duas filhas.
Eu era muito criança, nasci em 1960, então tenho lembranças não tão nítidas, não lembro da Sinagoga, mas sei que havia. Inclusive até onde eu sei, foi a sua prima Bela Z'l quem apresentou os meus pais. E sim, já em São Paulo, costumávamos ir à Hebraica aos domingos.
Formatura sr. Guilherme Blumen
Obrigado por compartilhar essas memórias e histórias! Indico
para procurar no Facebook, o Roberto
Weiser, acho que ele não está nesse grupo. Ele é nascido em Piracicaba, a família
da mãe é Rosenthal, já citada por você. Acho que ele deve ter informações e
fotos, já que ele é de lá e ainda tem família morando em Piracicaba (ele mora
em São Paulo há muito tempo já)...”
Mauro Krasilchik também escreveu: “Primo Bernardo Blumen, realmente tudo o que escreveu aqui colaborou também para que pudéssemos lembrar da coletividade judaica em Piracicaba. Tenho certeza também que tudo o que falou do Bumão e da Selka Brick, pais do Marcelo Brick, da Corinne Brick Marian e da Estela Brick, a nossa Estelinha, está correto, acho que não moraram em Piracicaba e sim os avôs maternos e paternos, tios e primos.
Os meus pais, Abram Krasilchik, que era conhecido como Buminha, e a minha mãe, Bella Medvedi Krasilchik, também não moravam em Piracicaba, mas se conheceram e casaram na casa dos meus primos Bernardo e Guilherme Blumen, e de seus pais, que eram meus tios Leibale e Yente Blumen.
Muitas saudades e muitas estórias de tudo isso que passamos em
Piracicaba. Agradeço a todos pela colaboração...”
Sr. Bernardo completou: “Espero ter
cooperado para a história que a Myriam está escrevendo, sobre a coletividade
judaica de Piracicaba. Fiquei também muito feliz de ter podido
cooperar, resgatando as memórias de nossa comunidade judaica de Piracicaba, da
qual tenho muito orgulho de ter pertencido...”
Neste
post compartilho as fotos encaminhadas por Bernardo Blumen, com sua
autorização.
Você fez ou faz parte da comunidade judaica de Piracicaba? Conheceu ou frequentou sua sinagoga, o “Círculo Israelita Piracicabano, CIP, fundado em 5 de junho de 1927, e que estava situado em uma casa térrea à Rua Ipiranga, edifício já demolido? Possui fotos desta sinagoga, documentos, memórias ou histórias a compartilhar? Escreva para myrirs@hotmail.com
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