segunda-feira, 1 de junho de 2020

Familiares da comunidade judaica de Marília

Foto de grande parte do "ishuv" de Marília
Foto sr. Jayme Kopelman

Agradeço a participação de todos da comunidade judaica que têm compartilhado as suas histórias e a de suas famílias, que se estabeleceram, em algum momento, na cidade de São Paulo e no interior paulista. 

A todos que vêm relatando histórias de vida e memórias, resgatando suas raízes, e também suas lembranças, ao contarem um pouco dos detalhes de como foi possível se manterem unidos como comunidade, fundando também as suas sinagogas nos diversos pontos do Estado de São Paulo. 

Agradeço também a disponibilidade de indicarem outras pessoas que, talvez, possam participar destes relatos.

Foto de grande parte do "ishuv" de Marília.
Os nomes referentes à numeração constam do texto
Foto: sr. Jayme Kopelman
Na última semana de maio de 2020 conversei com sra. Rachel Gildin, após minha participação em um bate-papo com as senhoras da Unibes. E, também, com sr. Jayme Kopelman e sr. Samuel Knobel, por indicação da sra. Lia Waisberg.

Sra. Rachel Gildin é neta (por parte de mãe) do sr. Ruwin Ber Singal, o Rebe de Marília, que era shochet na cidade, realizava os Bar-Mitzvot dos meninos e conduzia as rezas. Sr. Ruwin veio de Kovel, cidade atualmente situada na Ucrania, e chegou ao Brasil em 1939 com uma “Carta de Chamada”. Com ele vieram as filhas Tonia(mãe de sra. Rachel), Rivke e Leia, e os filhos Saul e Isaac. Os filhos do sr. Ruwin, sr. Nehemias, o caçula, e sr. Oscar, o mais velho, já moravam no país. Sra. Rachel lembra-se da primeira casa onde os avós, a babe Sure, com quem aprendeu idish, e o avô sr. Ruwin, moravam. 

Bar_Mitzvah do sr. Jayme Kopelman, em Marília - 1953
Ao lado do sr. Jayme está sua mãe, sra. Ana Wajner Kopelman,
O Rebe Singal ao lado esquerdo
Atrás, a matriarca sra. Berta, esposa do sr. Cesar Zaterka
À direita o filho do Rebe Singal
Foto: sr. Jayme Kopelman
Esta residência também era o local do Shil, uma “imensa casa de madeira”, que posteriormente foi demolida. Situava-se na Rua Carlos Gomes. Nos anos 1951 adquiriram um novo espaço, uma casa de tijolos. O correio da cidade funcionava no pavimento térreo e o Shil passou a funcionar no primeiro piso. Naquele espaço havia o Aron Hakodesh e uma Torah. Ali comemorava-se os Chaguim, festas judaicas, como o Pessach e Simchat Torah, Rosh Hashana e Yom Kipur. 

A comunidade judaica da cidade comemorou o dia da Independência de Israel, em 1948, fizeram festa no Shil, aprenderam a cantar Hatikva, o Hino de Israel, com sra. Rosa Hochman, que mantinha ligação com a Wizo e com Israel. O pai de sra. Rachel, sr. Abraham Lichtig, era de Pompéia, local próximo de Marília. 

Os moradores de Pompéia vinham a Marília para rezar. Sr. Ruwin morreu de enfarte em 1954 e a família mudou-se para a capital em 1957. Os pais passaram a rezar, nas Grandes Festas, no Instituto Luso-Brasileiro, na Rua da Graça. Os tios, sr. Nehemias, se casou com sra. Clara Shuster, e o sr. Saul, casou-se com sra. Helena Igel, filha de sr. Zacarias. 

Sra. Musse Adelsohn, sra. Ana Wajner Kopelman
e sra. Rosa Rabinovitch
Foto: sr. jayme Kopelman
Os tios passaram a fazer parte da Sinagoga de São Miguel Paulista. Segundo sra. Rachel, sr. Nehemias levou a Torah de Marília para esta sinagoga. Aguardem mais detalhes destes relatos, que serão encaminhados pela sra. Rachel por e-mail.

Sr. Jayme Kopelman nasceu em Marília, e os pais eram de origem polonesa. O pai chegou ao Brasil em 1932, também com uma “carta de Chamada”, indo direto para Marília, onde tinha amigos. Conseguiu comprar uma passagem de navio, “à prestação”, para a então namorada, que viria a ser a mãe do sr. Jayme, e que aqui chegou em 1933. Casaram-se em Campinas, cidade em que nasceu o irmão mais velho do sr. Jayme. O casal, em seu início de vida de casados, alugou um quarto em uma casa de pessoas que não eram da comunidade. O pai trabalhava com klientelchik, vendendo tecidos e objetos nas fazendas da região, no início dos anos 1940. Era uma época em que a maioria da comunidade judaica não tinha recursos financeiros, a cidade de Marília era uma cidade pobre, não tinha estrutura, nem calçamento. A comunidade mantinha a vida judaica, todos eram educados em ambiente judaico não religioso. 

Bar-Mitzvah do sr. Rubens Zaterka,
filho da sra. Berta e sr. Cesar Zaterka.
Sra. Berta é irmã de sr. Boris Fridman
Foto: sr. Jayme Kopelman
Os pais de sr. Jayme falavam idish, e assim também aprendeu a língua. Nas Grandes Festas as famílias de Garça, Vera Cruz e Lins vinham para Marília, ali se reuniam. Havia o Rebe que conduzia as rezas e foi o professor de Bar-Mitzvah de sr. Jayme. 

A festa do Bar-Mitzvah foi em um terreno, em que se levantou uma lona, o discurso foi feito em idish, as mulheres se reuniram para preparar a festa e cozinhar. Como comentou sr. Jayme, a mãe era muito sociável. Também enfatizou que o importante, naquela época era “se formar”, médico, engenheiro ou advogado ... Na época de o irmão mais velho ir para a faculdade, o pai alugou um quarto em uma pensão em São Paulo. O irmão cursou medicina na Escola Paulista de Medicina, em São Paulo, sr. Jayme, cursou o ITA. O irmão mais novo também cursou medicina, em Sorocaba, casou-se e fez Aliah

Sr. Jayme chegou a São Paulo com 13 anos, quando a família decidiu mudar-se para a capital e aqui, frequentaram o Groisse Shill. A comunidade judaica de Marília foi praticamente extinta...

Sr. Jayme encaminhou as fotos que aqui compartilho, fotos de grande parte do Ishuv de Marília, do Bar-Mitzvah do sr. Jayme, em 1953, da mãe acompanhada de 2 senhoras, do Bar-Mitzvah do sr. Rubens Zaterka, filho de sra. Berta e sr. Cesar Zaterka, pais da sra. Lia Waisberg. Na foto numerada, de 1949/1950, e em que vemos grande parte do Ishuv, temos: 1. O Rebe, 2. Josef Kopelman Z’L (pai do sr. Jayme), 3. Cesar Zaterka, 4. Miriam Rabinovitch, sentada no colo do pai 5. David Rabinovitch, 6. Benjamin Knobel, 7. Rosa Knobel, no colo do seu pai(6). 8. Samuel “Mitcho” Knobel, ao lado da irmã(7),  9. Boris Friedman, 10. Menache Adelsohn, 11. Musse, esposa do Menache(10), 12. Rosa Rabinovitch, esposa do David(5), 13. Maia Fridman, esposa do Boris(9), 14. Clara Klepatz, ao lado Ricardo Klepatz(15), seu marido, 15. Ricardo Klepatz, 16. Moises Oksman, 17. Abram Knobel, irmão do Benjamin(6), 18. Jacob Kaplan.

Foto da casa de sra. Berta e sr. Cesar Zaterka
no Bar-Mitzvah do sr. Rubens Zaterka.
Na foto estão presentes a comunidade judaica de Marília
e parentes da família
Foto: sr. Jayme Kopelman e sra. Lia Waisberg
Na última foto deste post, compartilhada tanto pela sra. Lia Waisberg, como pelo sr. Jayme Kopelman, vemos a casa do sr. Cesar e sra. Berta Zaterka, pais da sra. Lia, em Marília, na qual a sra. Lia morou quando criança. Como comentou a sra. Lia, é a foto no quintal da casa, no Bar-Mitzvah do irmão, sr. Rubens. Na foto está presente somente a comunidade judaica de Marília e familiares da sra. Lia. Vemos o rebe Singal e, à frente deste, o sr. Cesar.

A família do dr. Samuel Knobel também é originária de uma região que, à época em que chegaram ao Brasil, pertencia à Polônia, e que hoje em dia faz parte da Ucrânia. A situação no país de origem era difícil para a comunidade judaica, não havendo liberdade para esta. O pai, sr. Benjamin (Bencjon), veio de um vilarejo de nome Mel’nytsya, e chegou ao Brasil em 1934. A mãe, sra. Chana, veio de Kovel e chegou ao Brasil em 1934. Residiu inicialmente em Santos e posteriormente em Marília., onde “já tinha” familiares. Em 1937 casaram-se. O pai trabalhou com klientelchik, comprava tecidos em São Paulo para revendê-los em cidades pequenas e vilas da região de Marília. Foi um dos primeiros a vender “fiado”. Com o tempo, foi crescendo, tendo sucesso, e adquiriu uma loja de tecidos e armarinhos. Em 1945/1947 compraram uma pequena propriedade rural, e aos poucos foram adquirindo outras, vizinhas, formando, então uma fazenda, que permanece até os dias de hoje. Cultivaram café até pouco tempo atrás. Na década de 1940, a comunidade judaica da cidade era composta por aproximadamente 40 a 50 famílias. 

O Rebe era shochet, ensinava hebraico e idish, a aprender a rezar, preservando a tradição judaica, e era muito respeitado pela comunidade. Dr. Samuel fez seu Bar-Mitzvah em Marília. A cerimônia religiosa foi na casa do rebe, e a festa em um salão da cidade. A comunidade judaica relacionava-se bem com os moradores da cidade como um todo, as crianças cursavam o primário e ginásio nas escolas de Marília, porém não se integravam. As famílias judias das cidades vizinhas, tanto de Graça, distante 30 km, como Gália, a 10 km, Vera Cruz e Pompéia, vinham para Marília nas Grandes Festas. Na década de 1950 a maior parte da comunidade judaica da cidade mudou-se para a capital. Assim, em 1956, a família de dr. Samuel Knobel veio para São Paulo, tanto para o dr. Samuel e a irmã continuarem os estudos, como na busca da continuidade de um ambiente judaico. Dr. Samuel cursou medicina e a irmã formou-se técnica em contabilidade. Frequentaram o Groisse Shil, no Bom Retiro. Dr. Samuel contou que o pai, sr. Benjamin tinha 2 irmãos, sr. Abram Knobel, pai do sr. David e do dr. Elias, e sr. Szulim, pai do dr. Meyer. Enfatizou o valor de seus pais e familiares, lutadores e desbravadores, corajosos de imigrarem para um país em que não conheciam nem a língua, nem a cultura...

As fotos aqui compartilhadas pertencem ao sr. Jayme Kopelman. Para compartilhá-las, entrar em contato com sr. Jayme.

Solicito que, caso haja incorreções no texto, avisem-me por e-mail.

Você e seus familiares também chegaram à cidade de São Paulo ou interior paulista, fizeram parte da comunidade judaica destes locais, participaram das sinagogas? Compartilhe aqui e entre em contato comigo pelo e-mail myrirs@hotmail.com


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