No
encontro de domingo, dia 18/03/2018, na Sinagoga Israelita Paulista
participamos de uma roda de conversa.
Alan
Kovari, filho do sr. Tomaz (presidente desta sinagoga), iniciou o encontro informando aos presentes que "esta sinagoga funciona todo Rosh Hashaná e Yom Kipur, e uma vez ao mês, no último
Shabat do mês, acontece um Cabalat Shabat e Shacharit Shabat, com kidush e
almoço". Alan contou que o sr. Tomaz, imigrante da Hungria, quando assumiu a presidência,
comprometeu-se em mantê-la funcionando, como uma missão de vida, mesmo que
fosse difícil manter os frequentadores, colaboradores e conseguir um “minian”. Quando
o sr. Tomaz chegou com a família ao Brasil, um pouco antes da década de 1960,
estava com 5 anos. A sinagoga foi muito acolhedora para a família, o pai de sr. Tomaz, sr.
Arpat, podia sentia-se bem, por poder se encontrar com os imigrantes húngaros. Na presidência, o pai de Alan providenciou a tradução da Atas da sinagoga para o português, realizada por sr.
Gabór Aranyi e digitalizou-as, inclusive, como forma de perpetuá-las e
preservá-las. Até 1965 tais Atas eram escritas em húngaro. Sr. Tomaz possui também as plantas.
Comentei com todos participantes do encontro que Roberto Strauss, também
presente neste encontro, havia me enviado o desenho do Aron Hakodesh, doado pelo tio-avô, Paulo
Strausz.
Roberta
Sundfeld, historiadora, apresentou-se e contou que teve a oportunidade de entrevistar, na década
de 1980, o sr. Luiz Nebel, um dos presidentes e fundadores desta sinagoga. Sr.
Luiz havia informado, e apresentado documentos, comprovando que esta sinagoga foi
fundada em 1924, por judeus húngaros. Roberta lembrou que sempre se considera o BethEl como a
primeira sinagoga dos bairros fora do Bom Retiro, porém comentou que tal
informação não procede, pois o BethEl é de 1928/29. Assim, Roberta sugere, deveria
haver um estudo para saber quem são os húngaros que chegaram na década de 1920
e instituíram tal sinagoga fora do Brás/Bom Retiro. Neste sentido, eu comentei detalhes já estudados, pesquisados e divulgados aqui neste Blog, e no Facebook,
quanto às questões apresentadas, como locais aonde situaram-se e quanto aos três períodos da imigração desta comunidade.
Apresentei, a todos que vieram nesta visita, detalhes de minha pesquisa sobre "As Sinagogas em São Paulo". Rachel
Mizrahi enfatizou que através da história e origem das sinagogas é possível resgatar
o histórico dos fundadores.
Sra.
Suzana Yara Guttman falou que duas épocas foram marcantes: “uma antes da Revolução,
antes de 1957, na sinagoga da Rua General Osório, que remete à minha infância. Minha
irmã, Marion, sete anos mais nova, começou a frequentar a sinagoga na Rua
Augusta. Marcante, assim, foi a Segunda Guerra, aonde grande parte conseguiu
chegar antes desta, e também a Revolução Húngara, quando vieram muitos húngaros”.
Muitas atividades e eventos foram feitos, audições, cantores. Sra. Sara
acompanhou ao piano o Chazan na realização do primeiro casamento realizado
nesta sinagoga. Acabou casando com o filho do sr. Guttman, da CIP. Havia uma
associação de mulheres que organizou a remessa de ajuda para a comunidade na
Hungria. A mãe da sra. Suzana e Marion possuía uma empresa de moda, famosa,
chamada Madame Boriska. O pai, sr. Julio Perl, foi um dos três Chazanim que
cantava nos Shabatot e Grandes Festas, juntamente com sr. Emerich Neufeld e sr.
Luiz Nebel. Serviços emocionantes e muito bonitos, como comenta sra. Suzana.
Isto até falecerem. Todos lembraram que o Aron Hakodesh situava-se ao fundo do
salão, sobre um palco/tablado elevado, que hoje não existe mais... Muitos
casamentos ocorreram entre os frequentadores. Sra. Suzana sugeriu entrar em
contato comTomaz Venetianer.
Roberto
Strauss, arquiteto formado pela FAU em 1980, e húngaro desde 2013, frequentou a
sinagoga em sua infância, na década de 1960, acompanhando o pai nas Grandes
Festas. "A sinagoga ficava lotada, com pessoas inclusive do lado de fora. A
grande maioria participava da sinagoga somente nestas ocasiões, falava-se muito,
e o rabino a todo momento pedia silencio". Os quatro avós de Roberto vieram da
Hungria. A família veio de Schopron, e Budapeste. O avô Reizfeld era médico da “colônia
inteira”, porém não frequentou a sinagoga. Quando os avós e tios- avós eram
vivos, na época da infância de Roberto, este não teve curiosidade em saber o
motivo da vinda dos avós ao Brasil. Apesar do antissemitismo na Hungria, acredita que o
motivo foi a busca de trabalho. Roberto estuda húngaro na USP.
Roberta
informou que o Consulado Húngaro ofereceu ao Museu Judaico a oportunidade para organizar uma
exposição sobre as Sinagogas Húngaras e do Leste Europeu, que será realizada na
Universidade Mackenzie: a recuperação das sinagogas, a maioria na Hungria, mas
também na República Tcheca e Polônia, a ser iniciada em 14 de maio. O governo
húngaro tem um programa de preservação de sinagogas, transformando-os em museus,
salas de concerto, bibliotecas e outros usos...
Andre
Molnar não se lembra da Sinagoga da Rua General Osório, porém lembra-se de
frequentar a Sinagoga da Rua Augusta. Chegou ao Brasil, aos cinco ou seis anos,
com os pais, vindo da Hungria, não recebeu educação religiosa, mas fez Bar-Mitzvah
nesta sinagoga, tendo tido aulas e aprendeu hebraico com Rabino Jolesz. O Bar
Mitzva contou com muitos presentes...e Andre recorda-se que não conseguiu
terminar o discurso... Frequentou esta sinagoga até 1975, quando casou-se com
uma moça mais ortodoxa, passando a frequentar a sinagoga dos húngaros mais
ortodoxos, nos Jardins: a “dos Citrons”, e o Beith Chinuch. Adré comenta: "Mas
esta sinagoga da Rua Augusta foi muito marcante, e sinto que é uma pena que não
mais exista a participação, com mais frequência, da comunidade húngara, nesta sinagoga". Entende que é obvio que muitas
coisas mudaram de lá para cá, mas percebe que pode ter havido falha da
juventude. "Nas Grandes Festas todos vinham, mas ficavam de fora, em uma salinha,
sentados às mesas, e dando voltas no quarteirão aguardando o final das rezas".
Andre acredita que talvez haja uma volta, e depende de cada um presente neste
encontro, depende de se organizarem, "pois cada um tem uma história...sr. Nebel, sr.
Paulo Strausz, Neufeld, muitos outros. E há os que hoje em dia não querem nem se
apresentar como judeus, que não viriam à sinagoga". Andre comenta que não era
religioso, acompanhava o pai sr. Laszlo e sra. Ana Molnar, moravam perto, eram
participantes, havia bailes. Os pais passaram a II Guerra escondendo-se na
Hungria, em porões, e por parte de mãe e pai perdeu-se famílias, porém hoje
voltou à religião, frequenta o Chabad, e mudou muito em relação ao que recebeu,
de judaísmo... Uma sinagoga na Caio Prado, conduzida pelo Rabino Friedlander,
foi aberta, e alguns frequentadores seguiram-no. O Rabino Jolesz após atuar
nesta sinagoga, retornou a Israel.
Sr.
Tomás Hajnal lembra bem da sinagoga, já está com mais de 80 anos, conta que
sentava-se perto da grade para poder conversar com a mãe. O pai fez muitos
shows de “conversas de surdos”, conversa entre dois amigos, onde um entendia
errado o que o outro falava, muito cômico. Na época separava-se homens e mulheres, as
rezas eram em hebraico, os discursos em húngaro. O pai de sr. Tomás chamava-se
Paulo e a mãe Margarida.
Andre
lembra que em 1916, na Hungria houve uma lei em que o cidadão húngaro que tivesse
qualquer sobrenome, não obrigatoriamente judaico, podia mudar para húngaro. O
sobrenome de Andre é Molnar. Molnar é um sobrenome muito comum, e os avós optaram
por este sobrenome. Era Maguenheim e mudaram para Monar. Isto dava uma certa
tranquilidade, em termos. A Hungria foi um dos últimos países a entrar na II
Guerra. Os avós foram mortos, juntamente com outras 36 pessoas, dois dias antes
de a Guerra acabar. Dois tios, irmãos do pai, moraram na Italia. Um deles era
professor de esgrima, o outro trabalhava com tecido. E conseguiram sair. E cita
o livro Os Judeus do Vaticano. Saíram no ultimo navio, em 1939, da Italia.
O
sobrenome de família do sr. Tomás era Leipnicker. Sr. Tomás conta que da
Hungria, 700mil judeus foram mortos em Auschwitz. Uma lembrança tão marcante
que as mães que aqui chegaram não quiseram ter mais filhos. Recorda-se do pai
chorando ao saber do destino de todos em Auschwitz. Os pais de sr. Tomaz também
saíram no ultimo navio que Mussolini liberou, em 1939.
Ingrid
Birta, cujo contato foi indicado por Inês Fenyves Sadalla, e que mora em
Ubatuba (frequentam a Cojuba), conseguiu comparecer à visita juntamente com o
filho Léo. Os avós Florea Farkas e Francisco Birta vieram da Romenia (porém de uma
região originalmente da Hungria). Por tudo o que passaram, o trauma foi muito
grande e acabaram não transmitindo as tradições judaicas, porém Ingrid e
família resgatam neste momento o judaísmo, estudando e frequentando sinagoga.
Deste
bate-papo, seguido de visita à sinagoga e um Lechaim, participaram Alan Kovari,
Rabino Ivo Kauffman, Gabriela Rottgen, Rachel Mizrahi, Ingrid e Leo Birta,
Anderson Rubin, Roberta Sundfeld, Roberto Strauss, Andre Molnar, Suzana Yara
Guttman, Marion Kastscher, Tomás Hajnal, David Carlessi e eu, Myriam Szwarcbart.
Agradeço
a todos os presentes e aguardem a próxima postagem com comentários, entre outros, de Paulo Valadares sobre a Chevra Kadisha Húngara.
Em breve, um próximo encontro