quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Sr. Moises Goldflus e o Brás

Sr. Moises Goldflus, os pais e o irmão
Nesta segunda-feira, 26/12/2016, por indicação do Heitor Goldflus, pudemos, David e eu, conversar com o sr. Moises e a sra. Dora, pais do Heitor. Em uma tarde agradável, sr. Moises contou-nos que nasceu e cresceu no bairro do Brás, mais exatamente na Rua Coimbra. O pai trabalhava como Klienteltchik, principalmente na Vila Maria Alta: comprava a mercadoria, cobertores, no Bom Retiro e, com sua charrete, vendia os produtos de casa em casa. Ajudou, inclusive a trazer familiares da Europa, que também trabalharam como Klienteltchik. A língua “oficial”  na família era o idisch. 

Os pais de sr. Moises Goldflus
Sr. Moises estudou o curso primário na Escola Luiz Fleitlich, frequentada pela comunidade judaica da região, tanto dos ashkenazim vindos da Europa, como da comunidade judaica proveniente da Síria, comunidades que interagiam e estudavam na mesma classe. Lembrou inclusive das famílias Mizrahi e Amar. Algumas famílias morando na Moóca, na Rua Mem de Sá, alguns no final da Rua Bresser. Já o curso ginasial, Sr. Moises fez no Caetano de Campos e o cientifico, no Roosevelt. Depois disto trabalhou com um tio que já morava no Bom Retiro. Após um tempo, montou o próprio escritório. 

Fez o Bar-Mitzva na Sinagoga do Brás, em uma cerimonia simples, “muito pobre”, como diz, contou que o pai não possuía condições...a mãe era muito doente, eram humildes, mas muito decentes sempre. 

Familia de sra. Dora,
(esposa de Sr. Moises)
Comentou que a comunidade do bairro era grande, inclusive o salão de reuniões e baile era na própria sinagoga, mas não era “tão frequentado”, a maioria dos jovens ia para no Bom Retiro: “Pegava o bonde, fazia os passeios e namorava...sempre no Bom Retiro, a maior comunidade estava lá”. A comunidade do Brás não era muito religiosa. Como sr. Moises fala, “faziam as lições de casa como religião”. Inclusive o pai, frequentava a sinagoga do Brás, ficava com as chaves, cuidando da sinagoga. Depois o pai foi morar no Bom Retiro, uma irmã da mãe do sr. Moises morava no bairro..

Lembrou que a família Liberman que também cuidou do Shil. Havia o comércio das famílias que vieram da Europa, porém os filhos, através do estudo, seguiram caminhos diferentes. 

“A sinagoga, com o tempo,  foi decaindo. Talvez ainda haja famílias judias no bairro, não sabe...” Quando casou (está casado há 53 anos), já havia saído do Brás, assim como o irmão...já moravam no Bom Retiro.

O pai, em Yom Kipur e Rosh Hashana, ficava na Sinagoga do Brás, mas o sr. Moises e seus amigos não se interessavam muito, preferiam ficar na rua, conversando... 

A sinagoga não possuía lugar marcado, nem se pagava para frequentar. Afirma que, pelo que sabe, quem construiu a sinagoga foi o sr. Luiz Fleitlich, o mesmo que construiu a escola, mais ou menos na mesma época. A sinagoga, em si, funcionava na parte superior de um edifício, com acesso por escadas laterais, e um salão de festas ocupava a área inferior deste, semelhante à Sinagoga do Cambuci.

Frequentou o Hashomer Hatzair, no Bom Retiro, e o Avanhandava...foi escoteiro, lobinho, as reuniões eram em sua casa, na Rua Coimbra. "Era uma alegria”, afirma. Jovens do Belém, Moóca, Brás, Penha. “Sr. SilvioTarnovscki era da Penha”. Lembrou também de sr. Adolfo Rosenberg. Na época em que o sr. Moises morou no Brás, muitas famílias já tinham se estabelecido no bairro, abrindo lojas, inclusive na Av. Celso Garcia, vendendo bolsas, malas, roupas, moda para mulheres.

Em nossa conversa, comentou que não sabe se ainda há famílias judias no Brás. Ficou surpreso quando contei que ainda são feitas as rezas de Shabat na Sinagoga do Brás, organizadas pelo Sr. Simão Priszculnik.

Não guardou fotos da sinagoga, porem disponibilizou algumas fotos, aqui publicadas... Sr. Moises lembra que foi “um tempo bom a época em que morou no Brás, uma época que não volta mais, mas que fica na memória...” E a memória de sr. Moises é surpreendente!

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