sexta-feira, 1 de maio de 2020

Mais detalhes sobre a sinagoga e a comunidade judaica de Sorocaba


Maguen David
detalhe da fachada da Sinagoga de Sorocaba
Conversei no final de abril de 2020 com Noely Zuleika de Oliveira Raphanelli sobre sua Tese de Mestrado “Judeus de Sorocaba, um resgate histórico” elaborada sob a orientação da Dra. Anita Waingort Novinsky, (FFLCH -USP-1998). Noely, moradora de Sorocaba, comentou que visitou a sinagoga da cidade em 1994 e, naquela ocasião, o edifício já se encontrava mal-conservado, em ruínas, com recintos e móveis sujos e empoeirados. Apesar de, naquela época, ter sido feita uma pequena reforma, simples, no local, não foi possível mantê-lo em condições de uso. Em relação à comunidade judaica da cidade, contou que a família Steinberg faz parte da história desta. Citou, além do sr. Schael Steinberg, os filhos, Edson e Jefferson, a sra. Marcia Aizember, prima de sr. Schael, e também Miriam Openheim e irmãs, família Goldman e Anita Crochik. Assim que possível Noely irá me apresentar o seu Mestrado relativo à Sorocaba.

Pude conversar também com Isaac Pinski, que me contou um pouco sobre sobre a história de sua família em Sorocaba, sobre a comunidade judaica da cidade e sobre a sinagoga local. A família de Abram Pinski, seu pai, originária da Polônia e de sua mãe, Luiza Kann, originária da Lituânia, ao chegarem ao Brasil, rumaram para as “Colônias de Quatro Irmãos”. Ao se casarem, em fevereiro de 1937, mudaram-se para Sorocaba, onde o pai de Isaac passou a trabalhar com klientelchik, sendo uma das primeiras famílias da comunidade a se estabelecerem na cidade. Isaac, e seus três irmãos, Cecilia, Jaime e Moisés nasceram em Sorocaba, e moraram à Rua Ermelino Matarazzo, “logo depois da linha de trem da EFSorocabana”. No local, o pai de Isaac construiu uma loja, que ocupava o piso térreo, e a casa em que moraram, no piso superior. Os filhos do sr. Abram, desde pequenos, ajudaram no trabalho da loja. Naquela época, a família Pinski era uma das poucas da comunidade judaica da cidade que não moravam no centro. Além deles, moravam, no “além-linha” da Sorocabana, as famílias Gordon (Sr. Ramiro e sra. Clara), no bairro de Santana e a família Lederman (que chegara da Argentina), no bairro Santa Rosalia. O irmão de sra. Luiza Pinski(mãe de Isaac), sr. Abrão Kann e a esposa, sra. Marta, como já publicado em postagem anterior, chegaram a Sorocaba posteriormente, morando por um período na casa dos pais de Isaac.

Foto famílias Pinski e Kann
identificação das pessoas feita por Isaac Pinski
Questionei Isaac sobre suas lembranças sobre a sinagoga, que contou sobre a configuração desta. O edifício ocupava um terreno de aproximadamente 10 metros de frente por mais ou menos 30 metros de profundidade. O acesso dava-se por uma porta centralizada, através de uma escada, com seis degraus. Logo na entrada, do lado direito, havia uma salinha, a secretaria, onde as crianças brincavam e comiam salgadinhos e doces. Uma outra salinha, do lado esquerdo, era ocupada por uma pequena sinagoga, com o Aron Hakodesh, o Sefer Torah, e os livros de rezas. Estes dois recintos possuíam 5 metros de profundidade. Ao fundo do edifício havia o salão, com aproximadamente 8 metros de largura e 25 metros de extensão. Um corredor/quintal do lado direito ocupava a lateral do salão. Neste salão ocorriam não só as festas e eventos, mas também as comemorações de Rosh Hashana, Yom Kipur (quando, como espaço de sinagoga, separavam os homens e as mulheres) e Simcha Torah. Ao final do salão, à esquerda, havia um depósito/despensa; à direita uma escada conduzia a um palco (piso elevado) e a outro depósito/cozinha, em um piso inferior. Ali, no salão do “shull”, as crianças e jovens aproveitavam para brincar e jogar pingue-pongue, para ter aulas de hebraico e para realizar as atividades do grupo JuJus (Juventude Judaica de Sorocaba), criado por Isaac Pinski, Eliezer Kann, Marcos Kaplan, Jaime e Adolfo Mittelman(gêmeos) e Dora Openheim. A geração mais nova também participou do grupo, assim como as crianças, tornado-se o JuJuS um movimento infanto-juvenil. Em uma época sem televisão, lazer significava princupalmente jogar pingue-pongue, bolinha de gude, pião, futebol, e ler muito.  Os sedarim de Pessach geralmente ocorriam nas casas das famílias...a casa da família Pinski, chegava a reunir por volta de 30 pessoas.

A comunidade judaica de Sorocaba era fechada e ao mesmo tempo, solidária, tendo a percepção de que cada um era responsável pelo outro perante a população como um todo. Zelavam pela postura e comportamento de cada um, não se falava palavrão, não jogavam jogos de azar, não bebiam...

Assim como Isaac e seus irmãos, as crianças e jovens estudaram em escolas públicas da cidade, desde o Grupo Escolar até o Científico/Clássico, sendo dispensados, porém, das aulas de religião. Isaac contou que sua irmã Cecília fez Aliah em 1959, e continua morando no Kibutz Mishmar Haneguev em Israel. Seu irmão Jaime cursou História na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba e, em 1966, já casado com Mirna, foi morar em Assis, onde lecionou História na Faculdade da cidade. Moisés veio para São Paulo em 1965, onde fez cursinho pré-vestibular, e cursou a FGV. Isaac, também em 1965, veio para São Paulo fazer cursinho e, em 1966, entrou no ITA, em São José dos Campos. Durante o período da faculdade costumava retornar a Sorocaba inclusive nas Grandes Festas. Em outubro de 1970 o pai faleceu, porém a mãe permaneceu em Sorocaba, mudando-se posteriormente para o bairro do Bom Retiro, em São Paulo, onde Isaac passou a morar após sua formatura, em dezembro de 1970... Isaac identificou cada um na foto enviada por Levi Kann, e que aqui compartilho novamente. Hoje em dia, o casal Isaac e Donatila, mora em São José dos Campos...

Novas histórias continuarão sendo relatadas neste blog...acompanhem, participem...
E, assim, pergunto novamente: sua família fez parte de alguma comunidade judaica do interior paulista ou da cidade de São Paulo?  Gostariam de compartilhar alguma história, memórias, fotos, documentos? Entrem em contato comigo pelo e-mail myrirs@hotmail.com

Um comentário:

  1. Adorei o relato, a sinagoga fez parte da minha infância e consigo lembrar com clareza seus espaços! Era uma delícia chegar para as festas e encontrar os amigos inclusive aqueles que vinham de outras cidades como a querida família Shapiro de Itú!

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