terça-feira, 12 de maio de 2020

Memórias da comunidade judaica de Sorocaba


O Prof. Jaime Pinsky, Doutor e Livre-Docente pela USP, e diretor da Editora Contexto, nasceu e cresceu em Sorocaba. Conversamos no início de maio de 2020, quando Prof. Jaime relatou alguns detalhes sobre a comunidade judaica da cidade, na época em que a sinagoga da R. D. Pedro II ainda estava ativa. Filho de sra. Luiza e sr. Abrão, e irmão de Cecília, Moisés e Isaac, Prof. Jaime apresentou a questão de como a comunidade conseguiu se manter coesa e quais eram os valores desta, considerando que na cidade não havia uma escola judaica de educação formal, nem um cemitério judaico. Comentou sobre o papel que a sinagoga exerceu neste caso, mas enfatizou a importância do grupo feminino da comunidade judaica de Sorocaba na organização desta. Este grupo, sempre presente, era responsável pelas festas, eventos e festividades (exceto na condução das rezas), e mantinha a união da comunidade. O grupo fazia parte, também, da entidade Wizo.

Professor Jaime morou em Israel no ano de 1962 e, ao voltar a Sorocaba, foi professor de hebraico em 4 “turmas” de idades variadas, inclusive para as senhoras. Lembrou-se da sinagoga, que ocupava, no dia-a-dia uma sala pequena, e um amplo salão em Rosh Hashana e Yom Kipur. O espaço do salão da sinagoga, durante o ano, era ocupado de forma laica, nas reuniões e festas diversas que ocorriam, nas atividades dos jovens e crianças, o que demonstra, de alguma maneira, como o tradicional/religioso pôde lidar com o moderno. Isto também ficou evidente quando da fundação da sinagoga e início de sua construção, nos anos 1950, somente 5 anos após o final da Segunda Guerra Mundial. Muitos dos sobreviventes do Holocausto chegaram ao Brasil, alguns rumaram para Sorocaba, desesperançados, em busca de familiares. Chegaram em um momento onde a comunidade judaica da cidade já estava estabelecida e integrada, de alguma forma, à sociedade como um todo, há um bom tempo. Estes imigrantes exerceram um papel de resgate e, também, de recordação das tradições, uma lembrança para a comunidade judaica de que eles “precisavam se resguardar”, se manter unidos como uma comunidade, não perdendo a sua identidade. O mesmo ocorreu no momento da Proclamação de Independência do Estado de Israel, em 1948, reforçando a necessidades de todos se manterem como grupo.

Prof. Jaime apresenta, em alguns de seus artigos do site http://www.jaimepinsky.com.br/ , situações ocorridas em sua família, em Sorocaba, como em “Meu primeiro feijão”: “... Na casa dos meus pais, em Sorocaba, havia feijão com arroz, quase todos os dias. A exceção era nos finais de semana, aos sábados, um prático arroz de forno e aos domingos um eclético macarrão com frango. Como meus pais pertenciam a famílias judaicas da Europa Oriental, eu me perguntava como é que nossas refeições tinham um perfil tão brasileiro...” 

Para conhecer um pouco mais sobre a origem da família, vejam o texto “Uma família como muitas outras” (Correio Braziliense): “Há 90 anos, no dia 28 de março de 1927, aportava Rio de Janeiro o navio Mosella, de bandeira francesa, pertencente à Companhia Sud Atlantique...” 


Em relação à Sorocaba, a Enciclopédia Judaica (vol.3, pag.1118, Ed. Tradição S.A., 1967, Rio de Janeiro) reforça algumas informações já disponibilizadas: “Sociedade Israelita Brasileira de Sorocaba (Sã Paulo). Nesse centro comunitário, com sede na Rua D. Pedro II, 56, os judeus sorocabanos encontram um local adequado para a manutenção dos laços tradicionais. Aí funciona a Escola Israelita Brasileira de Sorocaba.” Alguém tem alguma informação sobre esta escola? Existia com este nome?

Você ou sua família faz ou fez parte das comunidades judaicas da cidade de São Paulo ou do interior paulista? Alguma memória sobre as sinagogas das cidades do Estado de São Paulo? Possui fotos, documentos, histórias a compartilhar? Escreva para myrirs@hotmail.com .

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