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Aron, Cila(Cipa) e Oscar Barlach (foto de Lisete Barlach) |
Quando o navio aportou em Santos, vindo da
Europa, eles souberam que permaneceriam ali por muitas horas antes que
seguissem para Buenos Aires, seu destino final.
Malka propôs, então, a seu marido Shmuel um passeio pelo porto onde, ao longe, via
algumas lojinhas e algum movimento de gente.
Cismou que aquela loja era de “patrícios” e
puxou o marido para entrar. Em ídiche, confirmou sua hipótese e logo, num papo
animado, perguntou ao dono da loja se conhecia “Fulano, que tinha vivido no
mesmo local que eles e hoje morava em São Paulo”.
Era como se, estando na Europa, alguém,
sabendo-me brasileira, perguntasse se eu conhecia fulano... entre 200 milhões
de habitantes...
Não é que o cara conhecia? E mais: era seu fornecedor.
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Aron, Cila(Cipa) e Oscar Barlach (verso da foto) Texto em alemão...quem pode traduzir? (foto Lisete Barlach) |
Pegou o telefone (uau, ele tinha telefone!),
pediu à telefonista que ligasse para um certo número, e, pasmem, horas depois
esse “fulano”, que havia tomado um táxi de São Paulo ao porto de Santos, se
materializou ali.
Papo vai, papo vem (e não deve ter sido tão
longo assim, visto que o navio tinha hora para partir para a Argentina), a
Malka resolveu ir para São Paulo ao invés de seguir viagem.
O amigo (o fulano)
disse que seria fácil para eles conseguirem emprego e moradia e, como ele já
trabalhava numa empresa (que depois veio a ser conhecida como Klabin) e o
Shmuel poderia trabalhar ali, a Malka, o marido e a pequena Sara decidiram voltar com ele a São Paulo, não sem antes avisar à sua irmã, Cila,
que descarregasse os baús em Buenos Aires e os despachasse para ela.
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Foto de Lisete Barlach, autora do texto, em Israel |
Essa impulsividade de Malka determinou a vida
de muitos: da Sara, do Henrique (que
nasceu depois, no Brasil) e da Cila, do Aron, do Oscar e do Uri (que também
nasceu depois no Brasil), pois a Cila detestou a Argentina e acabou
pressionando o Aron para se reunir à família dela (irmã, cunhado e sobrinha)
que estava em São Paulo.
O Aron ainda permaneceu em Buenos Aires por um
tempo. Era mestre de obras e queria “juntar algum dinheiro” antes de vir para o
Brasil. Mas a Cila e o Oscar, seu filho, se anteciparam e, já em São Paulo, se
instalaram no bairro do Bom Retiro, iniciando uma história longa e interessante
que será contada mais adiante.
Por ora, vale observar que Aron era chamado de
Bernardo e até hoje ninguém conseguiu me explicar por quê. Eu só descobri que o
nome dele era Aron quando, muitos anos depois, pude ler, em hebraico, seu nome
na lápide de Oscar, meu pai.
Já em Sampa, como mestre de obras, ele “pintou”
o túnel do Anhangabaú, fato que era relatado em diferentes momentos em que
passávamos por ali ou quando nos referíamos à vida dele. Muitos anos depois, o
Henrique (tio Henrique?) comentou que ele havia também pintado o teto da
Beth-el, o templo em que Oscar e Rosinha se casaram, hoje um museu judaico em
São Paulo.
A Cila era chapeleira, confeccionava e vendia
chapéus para a alta sociedade judaica de São Paulo. Era também costureira e sua
máquina de costura, tão usada, tão singular, e tão representativa de sua
pessoa, ficou com a minha prima Elisabete, filha do Uri, irmão do meu pai. A
Bete, que hoje se percebe tão parecida com a dona Cila (como todos a chamavam),
é herdeira de todas as vivências com ela, tanto suas “rabugices” quanto suas
histórias e talentos...
Lisete Barlach encaminhou-me o texto acima, relacionado à família de seu pai, ao conversarmos sobre a história de sua família por parte de mãe, que morou em Araraquara...
Direitos autorais do texto e fotos: Lisete Barlach.
Você gostaria de ver a história de sua família, que faz parte da história das comunidades judaicas das diversas cidades de São Paulo, e das sinagogas destas, publicada neste Blog? Então, encaminhe-me um e-mail: myrirs@hotmail.com
4)Sara, ao casar, tornou-se Zyngerevitch