Sr. Moises Goldflus, os pais e o irmão |
Nesta
segunda-feira, 26/12/2016, por indicação do Heitor Goldflus, pudemos, David e
eu, conversar com o sr. Moises e a sra. Dora, pais do Heitor. Em uma tarde
agradável, sr. Moises contou-nos que nasceu e cresceu no bairro do Brás, mais
exatamente na Rua Coimbra. O pai trabalhava como Klienteltchik, principalmente
na Vila Maria Alta: comprava a mercadoria, cobertores, no Bom Retiro e, com sua
charrete, vendia os produtos de casa em casa. Ajudou, inclusive a trazer
familiares da Europa, que também trabalharam como Klienteltchik. A língua “oficial” na família era o idisch.
Os pais de sr. Moises Goldflus |
Sr. Moises estudou o curso primário na Escola
Luiz Fleitlich, frequentada pela comunidade judaica da região, tanto dos
ashkenazim vindos da Europa, como da comunidade judaica proveniente da Síria, comunidades
que interagiam e estudavam na mesma classe. Lembrou inclusive das famílias Mizrahi e
Amar. Algumas famílias morando na Moóca, na Rua Mem de Sá, alguns no final da
Rua Bresser. Já o curso ginasial, Sr. Moises fez no Caetano de Campos e o
cientifico, no Roosevelt. Depois disto trabalhou com um tio que já morava no
Bom Retiro. Após um tempo, montou o próprio escritório.
Fez o Bar-Mitzva na
Sinagoga do Brás, em uma cerimonia simples, “muito pobre”, como diz, contou que
o pai não possuía condições...a mãe era muito doente, eram humildes, mas muito decentes
sempre.
Familia de sra. Dora, (esposa de Sr. Moises) |
Comentou que a comunidade do bairro era grande, inclusive o salão de reuniões
e baile era na própria sinagoga, mas não era “tão frequentado”, a maioria dos
jovens ia para no Bom Retiro: “Pegava o bonde, fazia os passeios e
namorava...sempre no Bom Retiro, a maior comunidade estava lá”. A comunidade do
Brás não era muito religiosa. Como sr. Moises fala, “faziam as lições de casa
como religião”. Inclusive o pai, frequentava a sinagoga do Brás, ficava com as
chaves, cuidando da sinagoga. Depois o pai foi morar no Bom Retiro, uma irmã da
mãe do sr. Moises morava no bairro..
Lembrou que a
família Liberman que também cuidou do Shil. Havia o comércio das famílias que
vieram da Europa, porém os filhos, através do estudo, seguiram caminhos
diferentes.
“A sinagoga, com o tempo, foi decaindo. Talvez ainda haja famílias judias no
bairro, não sabe...” Quando casou (está
casado há 53 anos), já havia saído do Brás, assim como o irmão...já moravam no
Bom Retiro.
O pai, em Yom
Kipur e Rosh Hashana, ficava na Sinagoga do Brás, mas o sr. Moises e seus amigos
não se interessavam muito, preferiam ficar na rua, conversando...
A sinagoga não possuía
lugar marcado, nem se pagava para frequentar. Afirma que, pelo que sabe, quem
construiu a sinagoga foi o sr. Luiz Fleitlich, o mesmo que construiu a escola,
mais ou menos na mesma época. A sinagoga, em si, funcionava na parte superior de
um edifício, com acesso por escadas laterais, e um salão de festas ocupava a área
inferior deste, semelhante à Sinagoga do Cambuci.
Frequentou o Hashomer
Hatzair, no Bom Retiro, e o Avanhandava...foi escoteiro, lobinho, as reuniões
eram em sua casa, na Rua Coimbra. "Era uma alegria”, afirma. Jovens do Belém,
Moóca, Brás, Penha. “Sr. SilvioTarnovscki era da Penha”. Lembrou também de sr. Adolfo
Rosenberg. Na época em que o sr. Moises morou no Brás, muitas famílias já tinham se estabelecido no bairro, abrindo lojas, inclusive na Av. Celso Garcia, vendendo bolsas, malas, roupas, moda para
mulheres.
Em nossa
conversa, comentou que não sabe se ainda há famílias judias no Brás. Ficou surpreso
quando contei que ainda são feitas as rezas de Shabat na Sinagoga do Brás,
organizadas pelo Sr. Simão Priszculnik.
Não guardou
fotos da sinagoga, porem disponibilizou algumas fotos, aqui publicadas... Sr. Moises lembra
que foi “um tempo bom a época em que morou no Brás, uma época que não volta
mais, mas que fica na memória...” E a memória de
sr. Moises é surpreendente!